segunda-feira, 27 de junho de 2011

Sobre criticar pessoas e criticar discursos

Lá vou eu. Pulando de cabeça na polêmica-mamilos sem bóia. Fui.

Seguinte. Myriam Rios, ex-celebridade, ex-namorada do Roberto Carlos e atual deputada estadual pelo RJ, falou aquela tanto de besteira na assembléia legislativa de seu estado. Associou homossexualismo a pedofilia. Daí, neste contexto, uma porção de gente foi procurar as fotos sensuais que ela fez mileanos atrás (algumas de antes de eu nascer) para denunciar a sua hipocrisia e seu falso moralismo. Outros não perderam a viagem e resolveram chamá-la de puta. Bom, a Conceição Oliveira fez parte do primeiro grupo. E eu discuti o assunto com ela no twitter. Como o espaço limitado lá dificulta bastante debater o que quer que seja, resolvo trazer a discussão pra cá.

O post no Maria Frô traz algumas fotos da Myriam Rios e se dirige “aos moralistas de plantão”. Termina com a pergunta: “Moralistas cristãos de plantão que aplaudiram as bobagens ditas por Myrian Rios, vocês a contratariam como babá?”. E quando uma leitora a indaga sobre o porque recuperar essas fotos, ela responde assim:

“Quanto a mim, destaquei as fotos, porque considero que o discurso falso-moralista e detrator de Myriam Rios não orna com a sua prática. Para os moralistas de plantão, 'boas mães cristãs de família' não posam nuas em revistas masculinas, ou posam?”

Sou da turma que pensa como a leitora Ana Paula Guedes, que se incomodou com o post. E meu argumento para a Conceição foi o de que não vejo porque seria incoerente posar nua 30 anos atrás e ser homofóbica hoje. Sobre essas fotos feitas 30 anos atrás podemos supor duas coisas: que ela se arrepende de tê-las feito ou que ela não vê problema algum nisso.

Pois bem. Vamos ao primeiro. É hipócrita desfrutar de sua vida, celebridade, beleza e juventude e, ao cair no ostracismo, virar fiscal de fiofó alheio? Ô se é. Mas a gente não sabe se foi isso que aconteceu. Porque o post diz: “é uma opção real decidir ser fotografada nua e cobrar por isso”. Mas o que a gente sabe é que nem sempre nessas situações as mulheres tem todo esse poder de escolher. Que esse “escolher”, pode ser até a página dois. Uma atriz mediana pode muito bem ter tido problemas financeiros, ter feito isso sem curtir porque precisava muito do dinheiro pra pagar os remédios da mãe doente ou [insira aqui qualquer outra situação dramática em que grana faz muita diferença], e hoje ficar realmente mal aos se lembrar que teve que se submeter a isso. Quer dizer, pode ter se arrependido porque ela não tava ali desfrutando a liberdade do seu corpo que agora o seu discurso quer negar. Talvez ela nunca tenha sido livre, até porque dizem que ninguém consegue oferecer o que não tem. Ou talvez ela realmente tenha mudado muito nestes 30 anos e não se reconheça nessas fotografia. Se é assim, lembrá-la disso com certeza é um ataque a ela. Mas seria um ataque eficiente ao seu discurso?

A Conceição no seu PS 2 se dirige a mim, explicando que para ela falsos moralistas para mim são aqueles que não seguem sequer o moralismo que pregam. E eu discordo aí, de novo, que a gente pode afirmar categoricamente que se trata de uma falsa moralista.

Vamos considerar agora que ela não se arrependeu de nada. Que apesar destas fotos serem antigas, ela faria tudo outra vez. Que acha lindo e tal. Não vejo contradição. Mulher posando nua pra revista masculina é algo super heteronormativo. Não ameaça em nada o status quo. Aqueles leitores conservadores a quem o post se dirige podem até ser realmente gratos pelos filhos terem tido a chance de bater uma punheta olhando uma moça tão bonita e garantir sua virilidade. E talvez sequer achem que não serviria para ser babá. Se ninguém mais concordar comigo, “Amar verbo intransitivo” tá aí pra não parecer que eu tirei isso da minha cabeça.

Enfim, não há nada de incoerente entre ter feitos aquelas fotos 30 anos atrás e ter este discurso hoje. O problema é ser homofóbico, ponto. Se a deputada tivesse saído direto do claustro das carmelitas descalças para tomar posse na Alerj, isso não tornaria seu discurso intolerante mais legítimo. Porque nada do que ela fez ou possa ter feito no passado conseguiria isso. E acho que quando a gente começa a discutir a pessoa, tira o foco do que realmente interessa neste caso. A Conceição em nenhum momento usou adjetivos machistas para qualificar Myrian Rios, mas hoje testemunhei gente buscando “material” para construir sua detratação misógina e o coleguinha de timeline dar o link do blog dela pra isso. Porque ela pode ter pensado crítica a uma mulher + foto sensuais = falsa moralista. Mas GERAL soma crítica a uma mulher + fotos sensuais = PUTA.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Da necessidade de ter opinião pra tudo

Escrevo um post abordando coisas diferentes com um ponto de intersecção pequeno e corro o risco de ser mal interpretada. Conto com a generosidade de você aí que está lendo pra me dar o benefício da dúvida caso algo soe mal.

Bom, começo com a propaganda da Coca-Cola, que me incomoda um tanto. Pra cada tantos corruptos existem tantos mil doadores de sangue. Os bons são maioria, etc. No mundo em que eu vivo, as coisas são mais complexas e como doar sangue é algo que se faz publicamente e ser corrupto é algo que se faz de maneira (geralmente) dissumulada, não dá pra afirmar categoricamente que quem faz um, não faz outro. Porque no meu mundo não tem nada que diga que um criminoso não seja capaz de uma generosidade. E acho que, no geral, cometer um crime, ou alguns deles, é só um aspecto da vida de uma pessoa. Não que eu não acredite que há serial killers psicopatas, pessoas que se dedicam a se dar bem em cima das outras como vilão de novela. Mas acho que, no geral, a maior parte das pessoas é capaz de coisas bacanas e de coisas mesquinhas. E algumas são capazes também de coisas horríveis. Meu critério para escolher com quem me relaciono é muito mais qualitativo (que coisas horríveis são essas) do que esse condicional bons x maus. Outro dia vi gente inteligente dizer no twitter que não existe gente mal caráter de esquerda. Que se for de esquerda “de verdade”, não é mau caráter. Sério, não posso com essas simplificações do mundo, gente.

Disso eu passo para os comentários de portais na internet. Porque quando noticiam um crime qualquer, o povo que se dedica a comentar nesses lugares curte muito ter uma opinião formada, como se tivesse a investigação tivesse sido concluída e @ comentarista tivesse tido acesso a todo o processo. Daí, maniqueísmo abunda, né? E eu me assusto com a leviandade que a internet propicia. isso de poder registrar sua opinião publicamente mesmo não sendo qualificad@ para tal. Erro que a gente pode cometer facilmente se não tiver o mínimo de cuidado.

Tento evitar ao máximo. Sou uma pessoa razoavelmente politizada, tenho um blog, gosto de dar opiniões, mas faço este esforço de não me manifestar assim, só pra marcar minha opinião. Porque tem coisas que eu não tenho condições de avaliar. Se blogueira X está brigando com blogueira Y e eu só sei do caso muito superficialmente, vou evitar ao máximo dar pitaco, pelo menos publicamente. Claro que eu sou humana, tenho minhas preferências e uma série de preconceitos. Mas tomo muito cuidado antes de fazer afirmações categóricas. Um exemplo bem concreto? Caso Battisti. Não sei o que pensar. Li um pouco a respeito, muito pouco pra me posicionar, pra saber qual é a do cara. E, olhem só, não acho que não ter opinião é um problema. Não tenho especial interesse em Relações Internacionais e isso não vai afetar a minha vida diretamente. Então, se alguém quiser me descadastrar do clube de pessoas pensantes por conta disso, não vou guardar mágoa.

Mas daí vem o ponto polêmica-mamilos deste post. Faço parte de um coletivo, as Blogueiras Feministas. Somos muito plurais e há bastante divergência interna. Tem gente lá que eu adoro, mas com quem não consigo concordar em (quase) nada. Até aí, tudo bem. Os posts no blog coletivo são assinados e quando não concordo com algo, posso ir na caixa de comentários discordar ou simplesmente deixar passar batido. Imagino que não é porque fulana do grupo pensa assim que geral vai concluir que eu, por ser do grupo, concordo também. Bom, e se concluir isso numa questão menos importante, beleza também. O fato é que eu não estou disponível pra entrar em todos os debates do mundo. E fico me perguntando até que ponto não estou sendo negligente quando eu não entro em todos os debates deste coletivo. Enfim. Vocês decidem.

*Agora o alerta: isso não significa, em momento nenhum, que estou desqualificando os debates, nem as pessoas que tem opiniões em questões que não me despertam interesse. Menos ainda que quem tem opiniões firmes em questões que eu ignoro é, necessariamente, maniqueísta. Por favor, vocês entenderam, né?

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Mulheres e guitarras

Nunca tinha ouvido falar da Kaki King. Daí a Babi Lopes falou dela na lista e chamou a galera pro show. Fez até uma entrevista com ela.

Bom, a companhia era ótima, o preço era bom, e depois de ver o vídeo no youtube, não foi difícil decidir:



Garanto pra vocês que ao vivo é ainda mais bacana. E o mais legal é que ela é absolutamente low profile: minutos antes antes do se apresentar tava encolhida num sofá no Sesc Belemzinho lendo um livro pra passar o tempo.

A Kaki King foi a primeira mulher nomeada pela revista Rolling Stone como uma "guittar god(ess)". Daí ela me fez lembrar um outra mulher, vinda de um contexto completamente diferente, mas que também se destacou neste ambiente ainda tão machista que é o dos guitarristas:



Imaginem quanta mulher talentosa tem por este mundo tocando pra caramba, mas tendo que trabalhar duas vezes mais do que os homens pra ser reconhecida? Chato, isso.