terça-feira, 2 de agosto de 2011

Dos mitos e dos esclarecimentos

Oi gente. Tô viva. O blog tá vivo também, embora hiberne de tempos em tempos. =)

O povo lá do Blogueiras Feministas chamou uma postagem pra desmistificar o feminismo, como uma campanha de esclarecimento mesmo, e eu achei que valia a pena dar uma passadinha por aqui. Muita gente boa já escreveu pra blogagem, corre o risco de eu ser repetitiva, mas beleza. O importante é que, pra desfazer mal entendidos, eu escolhi dar a minha visão do feminismo. Que, tenho certeza, é compartilhada por outras pessoas, mas tá longe de ser única, justamente porque somos muitas e este é um movimento bem plural.

Seguinte: feminismo não é dogma. Não é cartilha. É na verdade, além de um movimento social, uma filosofia, uma maneira de olhar o mundo. Por isso me dizia feminista antes mesmo de ter lido qualquer coisa específica sobre o tema, já que reconhecia a existência de uma desvantagem social em ser mulher. Muitas dessas desvantagens são construções culturais que costumam ser naturalizadas com um “mas as coisas são assim!”. Partindo do pressuposto que se “mas as coisas são assim” fosse um argumento válido, a humanidade não teria nem criado a roda, tem que ver isso aí. Digo que sou feminista porque tô afim de analisar e discutir a condição feminina na sociedade. O que não me obriga a concordar com tudo o que outra feminista diz. Tá cheio de feminista por aí com a qual concordo em muita coisa, mas discordo frontalmente em mais ainda. E é complicado, sabe, porque as pessoas tendem a olhar pra gente como coletivo e colocar todo mundo na mesma caixinha.

Mas nem é esse o principal problema, na verdade. O complicado é preencher a frase “você é feminista, logo___” com um estereótipo qualquer. E sabe qual o problema dos estereótipos? Eles no geral, não são mentirosos, mas tendem a ser muito limitados. “Você é feminista, logo não usa maquiagem” pode ser muito válido. Há feministas que não usam maquiagem não só porque não querem, mas porque vêem a exigência social das mulheres usarem maquiagem como uma opressão. E concordo também que exigir isso das mulheres é uma exigência social bem sexista com nossa aparência. Mas uso porque gosto e quando quero, não porque me sinto obrigada.

“Ah, mas então se eu gostar de tudo na minha vida, não tenho porque ser feminista, né?”. Não, não é por aí. É preciso sair do lugar comum. É preciso ao menos questionar suas escolhas, tentar entender o porque você gosta de algo, principalmente se sustentar este gosto te traz problemas. Nossos gostos não são inerentes, mas resultados de uma construção cultural, e não há nada de errado com isso. O problema é quando nossas escolhas nos oprimem, nos fazem sofrer, e a gente não se dá conta disso. Daí entra o feminismo. Não pra dizer que “feminista não usa batom”. Mas pra te alertar que se você perde minutos preciosos de sono toda manhã pra se maquiar porque se acha feia, talvez se maquiar não seja exatamente uma escolha. E que se você não tem dinheiro pra voltar de táxi e é obrigada a aceitar carona com aquele cara pegajoso porque sua grana foi gasta na cabeleireira e na manicure pra ir pra balada, talvez você esteja refém do papel social que está desempenhando.

Então o problema não é se casar, ficar solteira, ter filhos, não ter filhos, se maquiar, se depilar, sair peluda de casa ou o que quer que seja, assim, isoladamente. A questão é questionar o porquê certas construções sociais resultam em desvantagem pra gente e buscar soluções pra isso. As feministas e seus estilos de vida serão diversas justamente porque lutamos por um mundo mais diverso, mais rico em experiências e possibilidades para todas as mulheres, incluindo aquelas que optam por caminhos mais conservadores.