segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Dos medos...

... ou: post-terapia

Tenho pânico de duas coisas banais: dirigir e voar. O medo de dirigir foi causado por um estresse pós-traumático: em 2004 fiz uma conversão proibida por distração e me envolvi num acidente cujo saldo foi perda total dos dois veículos envolvidos, mas felizmente nenhum ferido. O medo de voar eu tenho desde 2001, quando voei pela primeira vez. Assim que o avião decolou, fiquei assustadíssima. Estava sozinha (digo, sem ninguém conhecido), olhava para os lados e tentava me tranquilizar imaginando que se todos estavam calmos, era porque as coisas funcionavam daquele jeito mesmo.

Pelo menos superficialmente consigo identificar os motivadores dos meus medos. Ao dirigir, o problema é estar no controle de algo que, se mal conduzido, pode matar (o carro no qual colidi quando fiz a tal conversão proibida transportava um pai e seu filho de uns 18 meses sem cadeirinha especial). Sinto que não dou conta dessa responsabilidade imensa e entro em pânico. Pelo andar da carruagem, vou ter que fazer terapia, ou no mínimo aquelas aulas especiais. Como não é prioridade agora, tá aqui na lista de coisas a serem resolvidas no futuro.

Com o avião, o problema é exatamente o oposto. Entrou lá, fechou portinha, cabô. Controle nenhum. Nada tá na minha mão. E se alguma coisa der errado (ok, eu sei que pra um avião cair mais de uma coisa precisa dar errado), a chance de morrer é enorme. Eu tinha uma esperança de que este medo fosse causado só pela total falta de intimidade com a coisa. Mas já voei algumas vezes nestes últimos 10 anos e não passou. Na minha ida a Brasília, fiquei muito nervosa na decolagem, mas no decorrer do vôo me tranquilizei. Na volta, tentei ao máximo relaxar. Quando estava quase conseguindo dormir, uma turbulência sacudiu o avião sofri muito pensando que tudo tinha sido tão lindo, mas queria ainda poder encontrar meu marido e voltar pra minha casa.

Daí que me caiu a ficha de algo quer pode justificar meu medo: culpa. Culpa de ser feliz pra CARÁLEO. É como se algo lá no fundo me passasse a conta de tanta felicidade, sabe? Porque eu tive um final de semana incrível e a oportunidade de encontrar pessoas muito amadas. Além da Ma*, sobre quem eu já falei aqui e sua família incrível, teve a Bia, a melhor anfitriã da terra, o César, queridão até não mais poder, a Lu, com quem já tenho uma relação de amor presencial muitíssimo consolidada, a Dani, com quem interajo na internet há tempos, a Rita, que fez um bate-e-volta só pra nos prestigiar e a Mari, que foi quem nos motivou a fazer a viagem (afinal, pra Brasília não precisa de visto, já pra Chicago...).

Depois deste final de semana lindo, achei que era pedir demais que meu time fosse campeão, até pra amenizar a dor da torcida que perdeu um ídolo cujo valor vai muito além do talento no futebol. Mas bem, ganhamos. Daí só faltava mesmo, mesmo, mesmo, pro mundo ser perfeito, desembarcar em segurança e dar aquele abração no companheiro mais bacana do mundo (sério, pelo abraço parecia que estávamos há umas duas semanas longe um do outro). E, beleza, cheguei, abraço ganho. Como pode tudo ser tão lindo?

Então é isso. Cada vez que eu estou num avião penso que nunca mais vou fazer isso comigo e vou desistir definitivamente dessa história de voar. Mas a vida me mostra que vale muito a pena enfrentar o medo. Até porque, ninguém vive pra sempre. Se para o azar das probabilidades um dia eu estiver num avião que cismar em cair, pelo menos vivi bem pra caramba.




Obrigada, SUAS LINDAS, por fazer valer a pena!

* Quando escrevi este post sobre ela em 2010, ela vivia na França. A Dani, que vivia em Angra e a Rita, que mora em Florianópólis, comentaram na época. Menos de 1 ano e meio depois, estavam todas almoçando na mesma mesa. Coisa boa.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Sorte a sua que é perseguida por um bonitão

Passou o dia da Blogagem Coletiva. Mas violência contra a mulher, e discurso que a endossa, tem todo o dia, né? Infelizmente.

Então, eu gosto de novela. Gosto mesmo, já escrevi sobre a misoginia nas novelas aqui e aqui. E acho que quem quer entender o país precisa pelo menos passar os olhos nelas, porque são o produto de ficção mais consumido pela população. Claro, não têm a mesma importância que tinham há 20 anos, mas para parte expressiva da população o passatempo principal é esse, ver televisão. Como eu já contei também, não tenho saco de ficar lá assistindo. Dou uma olhada nos sites, vejo alguns vídeos, e leio resumos. Daí esbarrei com isso hoje: http://finaestampa.globo.com/Vem-por-ai/noticia/2011/11/danielle-fraser-se-entrega-para-enzo.html

Olhem só, eu acredito mesmo que relações às vezes são mais complicadas do que discursos explícitos. E meu relacionamento só começou porque meu marido insistiu. Mas insistiu uma vez, com muito cuidado, dizendo, em outras palavras “tem certeza de que esse não é não?”. E bom, eu mudei de ideia. O primeiro “não” era só “não sei”. E ele me disse que se rolasse um segundo “não” ela ia embora. E ok, gente. Mas veja bem, a mulher dispensar o cara uma vez, ele ir atrás no trabalho dela, ela dispensá-lo de novo, e ele ainda assim agarrá-la, não é legal. Nunca, jamais, em tempo algum. Porque o que fica claro é que a palavra dela não é importante. Ele decidiu que ela precisa de homem. E é exatamente essa a lógica do estuprador. Ou do homem que “insiste” com a ex para voltar e passa a persegui-la no trabalho, na faculdade, na porta da casa da mãe. Ele ignora a opinião dela. Toda mulher quer ter um homem atrás dela – então porque não ele?

Eu sei, as pessoas dizem que isso não é importante. Que enquanto estou falando de novela tem gente morrendo por aí. Mas acho que cenas assim são emblemáticas de quanto o nosso discurso é menosprezado. Nosso “não” não é levado a sério, já que somos incapazes de dizer com clareza quando estamos afim de sexo de verdade. O sexo é algo que o homem extrai à nossa revelia, uma concessão, boas moças não dizem com todas as letras que querem transar. Cabe aos homens baterem com o tacape na cabeça e arrastá-las pra caverna. Se ele for bonitão, filhota, tirou a sorte grande. Reclama não, você tava mesmo precisada.

domingo, 20 de novembro de 2011

Da (in)visibilidade

Sou graduada por uma universidade pública em um curso não necessariamente elitista (porque voltado para a formação de professores) e noturno. Ainda assim, tive pouquíssimos colegas negros. Em meu primeiro dia aula na pós-graduação, em um curso lato sensu numa universidade privada, me chamou a atenção ter cerca 5 ou 6 alunos negros numa turma de 35 pessoas. Estava sendo exposta a uma diversidade que nunca havia encontrado nem na escola nem em nenhum ambiente de trabalho. E achei bem bacana.

Mas foi uma sensação que durou pouco tempo. Nada de errado com a pós, tudo de errado com todo o resto. Se ter 20% de colegas negros na turma era um fato excepcional o suficiente para me chamar a atenção, estava ali, na minha frente, a prova da segregação social. Não que eu não soubesse disso. Não que eu não estranhasse essa ausência. Mas a gente tende a normatizar a barbárie como parte da civilização.

Quem tem o mínimo de boa vontade pode até reconhecer que esta é uma sociedade racista, que os negros estão excluídos, que nas classes privilegiadas são minoria da minoria da minoria. Mas, ao mesmo tempo, a homogeneidade pode passar pouco notada quando a gente se acostuma a ela como regra. A gente não estranha mais. Daí a minha profunda tristeza é assumir que classifiquei positivamente uma situação que na verdade era só menos injusta. E eu acho o Dia da Consciência Negra importante por isso, pra gente não se esquecer de que há um problema sério, e esse problema não é dos negros. É um problema da nossa sociedade, cruel, doente, que naturaliza a segregação.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Preguiça

Não só de atualizar o blog – preguiça de gente. Não de todas, mas daquelas que vem com as ideiazinhas e com os preconceitos bem prontinhos e não estão afim de debater nada. Gente que acredita no roteirinho da Veja e do Jornal Nacional todinho, sem tirar nem pôr. Gente que acredita que - empresto a ideia de algum post que li nos últimos dias - o mundo é feito em programação binária, 1 e 0. Nada no meio. Nenhuma possibilidade intermediária.

Tem uma propaganda da Coca-Cola que me irrita um tanto. Já tinha pensado em fazer um post sobre ela e tal e não fiz, mas agora cabe evocá-la. A história de “os bons são maioria”. Ela diz que para cada x corruptos há xxxx doadores de sangue – veja você, os bons são maioria. Não, nunca, jamais, em tempo algum, um corrupto doou sangue. E nenhum doador de sangue subornou o guarda na blitz da lei seca.

Que discurso publicitário seja simplista assim até entendo. Mas que as pessoas comprem isso e levem pra vida, não dá. Então, é ridículo demais gente falando em “fica fumando maconha enquanto deveria estudar”, porque essas coisas não são excludentes. É perfeitamente possível ser consumidor eventual de maconha e ser um estudante dedicado, tanto quanto é possível ser um excelente pai de família tomando seu whisky depois do trabalho ou uma excelente mãe de família que toma rivotril pra dormir (ou ser uma pessoa excelente que não tem família, mas deixa quieto). Porque ninguém é uma coisa só nessa vida.

E este é só um dos temas irritantes. Tem outros tantos. Como a crítica raivosa ao auxilio reclusão pra família de detento, que é exclusivo, vejam vocês, de quem foi preso e tinha carteira de trabalho assinada (ou contribuía pro INSS como autônomo). Porque a dicotomia bandido x trabalhador também é falsa. Mesmo pessoas que acordam cedinho pra trabalhar cometem crimes. Aliás, grandes criminosos costumam ser ocupadíssimos. Isso pra nem entrar no mérito de quanta gente é presa injustamente. Enfim, milhões de possibilidades para se estar preso, milhões de combinações entre caráter x trabalho x crime. Tem pais dedicados, filhos atenciosos, que enchem a cara e atropelam e matam alguém. Tem mães dedicadas que abortam justamente para serem dedicadas só com os filhos que já tem. Tem médico que salva vidas todo dia, mas desvia dinheiro público. E todo esse pessoal pode não ser preso, mas o ladrão de galinha ser condenado. Então, só posso ter preguiça de gente que repete que bandido bom é bandido morto.

Mas continuo. Porque eu votei na Dilma nas últimas eleições. E O HORROR, O HORROR. E PT O PARTIDO MAIS CORRUPTO DO BRASIL! E olhem só, tem gente corrupta no PT, apesar dos caras terem durante anos terem reivindicado pra si o monopólio da virtude. E não, votar no PT não significa que eu ache essa questão irrelevante. A questão é: ser corrompido não é privilégio deste ou daquele partido. Acontece com integrantes de todos os partidos que estiveram no poder - com todos os partidos mas não com todos os integrantes, claro. Inclusive com o partido do seu candidato. Porque a corrupção é sistêmica, ela é mais grave do que isolar esse ou aquele safado/ladrão/bandido/_____ (preencha aqui o adjetivo negatico de sua preferência). E pouquíssimas vezes nessa discussão se menciona que, para que haja corrupto, tem que haver corruptor. E que se você já subornou guarda, inventou recibo falso pra ter desconto no imposto de renda ou tem carteirinha de estudante falsa pra ter meia entrada, você não tem lá muita moral pra botar dedo na cara de corrupto. Então repito, não endosso corrupção. E quando voto no PT (nem sempre) não significa que eu seja petista (o que não acho demérito, mas não é o caso) ou endosse tudo o que fazem. Significa só que, entre os projetos disponíveis, achei aquele o melhor (ou menos pior, mais provável). E sim, por vezes passo tanta raiva quanto você que não votou neles (principalmente quando Aldo Rebelo é promovido a ministro). Mas considerando que você sabe que política não é uma ciência exata, que nela as coisas são muito dinâmicas, que alianças são feitas e desfeitas, partidos criados, e que opositores hoje podem dar as mãos amanhã (você sabe de tudo isso, né? ah bom), pare de repetir que quem vota no PT é ignorante ou compactua com a corrupção. Fazer isso é desconsiderar a possibilidade perfeitamente possível de outra pessoa ser honesta, inteligente, mas ainda assim ter uma visão de mundo diferente da sua. E sabe como é, intolerância não traz nada de bom para o mundo.

Mas todo esse discurso não significa que eu relativize tudo. Não significa que eu não tenha meus valores inquestionáveis. Mas eles podem não ser os seus, e a gente conseguir conviver bem apesar disso, sempre e quando eles não se chocarem - e, eventualmente, até quando eles se choquem. E podem ser até que nossos valores sejam os mesmos, mas que as soluções encontradas para conciliá-los com um mundo imperfeito não sejam as mesmas. Várias possibilidades aí. Mas a boa convivência só vai ser possível se a gente tentar ouvir o que o outro tem a dizer antes de colar na testa o rótulo de “maconheiro”, “vagabundo”, “ignorante”, “vadia”. Então, pensa um pouquinho antes de ficar reproduzindo preconceitos por aí, tá? Por favor.

UPDATE: O diacho da propaganda da Coca me irrita tanto que eu já tinha falado dela. Aqui: http://foifeitopraisso.blogspot.com/2011/06/da-necessidade-de-ter-opiniao-pra-tudo.html

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Continuando

Daí fiz um post no Blogueiras Feministas que tinha tudo pra ser só tapa buraco (e na verdade era, tava substituindo outra autora na última hora). Mas houve uma polêmica com um comentarista. E surgiu a Mary W pra ajudar. Ajudou muito. Não vou repetir aqui, vai lá.

Resumidamente, o Vinícius acha que se estou aderindo a construção social de feminismo, estou aderindo à hierarquização, logo não posso me autodeclarar feminista. E tive muita dificuldade de entender do que ele estava falando, porque ressignifico o feminino. Não acho que tenha que me oprimir. Eu brigo com olhar normativo, não com o feminino. E ele diz que não é feminismo, então. E eu acho que pode ser sim, qual é o problema? Por que essa é a régua do feminismo? Então a Mary W já tinha colocado essa preocupação dela, de colocar tudo e qualquer coisa sob o guarda-chuva do feminismo. E eu concordo. Tentei dizer isso mais ou menos neste post, que não dá pra dizer “tô feliz assim” e seguir a vida quando a gente se posiciona politicamente. Mas lentamente a ficha tá caindo mais e mais.

Porque o que ocorre é que a gente tende a pensar individualmente. E individualmente, sou muito bem resolvida com a dita “ditadura da beleza”. Vejam bem, sou uma pessoa que sai de casa maquiada, mas não tem escova de cabelo. Não, não é que eu não tenho secador, chapinha, etc. Não penteio o cabelo. Tô geral descabelada em todas as fotos. E tenho um trabalho careta e tal. Então nem me sinto obrigada a me maquiar também, faço porque gosto e quando quero. Individualmente, escolho quais as coisas desse pacote mulherzinha topo ou não topo com muita tranquilidade. Mas veja bem, quando vou à manicure e me apresento por aí com as unhas pintadas tô reforçando o discurso de que isso é o que se espera de uma mulher apresentável. E sobre isso, não tenho controle mesmo. Não posso garantir como essas unha feitas vão ser apreendidas. E se me identifico politicamente como feminista, pode ficar entendido que “olha, até feminista faz a unha, viu?”.

Já tinha entendido a questão do posicionamento político, também com atraso, quando houve uma discussão polêmica na lista em relação ao serviço doméstico. Porque no final das contas, não interessa o quanto eu pague - e se posso pagar muito bem, é porque existe uma diferença social impactante que me permite dispor dessa quantia, mas nem vou entrar nesse ponto. O que interessa é que quando contrato uma mulher pra fazer o serviço da minha casa estou reforçando dois discursos: 1) de que isso é tarefa que cabe às mulheres, 2) que é perfeitamente aceitável que haja uma classe social que não faça seu próprio serviço doméstico, e outra que faça pelas duas. Porque eu não vivo num país em que os estudantes fazem faxina pra se manter, mas num país onde quem faz faxina em geral não teve oportunidade de estudar. Então, individualmente, dentro da minha casa, as relações podem nem ser escravistas. Podem ser muito humanas e respeitosas. Mas tô eu aí colaborando pra construção de uma noção de status que passa por ter alguém limpando sua casa.

Então, essa é uma preocupação importante. Porque não dá pra aceitar toda e qualquer divergência como válida, ainda que haja sim diversidade num movimento. E como estabelecer os parâmetros mínimos? E, o mais complicado, como fazer isso sem virar polícia ideológica? Porque a gente brinca com isso da “polícia feminista”. Posicionar-se politicamente implica em ter suas posições e escolhas (pessoais, inclusive) cobradas (em público, inclusive). Daí o comentarista lá no BF tem um blog e eu entrei. E num dos posts ele tá desautorizando o discurso de uma mulher que se dizia anticapitalista e feminista, mas estava com a unha pintada de rosa. E acho equivocado demais. Porque se por um lado a gente não pode aceitar tudo, por outro acho que há um prejuízo muito maior em sair desautorizando geral. E não vejo que ganho enorme é esse que a gente tem desqualificando por questões menores. Acho bem autoritário, e desconsidera possibilidades libertárias de ressignificação.

Sobre ressignificação e suas possibilidades, me lembrei de um caso clássico: a monogamia. Que é invenção patriarcal imposta às mulheres e hoje, em círculos menos machistas, a gente consegue dar outra cara pra ela. Não é uma questão de ingenuidade, de achar que todo mundo cumpre o contrato, mas de maneira geral a gente entende que o contrato é para ambos. Ou somos monogâmicos como casal, os dois, ou não somos. Vai ter gente dizendo que não, não há essa possibilidade, todo e qualquer relação monogâmica envolve posse e é intrinsecamente machista, e só há igualdade de gêneros possível no relacionamento aberto. E apontar hipocrisia etc, etc. Claro, não é consenso. Mas acho mesmo que mudou a cara, que já não se naturaliza o privilégio masculino com a mesma força de 40 anos atrás.

Então, fica uma porção de dúvidas. Porque claro que não dá pra aceitar tudo, ressignificar tudo, até porque não há avanço sem choque. Mas onde começa a crítica pela coerência e onde começa a patrulha pessoal contraproducente? Quais são as divergências administráveis e quais as irreconciliáveis?

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Crônica

Maria e Ana são amigas. Ana namorava um carinha que era amigo de José. Daí José e Maria se conheceram num barzinho, aquele papo de colocar os amigos juntos e tal. José e Maria se curtiram, mas não se apaixonaram perdidamente. Rolou tesão e eles transaram. Não importa muito saber se esqueceram a camisinha ou se a camisinha estourou. Fato é que algumas semanas depois Maria descobriu que estava grávida.

Maria é católica praticante. E está desempregada. Mora com os pais conservadores. Mas como a imensa maioria das mulheres saudáveis, não importando a religião e a situação econômica e o estado civil, Maria tem tesão, ué. Antes de religiosa, desempregada, o que for, Maria é humana, como eu e você.

Maria sofre muito com a descoberta da gravidez. Sofre de culpa e de desespero. Contra a orientação de sua Igreja, resolve interromper a gestação. Mas Ana, sua amiga, não se conforma que José não seja minimamente implicado na história. Pega o telefone e liga pro moço. Diz que precisa conversar pessoalmente, mas ele enrola pra encontrá-la. Resolve então contar por telefone mesmo: Maria está grávida. Ele responde que “não quer casar com ela.” Ana pergunta: “que ano é hoje, Brasil?”. Não, José. Ninguém quer que você se case. Pra sua “sorte”, Maria provavelmente não levará a gravidez adiante. Mas você tem ser adulto e conversar com ela, porque o problema é dos dois. E ele responde que só vai se Ana estiver junto. Ela se irrita, diz que ele não precisou da ajuda dela pra gozar e bate o telefone na cara dele. José é um cara de 35 anos, e bem empregado, diga-se de passagem.

Maria tem a boa sorte de conhecer um médico de confiança que interrompe sua gestação com segurança sem lhe cobrar os olhos da cara. A gestação é interrompida, mas a culpa não. Ela sabe que, pra Igreja Católica, o que ela fez é digno de excomunhão. Ana é espírita. Quer aliviar o sofrimento da amiga, mas sabe que em sua religião vão dizer que este será um carma que ela vai carregar para o resto da vida. Daí elas conhecem uma moça que frequenta a Igreja Universal do Reino de Deus. Torcem o nariz no início, mas o sofrimento na alma de Maria é grande, e ela sente que não tem mais nada a perder. Lá ela conta sua história ao pastor, que a acolhe. Diz a ela que o que ela fez é pecado, mas Deus entende que ela agiu segundo o desespero, porque humanos e pecadores somos todos. Que Jesus diria “vá, e não peque mais”. A vida continua irmã, Jesus não quer que você sofra assim porque ele te ama mesmo em seus pecados. E Maria finalmente volta a sorrir, aliviada.

A história acima é real, só os nomes foram trocados. Sei que José não foi capaz de dar um abraço e oferecer ajuda (inclusive financeira, porque não) a Maria, como se essa gravidez indesejada fosse só dela. Sei que Ana e Maria não tem nada de feministas super libertárias, são mulheres bem conservadoras, que não concordam com a maior parte das minhas opiniões. E sei que o discurso da Igreja Universal tem sido nessa linha, não de aprovação do aborto, mas de acolhida às mulheres. Dexiando claro aqui meu ateísmo e nenhuma simpatia pela Universal, mas fico sinceramente aliviada de saber que existe algum lugar que acolha uma mulher cristã nessa situação tão triste.

Este post é parte da Blogagem Coletiva do Dia Latinoamericano e Caribenho pela Descriminalização e Legalização do Aborto.

domingo, 11 de setembro de 2011

Auto censura

Daí acordei domingo sozinha em casa, entendiada, e resolvi entrar no Facebook. Por isso, talvez este blog passe a ler lido por mais pessoas que me conhecem na "vida real". Talvez não. Na dúvida, como tenho contas a pagar e máscaras sociais a portar, alguns posts e seus comentários foram deletados. Não me julguem. -(ou julguem, tô cagando)-.

Se você é alguém que me conhece de fora, chegou aqui pelo Facebook e leu alguma coisa no arquivo que te incomodou, só lhe resta imaginar o que estava escrito nos posts que eu deletei. Mas eu dou uma pista: sempre falei mal de gente conhecida aqui. SEMPRE. Como diria a finada, "you know I'm no good".

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Dos mitos e dos esclarecimentos

Oi gente. Tô viva. O blog tá vivo também, embora hiberne de tempos em tempos. =)

O povo lá do Blogueiras Feministas chamou uma postagem pra desmistificar o feminismo, como uma campanha de esclarecimento mesmo, e eu achei que valia a pena dar uma passadinha por aqui. Muita gente boa já escreveu pra blogagem, corre o risco de eu ser repetitiva, mas beleza. O importante é que, pra desfazer mal entendidos, eu escolhi dar a minha visão do feminismo. Que, tenho certeza, é compartilhada por outras pessoas, mas tá longe de ser única, justamente porque somos muitas e este é um movimento bem plural.

Seguinte: feminismo não é dogma. Não é cartilha. É na verdade, além de um movimento social, uma filosofia, uma maneira de olhar o mundo. Por isso me dizia feminista antes mesmo de ter lido qualquer coisa específica sobre o tema, já que reconhecia a existência de uma desvantagem social em ser mulher. Muitas dessas desvantagens são construções culturais que costumam ser naturalizadas com um “mas as coisas são assim!”. Partindo do pressuposto que se “mas as coisas são assim” fosse um argumento válido, a humanidade não teria nem criado a roda, tem que ver isso aí. Digo que sou feminista porque tô afim de analisar e discutir a condição feminina na sociedade. O que não me obriga a concordar com tudo o que outra feminista diz. Tá cheio de feminista por aí com a qual concordo em muita coisa, mas discordo frontalmente em mais ainda. E é complicado, sabe, porque as pessoas tendem a olhar pra gente como coletivo e colocar todo mundo na mesma caixinha.

Mas nem é esse o principal problema, na verdade. O complicado é preencher a frase “você é feminista, logo___” com um estereótipo qualquer. E sabe qual o problema dos estereótipos? Eles no geral, não são mentirosos, mas tendem a ser muito limitados. “Você é feminista, logo não usa maquiagem” pode ser muito válido. Há feministas que não usam maquiagem não só porque não querem, mas porque vêem a exigência social das mulheres usarem maquiagem como uma opressão. E concordo também que exigir isso das mulheres é uma exigência social bem sexista com nossa aparência. Mas uso porque gosto e quando quero, não porque me sinto obrigada.

“Ah, mas então se eu gostar de tudo na minha vida, não tenho porque ser feminista, né?”. Não, não é por aí. É preciso sair do lugar comum. É preciso ao menos questionar suas escolhas, tentar entender o porque você gosta de algo, principalmente se sustentar este gosto te traz problemas. Nossos gostos não são inerentes, mas resultados de uma construção cultural, e não há nada de errado com isso. O problema é quando nossas escolhas nos oprimem, nos fazem sofrer, e a gente não se dá conta disso. Daí entra o feminismo. Não pra dizer que “feminista não usa batom”. Mas pra te alertar que se você perde minutos preciosos de sono toda manhã pra se maquiar porque se acha feia, talvez se maquiar não seja exatamente uma escolha. E que se você não tem dinheiro pra voltar de táxi e é obrigada a aceitar carona com aquele cara pegajoso porque sua grana foi gasta na cabeleireira e na manicure pra ir pra balada, talvez você esteja refém do papel social que está desempenhando.

Então o problema não é se casar, ficar solteira, ter filhos, não ter filhos, se maquiar, se depilar, sair peluda de casa ou o que quer que seja, assim, isoladamente. A questão é questionar o porquê certas construções sociais resultam em desvantagem pra gente e buscar soluções pra isso. As feministas e seus estilos de vida serão diversas justamente porque lutamos por um mundo mais diverso, mais rico em experiências e possibilidades para todas as mulheres, incluindo aquelas que optam por caminhos mais conservadores.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Sobre criticar pessoas e criticar discursos

Lá vou eu. Pulando de cabeça na polêmica-mamilos sem bóia. Fui.

Seguinte. Myriam Rios, ex-celebridade, ex-namorada do Roberto Carlos e atual deputada estadual pelo RJ, falou aquela tanto de besteira na assembléia legislativa de seu estado. Associou homossexualismo a pedofilia. Daí, neste contexto, uma porção de gente foi procurar as fotos sensuais que ela fez mileanos atrás (algumas de antes de eu nascer) para denunciar a sua hipocrisia e seu falso moralismo. Outros não perderam a viagem e resolveram chamá-la de puta. Bom, a Conceição Oliveira fez parte do primeiro grupo. E eu discuti o assunto com ela no twitter. Como o espaço limitado lá dificulta bastante debater o que quer que seja, resolvo trazer a discussão pra cá.

O post no Maria Frô traz algumas fotos da Myriam Rios e se dirige “aos moralistas de plantão”. Termina com a pergunta: “Moralistas cristãos de plantão que aplaudiram as bobagens ditas por Myrian Rios, vocês a contratariam como babá?”. E quando uma leitora a indaga sobre o porque recuperar essas fotos, ela responde assim:

“Quanto a mim, destaquei as fotos, porque considero que o discurso falso-moralista e detrator de Myriam Rios não orna com a sua prática. Para os moralistas de plantão, 'boas mães cristãs de família' não posam nuas em revistas masculinas, ou posam?”

Sou da turma que pensa como a leitora Ana Paula Guedes, que se incomodou com o post. E meu argumento para a Conceição foi o de que não vejo porque seria incoerente posar nua 30 anos atrás e ser homofóbica hoje. Sobre essas fotos feitas 30 anos atrás podemos supor duas coisas: que ela se arrepende de tê-las feito ou que ela não vê problema algum nisso.

Pois bem. Vamos ao primeiro. É hipócrita desfrutar de sua vida, celebridade, beleza e juventude e, ao cair no ostracismo, virar fiscal de fiofó alheio? Ô se é. Mas a gente não sabe se foi isso que aconteceu. Porque o post diz: “é uma opção real decidir ser fotografada nua e cobrar por isso”. Mas o que a gente sabe é que nem sempre nessas situações as mulheres tem todo esse poder de escolher. Que esse “escolher”, pode ser até a página dois. Uma atriz mediana pode muito bem ter tido problemas financeiros, ter feito isso sem curtir porque precisava muito do dinheiro pra pagar os remédios da mãe doente ou [insira aqui qualquer outra situação dramática em que grana faz muita diferença], e hoje ficar realmente mal aos se lembrar que teve que se submeter a isso. Quer dizer, pode ter se arrependido porque ela não tava ali desfrutando a liberdade do seu corpo que agora o seu discurso quer negar. Talvez ela nunca tenha sido livre, até porque dizem que ninguém consegue oferecer o que não tem. Ou talvez ela realmente tenha mudado muito nestes 30 anos e não se reconheça nessas fotografia. Se é assim, lembrá-la disso com certeza é um ataque a ela. Mas seria um ataque eficiente ao seu discurso?

A Conceição no seu PS 2 se dirige a mim, explicando que para ela falsos moralistas para mim são aqueles que não seguem sequer o moralismo que pregam. E eu discordo aí, de novo, que a gente pode afirmar categoricamente que se trata de uma falsa moralista.

Vamos considerar agora que ela não se arrependeu de nada. Que apesar destas fotos serem antigas, ela faria tudo outra vez. Que acha lindo e tal. Não vejo contradição. Mulher posando nua pra revista masculina é algo super heteronormativo. Não ameaça em nada o status quo. Aqueles leitores conservadores a quem o post se dirige podem até ser realmente gratos pelos filhos terem tido a chance de bater uma punheta olhando uma moça tão bonita e garantir sua virilidade. E talvez sequer achem que não serviria para ser babá. Se ninguém mais concordar comigo, “Amar verbo intransitivo” tá aí pra não parecer que eu tirei isso da minha cabeça.

Enfim, não há nada de incoerente entre ter feitos aquelas fotos 30 anos atrás e ter este discurso hoje. O problema é ser homofóbico, ponto. Se a deputada tivesse saído direto do claustro das carmelitas descalças para tomar posse na Alerj, isso não tornaria seu discurso intolerante mais legítimo. Porque nada do que ela fez ou possa ter feito no passado conseguiria isso. E acho que quando a gente começa a discutir a pessoa, tira o foco do que realmente interessa neste caso. A Conceição em nenhum momento usou adjetivos machistas para qualificar Myrian Rios, mas hoje testemunhei gente buscando “material” para construir sua detratação misógina e o coleguinha de timeline dar o link do blog dela pra isso. Porque ela pode ter pensado crítica a uma mulher + foto sensuais = falsa moralista. Mas GERAL soma crítica a uma mulher + fotos sensuais = PUTA.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Da necessidade de ter opinião pra tudo

Escrevo um post abordando coisas diferentes com um ponto de intersecção pequeno e corro o risco de ser mal interpretada. Conto com a generosidade de você aí que está lendo pra me dar o benefício da dúvida caso algo soe mal.

Bom, começo com a propaganda da Coca-Cola, que me incomoda um tanto. Pra cada tantos corruptos existem tantos mil doadores de sangue. Os bons são maioria, etc. No mundo em que eu vivo, as coisas são mais complexas e como doar sangue é algo que se faz publicamente e ser corrupto é algo que se faz de maneira (geralmente) dissumulada, não dá pra afirmar categoricamente que quem faz um, não faz outro. Porque no meu mundo não tem nada que diga que um criminoso não seja capaz de uma generosidade. E acho que, no geral, cometer um crime, ou alguns deles, é só um aspecto da vida de uma pessoa. Não que eu não acredite que há serial killers psicopatas, pessoas que se dedicam a se dar bem em cima das outras como vilão de novela. Mas acho que, no geral, a maior parte das pessoas é capaz de coisas bacanas e de coisas mesquinhas. E algumas são capazes também de coisas horríveis. Meu critério para escolher com quem me relaciono é muito mais qualitativo (que coisas horríveis são essas) do que esse condicional bons x maus. Outro dia vi gente inteligente dizer no twitter que não existe gente mal caráter de esquerda. Que se for de esquerda “de verdade”, não é mau caráter. Sério, não posso com essas simplificações do mundo, gente.

Disso eu passo para os comentários de portais na internet. Porque quando noticiam um crime qualquer, o povo que se dedica a comentar nesses lugares curte muito ter uma opinião formada, como se tivesse a investigação tivesse sido concluída e @ comentarista tivesse tido acesso a todo o processo. Daí, maniqueísmo abunda, né? E eu me assusto com a leviandade que a internet propicia. isso de poder registrar sua opinião publicamente mesmo não sendo qualificad@ para tal. Erro que a gente pode cometer facilmente se não tiver o mínimo de cuidado.

Tento evitar ao máximo. Sou uma pessoa razoavelmente politizada, tenho um blog, gosto de dar opiniões, mas faço este esforço de não me manifestar assim, só pra marcar minha opinião. Porque tem coisas que eu não tenho condições de avaliar. Se blogueira X está brigando com blogueira Y e eu só sei do caso muito superficialmente, vou evitar ao máximo dar pitaco, pelo menos publicamente. Claro que eu sou humana, tenho minhas preferências e uma série de preconceitos. Mas tomo muito cuidado antes de fazer afirmações categóricas. Um exemplo bem concreto? Caso Battisti. Não sei o que pensar. Li um pouco a respeito, muito pouco pra me posicionar, pra saber qual é a do cara. E, olhem só, não acho que não ter opinião é um problema. Não tenho especial interesse em Relações Internacionais e isso não vai afetar a minha vida diretamente. Então, se alguém quiser me descadastrar do clube de pessoas pensantes por conta disso, não vou guardar mágoa.

Mas daí vem o ponto polêmica-mamilos deste post. Faço parte de um coletivo, as Blogueiras Feministas. Somos muito plurais e há bastante divergência interna. Tem gente lá que eu adoro, mas com quem não consigo concordar em (quase) nada. Até aí, tudo bem. Os posts no blog coletivo são assinados e quando não concordo com algo, posso ir na caixa de comentários discordar ou simplesmente deixar passar batido. Imagino que não é porque fulana do grupo pensa assim que geral vai concluir que eu, por ser do grupo, concordo também. Bom, e se concluir isso numa questão menos importante, beleza também. O fato é que eu não estou disponível pra entrar em todos os debates do mundo. E fico me perguntando até que ponto não estou sendo negligente quando eu não entro em todos os debates deste coletivo. Enfim. Vocês decidem.

*Agora o alerta: isso não significa, em momento nenhum, que estou desqualificando os debates, nem as pessoas que tem opiniões em questões que não me despertam interesse. Menos ainda que quem tem opiniões firmes em questões que eu ignoro é, necessariamente, maniqueísta. Por favor, vocês entenderam, né?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Mulheres e guitarras

Nunca tinha ouvido falar da Kaki King. Daí a Babi Lopes falou dela na lista e chamou a galera pro show. Fez até uma entrevista com ela.

Bom, a companhia era ótima, o preço era bom, e depois de ver o vídeo no youtube, não foi difícil decidir:



Garanto pra vocês que ao vivo é ainda mais bacana. E o mais legal é que ela é absolutamente low profile: minutos antes antes do se apresentar tava encolhida num sofá no Sesc Belemzinho lendo um livro pra passar o tempo.

A Kaki King foi a primeira mulher nomeada pela revista Rolling Stone como uma "guittar god(ess)". Daí ela me fez lembrar um outra mulher, vinda de um contexto completamente diferente, mas que também se destacou neste ambiente ainda tão machista que é o dos guitarristas:



Imaginem quanta mulher talentosa tem por este mundo tocando pra caramba, mas tendo que trabalhar duas vezes mais do que os homens pra ser reconhecida? Chato, isso.

sábado, 28 de maio de 2011

Por políticas mais eficientes para a saúde da mulher

Hoje, dia 28 de maio, é dia de blogagem coletiva pró saúde da mulher. Hoje é sábado, são 6:42 da manhã, eu tô de ressaca, tenho aula na pós, mala pra fazer e ainda vou tentar aparecer na Marcha pela Liberdade. Mas senti que, pra mim, era importante sair da cama mais cedo pra falar sobre isso.

Sim, nós feministas sabemos que homens e mulheres são diferentes biologicamente. Não precisamos de nenhum artigo pseudo científico pra reafirmar isso, porque , olhem só, vivemos um tsunami hormonal mensalmente. E isso acontece por conta da reprodução, que como eu já disse lá no meu post do Blogueiras Feministas, é um trabalho social. E mesmo quem nunca se interessou por ter filhos, está sujeita a problemas de saúde relacionados ao sistema reprodutivo.

Então, como não vou conseguir elaborar muito, deixo um link para um blog sobre endometriose. A jornalista Caroline Salazar tem um blog em que expõe de maneira muito corajosa a sua batalha contra a doença, que a obrigou a se afastar do trabalho para o tratamento. Pra quem não sabe, a endometriose é uma doença crônica que leva o tecido do endométrio, o revestimento do útero, a crescer em lugares onde ele não deveria estar. Como um câncer, só que benigno. Mas o termo benigno pode levar à falsa impressão de que se trata de algo simples, quando na verdade é uma doença que pode provocar danos sérios à saúde física e emocional da mulher, porque provoca muita dor. Como há dificuldades para diagnosticá-la, a mulher pode passar anos sentindo dores lanscinantes sem saber que sofre de uma patologia. Porque tem mais essa, como é esperado que sintamos dor mesmo quando estamos saudáveis (poucas são as felizardas que nunca tiveram cólica menstrual), há profissionais de saúde que minimizam queixas de suas pacientes.

Em 2007, uma amiga minha foi diagnósticada de endometriose. Acompanhei seu sofrimento. Primeiro, 2 meses sem mentruar e o pânico de estar grávida, situação desmentida após sucessivos exames de gravidez darem negativo. Depois, crises de dores agudas confundidas com apendicite. Não me lembro de ela chegou ser operada para apendicite. Dias e dias de afastamento do trabalho dada a violência das dores, mas algumas semanas após a cirurgia. Soma-se a isso o medo de não ser capaz de engravidar.

Passados poucos meses da cirurgia, minha amiga participou de um processo de seleção para uma vaga de trabalho que oferecia, entre outros benefícios, morar do país legalmente, como ela também sonhava. Viu-se obrigada a omitir sua doença no exame médico, uma vez que isso poderia inviabilizar sua contratação mesmo estando em perfeitas condições de trabalho naquele momento. Há quem digo que isso é antiético. Pois eu digo que entre ter empatia por uma mulher com um problema de saúde tratável que precisa de trabalho e uma empresa gigantesca, não tenho dúvidas sobre quem escolho.

Minha amiga está bem agora. Foi diagnosticada cedo e logo conseguiu tratamento. Tinha um bom plano de saúde e, o mais importante, acesso à informações sobre a doença. Não é o que acontece com a maioria das mulheres. E acho realmente que há pouca divulgação sobre essa doença tão séria. E é essa negligência em disseminar a informação que faz com que milhares de mulheres, todos os dias, sejam vistas por seus empregadores como preguiçosas quando tem que se afastar do trabalho.

(ces prometem que não prestam muita atenção aos erros? é q não vou ter tempo de revisar MESMO. agradecida)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Talentos

Uns dias atrás jantei na casa de uma amiga. Quem preparou a refeição - um risoto de alho poró, pêra e queijo parmesão - fui eu. Daí que a terceira amiga presente disse que queria ter talento pra cozinhar. E eu respondi que ela estava enganada. O que eu tenho não é talento, é prática. Acho que a primeira vez que cozinhei tinha não mais que 15 anos. Hoje tenho 31, faça as contas. E ainda assim tudo o que eu faço é extremamente simples. A grande sacada do risoto é essa inclusive: prato único, fácil de fazer e com pinta de elegante. Perfeito pra quem gosta de comer bem mas não necessariamente quer ter trabalho. Então eu não sou uma cozinheira talentosa, até porque nem me aplico o suficiente. Mas sou uma pessoa capaz de fazer algumas coisas bem gostosas, e disso eu mesma tenho certeza.
Continuei dizendo pra minha amiga que esse discurso do talento é muito complicado em uma série de outras áreas, porque desperta o lado mais repressor do nosso super-ego. Se a gente se convence que não presta pra fazer algo, nem tenta. Trava mesmo. Por isso que é tão difícil pra algumas pessoas, depois de adultas, aprenderem um idiomas estrangeiro, por exemplo. Claro, tem lances aí cognitivos do sistemas fonético da língua materna já estar consolidado, etc, etc. Mas pra aprender a falar, tem que estar disposto a falar errado. E falar errado na frente dos outros. E parecer ridículo. Não há opção, sem esse desprendimento, não funciona. Há que escolher entre passar vergonha e aprender ou permanecer na ignorância.
E bom, talento. Não sei quais são os meus. E vivo nesse drama. Mas o fato é que não dava pra esperar tentar descobrir. Nunca deu. Tenho uma vida pra ganhar, aluguel pra pagar. Sabe aquele lance de vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos? Pois é. Nunca pensei que eu fosse usar este adjetivo pra me descrever, mas eu acabo me descobrindo uma pessoa simplória. Porque tento não sofrer muito. Vou lá e faço, sabendo ou não. Um pragmatismo meio tosco de quem já percebeu que às vezes a ação é melhor que a reflexão. O que não significa necessariamente agir por impulso, mas perder o medo de fazer cagada. Ah, sim, eu faço as minhas com frequência. E não, não sou a pessoa mais destemida do mundo: tenho fobia de dirigir, de andar de avião, de altura – só pra começar a citar. Mas tem isso de como eu não sei exatamente o que eu presto pra fazer, não tenho medo de aprender coisas novas (nem de passar ridículo durante o processo). Vai que naquele canto inóspito, naquela tarefa chata, descubro o meu talento, como quando a gente procura uma coisa e encontra outra?

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Eu, por aí

Tem post meu no Blogueiras Feministas hoje. Apareçam por lá: http://blogueirasfeministas.com/2011/a-maternidade-como-trabalho-nao-pago/

quarta-feira, 27 de abril de 2011

27 de abril - Dia Nacional das Trabalhadoras Domésticas

Fiquei sabendo da data pela lista de discussão das Blogueiras Feministas. Não queria deixar passar a data, porque eu acho que é importantíssimo discutir a questão desta classe de trabalhadoras. Mas daí, vocês sabem, eu sou uma sujeita meio sem-vergonha e preguiçosa. E a Bia fez este post incrível, completíssimo e cheio de informações úteis. Então, se eu fosse você, dava um pulo lá e, caso ainda não conheça, aproveite pra conhecer o blog dela que é luxo só.

Apesar da preguiça, cabe no mínimo a minha opinião sobre o assunto. Como a Bia disse lá e a gente sabe bem, o trabalho doméstico não é um trabalho como qualquer outro. É um trabalho que só existe porque existe desigualdade social, e um grupo de pessoas privilegiado pode se dar ao luxo de delegar a outrem tarefas que não lhe agradam. A desculpa que sempre ouvimos é: “mas eu preciso, não tenho tempo!”, “mas quem cuidará dos meus filhos?”. Daí que a empregada pode ser uma pessoa que também tem casa pra e filhos, mas ela que dê um jeito nisso tudo. O trabalho doméstico faz com nossas necessidades nos pareçam maiores que as necessidades alheias. Contraprodutivo para sensibilidade social, portanto.

Além disso, a terceirização destas tarefas atrasa em muito a discussão da divisão de tarefas. Porque olhem só, nas classes mais esclarecidas que poderiam ser “vanguarda”, a gente não precisa discutir nada. Os moços bem instruídos tem empregada na casa da mãe. Se saem de casa sem se casar, em geral contratam ao menos uma diarista. Se se casam, tem outra diarista lá. Sempre uma mulher cuidando das tarefas. “Mas Iara, peralá, ela só vem uma vez por semana, no resto sou eu que lavo a louça e coloco a roupa pra lavar.” Aham. Lava a cozinha? O banheiro? Limpa azulejo? Os vidros? Tira a poeira das estantes? Desengordura os armários? Provavelmente não. Faz o mínimo pra tocar a vida e a parte pesada fica com uma mulher mesmo. Logo, terceirizar essa tarefa é contraprodutivo para a discussão feminista. Como a Mary W disse em nossa lista, maridão lavar a louça no domingo não é divisão de tarefas, tá?

Bom, daí que apesar da desigualdade de classe e de gênero me incomodar, contrato os serviços de uma diarista a cada 15 dias. Por que eu sou cínica? É uma leitura possível, claro. Mas não acredito que o fato de não contratar alguém e gastar esse dinheiro com qualquer outra coisa resolverá, por si só, estas questões. Contratar, dizer que o mundo é assim e não pensar mais no assunto resolve menos ainda. Então tô aí. Pensando. Discutindo. Enquanto isso, o mínimo que se pode fazer é trazer à luz estas discussões e não deixar que esta classe, que justamente pelas condições em que este trabalho se dá tem dificuldade de se mobilizar coletivamente para reivindicar respeito, seja invisível.

Update:

Ah, sim, né? Preguiçosa demais, eu. Isso é uma blogagem coletiva e além do post da Bia linkado aí no texto tem esses muito bacanas da Denise:


http://drang.com.br/blog/2011/04/trabalho-domestico-faca-a-sua-parte/

E da Luka:

http://bdbrasil.org/2011/04/27/seja-empregada-domestica-ou-tercerizada-a-sina-e-a-mesma-invisibilidade/

O da Luka inclusive menciona a questão da terceirização da faxina. Por coincidência eu tô com um post semi-pronto sobre terceirizações no geral. Pretendo não enrolar muito pra terminá-lo e postá-lo mas, né? Oremos.

domingo, 17 de abril de 2011

Torta de climão*

Não é bonito falar mal das pessoas, ainda mais gente comum, não personalidades. Não sei se deveria fazer isso, mas aproveito que este é um blog “escondido”, sem muita visibilidade. A desculpa é que, para além de implicância pessoal, quando falo mal de alguém aqui tô tentando falar de uma situação mais ampla, como quando mencionei colegas de trabalho machistas e preconceituosos.

Já contei mais de uma vez sobre a minha pós. Um curso não muito pretensioso, uma especialização lato sensu, mas que tem me feito muito feliz. Primeiro pelo conteúdo. Finalmente estudar um pouco de economia, algo que me interessa tanto, e tratar de problemas das grandes cidades é muito estimulante para uma pessoa que curte estudar, mas passa a semana envolvida com um trabalho não necessariamente desafiador. Depois pela turma. Passo o sábado com pessoas inteligentes e talentosas de profissões e experiências de vida muito diversas. Com algumas (há moços também, mas as mais próximas são elas, por isso uso o artigo no feminino) criei um vínculo de tchurma de faculdade mesmo: almoçamos juntas, bebemos depois da aula, e já fizemos um churrasco aqui no na churrasqueira do prédio.

A turma é muito diversa. Há essa tchurma mais grudada, mas não chega a ser uma panelinha. Como em todo grupo grande, há os micro grupos, e há pessoas que não estão ligadas a ninguém especificamente. Mas no geral reina o respeito e o coleguismo. Sabe, não vale a pena acordar cedo no sábado e pagar uma mensalidade para frequentar um curso que não vai deixar ninguém mais rico (pelo menos não de maneira muito imediate, já que não é curso voltado ao mercado) se isso não for um prazer. E pra maior parte de nós é essa a relação mesmo: de prazer.

Mas há essa colega. Mal-humorada. Tão mal-humorada que eu brinco que ela não deve ter dentes, porque nunca a vi sorrindo. Até aí, problema dela. A coisa complica quando o mal-humor extrapola, a ponto de implicar com a dinâmica da aula. Foi o que aconteceu ontem, o climão do título.

Nosso curso tem um professor coordenador, que é o único docente fixo. Ele montou uma grade e convidou docentes que não necessariamente têm vínculo com a instituição na qual estudamos para dar aulas. E, pra minha grata surpresa, é um curso com uma ideologia de esquerda assumida: alguns dos nossos professores fizeram parte da gestão da Erundina como prefeita de São Paulo, por exemplo. Nem todos os colegas são super interessados por política, nem todos são super entusiastas da esquerda, mas isso só enriquece o debate. E há muito debate, que muitas vezes leva a digressões, o que eu acho bem normal num cursos com um tema tão rico, e numa aula tão longa.

Vários parágrafos pra chegar ao causo-em-si. Ufa.

Este sábado estávamos lá com um professor que trabalho no IPEA. Ele falava de dinâmicas regionais no Brasil. E falou sobre a desigualdade, que a economia do Nordeste cresceu bastante, mas continua muito menor que a do Sudeste. E o assunto caiu no Bolsa Família, porque não dá para, em 2011, falar de economia do Nordeste sem tratar de Bolsa Família. Não dá, não interessa sua orientação política. E aí falamos do preconceito contra o programa. E caímos no PSDB, e o professor falou algo muito interessantes: que a aliança do PSDB com o PFL (hoje DEM), sugou o PT pro centro, meio vácuo mesmo. E se ela não tivesse acontecido, o quadro político do país seria outro. E bom, daí falamos da carta aberta do FHC essa semana. Estávamos nessa, chamando o FHC de doido, comentando a escolha de ignorar as massas, quando a mal-humorada levantou a mão de disse, bicuda, que queria voltar ao tema da aula.
Climão, claro. Professor perguntou se ela não achava que aquele assunto era relevante para o tema abordado. Ela respondeu que a gente poderia discutir política “no bar depois da aula”, coisa que fazemos todo o sábado (e ela nunca está conosco, claro). Mas enfim. Chamou a aula do professor convidado de papo de boteco, desqualificando. Disse que estava lá para aprender Economia e Administração Pública, e não discutir política, e que há um ano “tinha que aguentar este tipo de conversa”. Que o queria na aula eram fatos e não “opiniões”

Bom, como explicar pra esta pessoa que não dá pra falar de administração pública sem falar de política? Sério, como? Não quero ser intolerante, acho críticas muito positivas, mas como fazê-la entender que se a classe está satisfeita com a dinâmica do curso, não há porque mudar o que quer que seja para atender às necessidades dela. De verdade, não quero falar “não tá satisfeita, vá embora”, mas como fazer a pessoa entender que o que ela chama de papo de boteco faz parte do curso? Claramente não era o que ela buscava, mas ok, ela não precisa ficar ali, pagar mensalidade, acordar cedo se está tão ruim assim. Nem sempre a gente faz escolhas as certas, normal.

Daí rolou um bate-boca com uma colega que perdeu a paciência com ela, chamamos o intervalo do café pro clima abrandar, e em seguida, antes que mal-humorada voltasse, uma colega mais reservada e muito sabida fez um julgamento muito bom. Disse que no fundo tem compaixão pela moça. A culpa provavelmente não é só de sua óbvia não-identificação com a turma. Há uma clara concepção de que saber é algo técnico, apostilado. Logo, este papo, esta colcha de retalhos feita a partir de perguntas dos colegas, os comentários engraçadinhos, a troca de experiências que prezamos tanto e identificamos como uma construção coletiva do aprendizado para ela é só uma fuga do “real” saber, o trazido pelo professor, que segue um roteiro determinado.

O chocante é que colega mal-humorada é jornalista. E olha, eu já contei que uma das minhas amigas mais amadas é jornalista. E algumas das minha colegas de curso mais bacanas e inteligentes também são. Mas eu fico pensando se não há aí nas redações hoje uma geração de profissionais que pensam como ela, sabe? E chamou muita atenção quando ela disse que queria “fatos, não opiniões”. Será que ela pensa mesmo que existe conhecimento neutro, sem nenhum viés ideológico? Será que ela acredita que o publicado no portal de notícias em que ela trabalha como repórter é a expressão da verdade, e não a verdade segundo o ponto de vista do patrão? Não sei mesmo. Mas uma colega disse que não está interessada em ler matérias de jornalistas não afeitos ao debate. Que acham que podem tratar de economia e urbanismo (!!!) sem tratar de política. Olha, não é porque eu não gosto de gente carrancuda, mas concordo bastante.

* vi essa expressão no twitter e achei sensacional...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Administração do Tempo (como não fazer)

Daí que eu pisco e passam-se dois meses sem que eu escreva uma linha aqui. Mas não foi só isso que eu deixei de fazer. De uns tempos pra cá deixei de ler os blogs que eu gosto também. Meio que abaixei a cabeça e deixei a onda passar, porque a verdade é que eu sou uma pessoa em processo de organização. Tá fácil a vida não, e eu tive que começar com o trabalho, que paga o meu salário. Semanas dedicadas a por em ordem coisas que eu fico proscratinando pra fazer. Falta um tanto, mas quando eu voltar a trabalhar daqui a duas semanas (eu tô de férias até depois da Páscoa), espero que não me sinta tão perdida. A lição mais importante eu já aprendi: que quando eu quero ser produtiva, eu consigo. É só querer assim, dicumforça. #autoajudafeelings
Mas é engraçada essa alienação que o trabalho assalariado numa atividade em que não me realizo me proporciona. Porque eu saio de férias pra dar conta do resto da minha vida. Nesse resto envolvidas coisas que não são ócio, como o meu trabalho da pós, tão abandonadinho também, coitado. Além de, é claro, visitar a família, resolver pendências domésticas e tal e cousa. O plano então é aproveitar estas semanas pra correr atrás do tempo perdido, não na ilusão de dar conta de tudo o que acontece a minha volta, mas tentando pelo menos não largar (muitas) coisas pelo caminho.
No mais, reclamo da vida não. Como já ouvi de gente querida, se a gente tá sem tempo pra vida online, é porque tem uma vida real bem rica em experiências. Comigo, pelo menos, é assim. =D

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Ainda sobre o anterior

Adorei a repercussão do post anterior (blogueira modesta, fico muito envaidecida), mas de repente foi um tal de aparecer gente fofa e justificando e, definitivamente, a ideia não era essa. Eu sei que, principalmente pra quem mora em cidades menores, o serviço de transporte público pode ser muito ruim, e o post não é um convite ao martírio em nome da cidadania. Longe de mim. Mas vou falar mais um pouco do assunto, até pra despersonalizar a questão.
Já contei aqui que faço uma especialização em urbanismo e administração pública. E, olha, lá, eu estudei História no colégio, mas só na pós fui me ligar que a nossa urbanização aqui no Brasil acontece simultaneamente à instalação da indústria automobilística. Na Europa a urbanização é muito mais antiga, então o carro não interferiu muito no desenho das cidades. Aqui, o automóvel foi senhor e rei do projetos urbanísticos. Então, não dá mesmo pra gente pensarem cidades médias brasileiras, muitas das quais passaram a ter mais de uma centena de milhar de habitantes e equipamentos urbanos como universidades só nos últimos 30 anos, sem a presença maciça do automóvel. Isso justifica o não investimento em transporte público? Em termos. Por um lado, fica mais cara financiar um sistema quando a demanda é menor. Por outro, por conta do automóvel, estabeleceu-se no Brasil a noção de que transporte público é coisa de pobre. E coisa de pobre nessa terra é algo a ser negligenciado. Então, não tô aqui pra dizer pra ninguém: “olha, torra aí 1 hora no sol esperando busão lotado”.
Mas eu não vivo numa cidade de 180 mil habitantes. Eu vivo numa aglomeração urbana que concentra umas 4 vezes mais habitantes que a região metropolitana de Madrid. E tem gente (eu inclusive) que tem grana pra pagar aluguel ou ser proprietário nos lugares onde estão concentradas as melhores ofertas de serviços urbanos. Então, morar, sei lá, em Cuiabá, e andar de carro o tempo todo pode fazer muito sentido. Morar nos Jardins, em Pinheiros, na Vila Madalena, em Higienópolis em São Paulo e pegar o carro pra tudo é muito estranho pra mim. Eu já cheguei a ouvir de colega de trabalho coxinha, que morava a 3km do trabalho que “não dá pra ficar sem carro, né?”. Daí a gente sabe que tem gente pegando ônibus com cadeira de rodas e tem vontade de mandar pastar. Porque é disso que se trata. As pessoas se deslocam mesmo em situações muito adversas. O que não significa que a gente tenha que se submeter a elas, mas acho que vale muito pensar um pouco nas nossas escolhas, não aceitar o padrão como única solução possível, não virar um reprodutor acrítico do modelo.
No mais , eu respondi a alguém que se ofendeu dizendo que tem direito de parar na rua porque paga IPVA que não é bem assim. Que o IPVA é pra cuidar das ruas e tal. E TOTAL asneira minha, me dei conta depois. Pequena explicação de administração pública agora. Existem impostos, taxas e contribuições. Começando pelas últimas, contribuições são vinculadas, como era a CPMF, que saía das movimentações financeiras com um destino pré-determinado, financiar a saúde pública (sem entrar no mérito se a coisa era justa ou não, só a explicação teórica). Já as taxas são vinculadas diretamente a um serviço prestado, como era a taxa do lixo aqui em SP. Mas imposto, não. Imposto não está vinculado a contrapartida. Quer dizer, eticamente falando, claro que o Estado tem que nos retornar em serviço, mas não necessariamente pro proprietário do veículo que pagou o imposto. O IPVA pode, por exemplo, financiar a educação pública. E mais: cuidar do estado de conservação das vias locais é atribuição da prefeitura, não do governo do estado. Há um repasse importante de verbas do IPVA para o domicílio em que o veículo foi licenciado, que aí até pode ser usado pra cuidar das vias, mas não necessariamente, é esse o ponto. Tem que pagar porque tem carro, mesmo se a rua for de terra e esburacada. Então, se a prefeitura resolver estabelecer zona azul pra cobrar estacionamento nas ruas não tá cobrando em duplicidade: o IPVA tributa a propriedade, a zona azul tributa o serviço prestado, a vaga de estacionamento. Até porque você paga IPVA num estado, mas pode viajar e deixar o carro parado em outro.
Encerro contando uma historinha que acho que nunca contei antes por aqui (se contei, desculpem, hein?), sobre uns colegas do antigo emprego. O papo na mesa do almoço era o trânsito pesado. E alguém lembrou que, impressionante, né?, a maior parte dos veículos circula só com o motorista. E, bom, as pessoas poderiam se organizar pra irem juntas. E começaram a lembrar de um ou dois colegas que era mais ou menos vizinhos, com quem poderia combinar algo do tipo. E na sequência foram aparecendo os impedimentos do tipo “mas fulano é chato”, “mas tiraria minha liberdade”. Daí, no final, ninguém podia revezar com o colega, porque vivemos num tempo em que a liberdade individual de se deslocar usando o próprio veículo é mais importante do que tentar contribuir para a diminuição de problemas como engarrafamentos e poluição. E esse é o grande problema contemporâneo: a gente acha que nossa liberdade individual é intocada, mesmo que seja prejudicial ao bem-estar coletivo.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A vida idílica sem carro

(Ok, propaganda enganosa, mas não achei um título melhor...)

Faz um mês que estamos sem carro. Mas é preciso explicar. Eu venho de uma família que não liga pra carro. Meu irmão vai fazer 29 anos e não tem habilitação. Eu só tirei a minha aos 23, nunca comprei um carro apesar de ter condições pra isso há já bastante tempo, e meu pai tem um carrinho pé de boi. Lá em casa fomos ensinados que qualquer distância de menos de 2km pode ser feita a pé, a não ser em circunstâncias muito adversas. E não, eu não morava em bairro nobre. O metrô mais próximo estava a 1 hora. Mesmo o ponto de ônibus estava a 600m de distância. Já ouve épocas na minha vida em que eu gastava mais no táxi pra voltar pra casa do que na balada em si. (E olha tem muita São Paulo depois da casa dos meus pais. De lá até o extremo sul dá pra rodar mais 1h30 de ônibus, então eu nem tô fazendo mimimi, longe de mim). Mas eu sempre achei carro muito caro. Como assim tem que pagar IPVA todo ano? Como assim tem que pagar seguro? Como assim qualquer coisa que quebra custo 300 paus? Melhor me virar com ônibus e pagar táxi de vez em quando. E fazia planos pra morar num lugar mais centralizado.
Marido também era um sem-carro, apesar de gostar de dirigir e de curtir a coisa-em-si. Bom, como ele trabalha na indústria automobilística, surgiu a oportunidade de termos um carro da empresa em leasing, pagando uma taxa fixa não muito cara pra usar um carro zero, sem nos preocuparmos com seguro, IPVA, revisão, etc. Bem bacana, viramos motorizados por quase 2 anos. Mas desencanamos e, ao final do último contrato, devolvemos e estamos sem. E o povo estranha porque, né? Como assim ficar sem carro? Por que ficar sem carro?
Fato é que o carro, mas do que um meio de transporte, virou um símbolo de status. Você vira um ET se está numa determinada faixa de renda, se tem tal padrão de consumo, mas não tem um carro. E a grande verdade é que pouca gente entende que luxo, luxo de verdade, é não precisar de carro. Moramos numa região de razoável oferta de transporte coletivo. Levamos, incluindo caminhada, 40 minutos porta a porta no trajeto casa-trabalho, mesmo quando o congestionamento bate recorde na cidade (acredite, isso em São Paulo é muito bom). Há supermercados a 4 quadras de distância, restaurantes, baladas, várias coisas que podemos acessar a pé. Claro, pagamos um aluguel caro pra morar numa região tão bacana. Então, não temos carro porque somos privilegiados, e não por sermos excluídos.
Mas tô desviando da coisa. O ponto não é ter o carro. Nada contra as pessoas terem carro, e a gente pode voltar a ter num futuro não tão distante. Ele faz falta em algumas situações, principalmente porque a família do marido mora numa cidade a 100km daqui. De carro, com trânsito não muito pentelho, 1h30, mas agora vamos ter que ir a rodoviária e tals, uma pentelhação. Da última vez alugamos um, mas a ideia não é fazer isso sempre. Então, isso vai ser mais chato mesmo. E outro dia um professor na pós chamou de “reacionários de esquerda” quem critica o pobre que se endivida pra comprar automóvel. Se você mora a 20 kms do seu lugar de trabalho e o transporte que te oferecem a um custo alto é uma droga, é claro que vai querer melhorar sua qualidade de vida.
O que acontece em São Paulo, e em muitas grandes cidades, é que o pessoal que tem dinheiro pra morar em regiões nobres, com transporte razoável, que não precisaria de carro, se acha importante demais pra andar de ônibus. O culpado do congestionamento não é o pobre que só pôde comprar carro agora, é também o rico que não encara 2 kms de caminhada pra nada nessa vida. O cara que vai de carro até a academia pra andar na esteira (sério, morro e não entendo que pega o carro pra ir andar na esteira). As pessoas deixaram de andar na rua. E não dá pra aceitar que “ó, a violência”, porque se você mora em bairro nobre, a chance de ser assaltado dentro do carro é muito maior do que andando a pé. Procura aí estatística e volta aqui pra desmentir, por favor.
Eu não acho o máximo o serviço de transporte coletivo de São Paulo. Mesmo na minha região ele deixa a desejar. Mas eu gosto da troca que o combo andar na rua + pegar o trem me proporcionam. Tem um casal idoso que passa por mim todas as manhãs em sua caminhada matinal. No começo, só o homem respondia ao meu bom dia, a senhora parece ser mais reservada. Depois de algum tempo, ela passou a me responder. Logo, a sorrir. Outro dia passei do outro lado da calçada, e ela acenou a mão toda sorridente. Eu ganhei meu dia por saber que a expectativa de me encontrar está na rotina deles também (fazer academia de manhã alterou meus horários e não os vejo mais, infelizmente). E no final do dia tem o rapaz que busca o filho na escolinha na minha rua. O menino ia no carrinho 1 ano atrás, agora já puxa uma mochilinha e vai tagarelando pro pai, e eu vejo o tempo passando. Eu perderia tudo isso se estivesse no carro. Toda essa troca. Como perderia o sujeito no trem lendo um livro escrito “EXU” bem grande na capa. E a moça negociando com o marido que ele cuidasse do bebê porque sim, ela tinha direito de tomar uma cerveja com as amigas. Fosse de carro, só conviveria com os meus colega tão pequeno-burgueses quanto eu. Desculpem se eu pareço muito piegas, mas a rua e o trem me humanizam, me põe em contato com a cidade, e eu gosto disso.
Na minha pós, tratando de urbanismo, alguém professor mencionou que hoje 30% do espaço urbano de São Paulo é dedicado à vias. Vias onde circulam, majoritariamente, automóveis, e muitas vezes só transportando o motorista. Daí a pessoa pega o carro que estava numa garagem, transita com ele, e deixa em outra garagem. Espaços que são dedicados ao veículos. Tem lançamento imobiliário em São Paulo de 2 quartos que oferece 3 vagas na garagem. Só eu acho essa relação muito estranha? No curso a gente aprende a se perguntar porque as pessoas podem estacionar seus carros sem pagar por isso, mesmo na rua. Quando a gente para o carro na rua, tá empatando um espaço público em prol de um uso privado. O carro é o senhor da metrópole, não os cidadãos. Não sei vocês, mas eu acho isso triste.
Não sei se é possível pra todo mundo. Não sei como seria se eu tivesse crianças pequenas, por exemplo. Acho realmente que algumas situações são bem complicadas de vencer sem carro. Mas eu fico chocada com o quanto as pessoas desaprenderam a viver sem automóvel. Com a quantidade de limitações que elas se colocam. Limitações todos temos. Eu tenho um joelhinho meio podre que, quando está inflamado, reclama um pouco do 1,5km que eu preciso vencer atá a estação de trem. Quer dizer, desculpa pra me acomodar eu tenho. Todo mundo tem, se partir do pressuposto que o “default” é se locomover usando um transporte motorizado individualmente. Mas este não é um post pra apontar acomodação de ninguém, longe de mim. É só pra te contar que eu sou uma pessoa privilegiada por, aos 31 anos, nunca ter pagado IPVA na vida. =D

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Mulher e Mercado de Trabalho

Vocês já conhecem o blog coletivo das blogueiras feministas? Não? Então passem lá. Dia desses alguém avisou na nossa lista de discussão que a Carolina Pombo estava agitando uma blogagem coletiva hoje sobre mulheres e mercado de trabalho. Alguém criou um tópico no nosso fórum, boas idéias surgiram e a Bia editou e fez um post. Daí que eu não vou fazer um aqui, porque minha idéias já estão todas lá - assim como o crédito à outras companheiras de fórum inspiradas que contribuíram para a discussão. Visitem o blog e conheçam mulheres fantásticas com quem tenho trocado figurinhas ultimamente. E se alguém que passa por aqui quiser se juntar ao fórum, me avise, tá? Já adianto que o volume de mensagens é enlouquecedor, mas o aprendizado e a troca de experiências têm sido fantástico.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Foco

Essa semana fui ao médico e não consegui fugir mais da balança. Tipo assim, falta muito pouco pra eu chegar aos 80kg. Aquele muito pouco que um final de semana mais guloso é o suficiente pra alcançar. E, bom, como da última vez eu não estava tão longe assim dos 80, como minhas saias andam bem apertadas e a pancinha pronunciada, não posso dizer que foi um susto. Mas fiquei pensando que, puxa, eu preciso fazer alguma coisa. Porque isso precisa ter um limite, não posso ficar engordando indefinidamente. E eu li o post lindo da Mary W. Eu não assisto Big Brother, mas adoro os comentários sobre. E a Mary W, como socióloga, detona mesmo. E no post ela fala da perseguição aos gordos, da magrocracia. E eu sempre me pergunto porque eu estou incomodada, já que eu não acredito nesse padrão tão redutor de beleza. Acho que eu tô gordinha sim, mas não acho que eu tô feia. E marido acha que não sou gorda, sou uma gostosa que se acha gorda. E eu tô saudável e tal. Então porque me preocupar?
Pra começar eu preciso lembrar que um dos culpados por eu ter engordado é justamente o padrão modelo de beleza, do manequim 38, por mais contraditório que pareça dizer isso. Sou uma pessoa que sempre usou 42, que sempre esteve por volta do 60 e tanto, e se achava gorda. Mas não era. Qualquer peso abaixo de 70 tá ótimo pra mim (considerando aquela regrinha do IMC, o “normal” pra minha altura seia até 68,5kg). Só que como eu me via como gorda, achava que foda-se, gorda por gorda, vamos comer mais um pedaço de pizza. E oi, eu não era gordinha, mas agora fiquei. Não acho que estou feia assim, mas não me reconheço nas fotografias. Sempre tive pernão, bundão, mas não tinha pança, e os braços eram mais finos. E, bom, tem uma foto minha aí no post anterior, rola um bração agora e tal. Mas puxa, ok. Nem acho que seja grave. Eu poderia assumir o fat pride, “sou gordelícia mesmo e aí?”, e ficar em paz. Tapa na cara da sociedade “magrocrática”. Porque não faço isso?
Porque daí eu lembro o meu problema real, que não tem nada a ver com aparência, que não tem nada a ver com pesar 65kg ou 80kg. Foco. E disciplina. Eu não tenho nenhuma dessas duas coisas. A questão não é quanto eu peso, a questão não é se eu gosto de beber, a questão é que eu preciso ser mais disciplinada pra comer e fazer exercícios. Nada a ver com virar a gostosona, ou com me privar do que eu gosto. Mas a verdade é que “refeições recreativas”, aquelas em que a gente bebe, se diverte, e até abusa um pouco do doce deveriam ser mais raras mesmo, até pra preservarem seu caráter festivo de exceção. Eu diminui a cerveja, mas tava comendo doce todos os dias. Comendo e sabendo que não me faz bem. Ano passado a endócrino me receitou uma reeducação alimentar, então eu já conheço o caminho das pedras. Sei bem que se eu voltar a ter disciplina, posso não voltar a pesar o que eu gostaria, mas imagino que a balança se estabilizará aí nuns 7 ou 8kg menos. Mas o importante, de verdade, é levar um estilo de vida um pouco mais saudável.
Enfim. Eu sou muito ruim com esse negócio de disciplina. Minha vida é uma zona, eu nunca fiz agenda, meu guarda-roupas é uma tristeza de tão zoado, minha bolsa é um mar de papéis sem utilidade e não queira ver a minha mesa de trabalho (sério, minha mesa de trabalho é uma vergonha). Ainda assim, apesar disso tudo, vou levando a vida de maneira mais ou menos bem sucedida. Mas acho que tudo seria muito mais tranquilo se eu fosse mais disciplinada, se eu proscratinasse menos, se eu colocassem coisas em ordem, se eu jogasse papéis velhos fora. Então, nada de listas imensas de planos pra 2011. Muito menos de colocar “perder x quilos” como objetivo. O foco deve ser fazer mais bem feito, com mais capricho, tudo o que eu já faço. Inclusive me alimentar.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A posse da presidenta

Por onde começar? Foi tudo tão lindo! Primeiro, porque eu tava morrendo de ansiedade por encontrar gente que eu só conhecia pela internet. Não que isso seja tão novidade assim na minha vida, mas, né? Toda uma situação especial. Mulheres que eu aprendi a respeitar sem conhecer. E não poderia ter sido mais legal nesse aspecto. Abraços apertado e sorrisos generosos de gente que parecia amiga de longa data.

Mas vamos ao evento. O clima era lindo. Povo tirando foto com bandeira e camiseta da campanha já no aeroporto de Congonhas. No aeroporto, conhecemos uma moça que, numa demonstração de orgulho democrático do qual assumo ser incapaz, disse que não tinha votado na Dilma, mas estava indo assistir à posse por que afinal de contas “ela seria presidenta de todo mundo”. Chegando à Brasília enfim, um inferno pra quem não gosta de “petista” (leia-se todos aqueles que acham que, se votou no PT, é petista automaticamente, e isso é péssimo). Muita gente animada pra festa.

Eu sei que ao chegar na Esplanada dos Ministérios no sábado meus olhos já se encheram d'água. Vi uma moça com uma camiseta escrito “lugar de mulher é na presidência” (tem foto dessa moça aqui). E caiu a ficha legal, de que aquele era um momento histórico, que com certeza ia marcar a minha vida e a de milhões de brasileiros e de brasileiras (das últimas especialmente, claro). A Esplanada estava decorada com Banners que lembravam grande mulheres da nossa história. Nós éramos as protagonistas, isso estava claro.

Bom, a frustração maior é porque a chuva mais forte caiu 2 minutos antes dela passar de carro aberto a 3 metros de onde estávamos. Nos molhamos horrores e só vi a mão da presidenta acenando do lado de fora do carro. Ok, faz parte. Depois, fomos pra frente do Palácio do Planalto. E eu cai no choro pesado quando o Sarney disse “declaro empossada a presidenta”. E eu chorei durante o hino nacional. Vergonha de contar, parece um ufanismo à la Galvão Bueno, mas eu pensei em tanta coisa. Lembrei que o meu pai foi torturado, como ela. Lembrei do quanto esse país já melhorou, do quanto somos mais democráticos, da infância inteira ouvindo que somos o país do futuro e, olha lá, eu tenho 30 anos, o futuro chegou, e é esse momento tão cheio de esperança. E quando eu tava quase com os olhos secos, ouvi uma senhora do meu lado dizer que ela seria “uma babaca” se não fosse assistir a posse, porque ela achava que só as netas ou bisnetas veriam uma mulher presidente, um dia. Daí acontece de ser uma mulher da idade dela, e de esquerda, ela tinha que testemunhar. Voltei a chorar.

Havia toda a ansiedade pela despedida do Lula. Mas ele, generoso que só, se esforçou pra não ofuscar a estrela do dia. Foi lindo ver ele descer a rampa e, silencioso, se juntar a galera.

Bom, depois fomos com o povo comemorar. Fechamos um boteco, depois fechamos o segundo (nem foi uma super noitada, os bares lá fecham cedo). Em algum momento da noite descobrimos que a Maria Frô não iria se juntar a nós porque ela era rycah e conseguiu entrar na festa oficial no Itamaraty. E eu não tive inveja porque sou um ser evoluído (mentchira). Mas, voltando ao boteco, chamou a atenção o clima da nossa mesa. Os poucos homens num confortável papel de coadjuvantes. A festa era nossa, e eles estavam felizes pelo país e também por verem suas companheiras tão felizes juntas. O que me faz dizer a você, moça solteira a procura de companhia masculina: não se satisfaça com qualquer pão com ovo machistinha. Tem homem bacana por aí. É difícil de encontrar, mas você é brasileira e não desiste nunca, certo?

Enfim, o que mais posso contar, gente? Só que eu fiquei muito feliz, mesmo. Valeu demais a grana, o tempo, o desconforto da chuva, os tênis até agora sujos de lama e o medão de pousar em Congonhas em noite de chuva. Valeu tudo, valeu muito. Agora é torcer muito pra que ela seja bem sucedida na árdua tarefa de suceder a um dos líderes mais populares do mundo. Trabalho duro, mas né? Eu boto fé. Vocês não? ;-)

Bom, as fotos:




Eu não gosto de por fotos minhas aqui, mas a ocasião merece. Várias blogueiras e "arrobas" famosas e eu. Sou a sem capa, da direita "toda molhadinha".