quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Sobre o voto pra senador em São Paulo

Sumi, eu sei. Se mais alguém além da fofa da Luci, que até cobrou, sentiu falta, desculpaê. Assunto não falta, nunca. Aliás, eu não sei se alguma vez eu contei aqui mas eu sou uma pessoa prolixa e que fala pelos cotovelos. E que tem que cortar às vezes parágrafos inteiros pros posts ficarem razoáveis. Mas além de tagarela eu sou também preguiçosa e instável. Então de vez em quando perco o tesão de escrever por uns dias.
Como eu continuo com preguiça, resolvi fazer um post pra linkar um debate que eu vi primeiro no post do Idelber. Depois eu fui lá na Mary W, depois na Camila e na Kellen (cujos blogs não conhecia). E o causo é que aqui em São Paulo a gente tem um problema pra escolher o 2º voto pra senador. O primeiro vai pra Marta. Mas, se for seguir a coligação, o 2º voto seria do Netinho, que se filiou ao PC do B. Netinho, pra quem não se lembra, é um pagodeiro que depois foi fazer programa de auditório. Admito que eu conheço pouco de sua trajetória, e admito até que tenho muita simpatia por ser uma liderança vinda de periferia. Só que ele é um agressor de mulheres reincidente. Daí, complica.
E bom, a discussão nestes blogs é excelente sobre os porquês de votar ou não no cara. E há coisas bem pragmáticas, que eu acho que são muito válidas, até. Respeito muito os argumentos, mas pra mim, não rola. E quero deixar claro que isso não é um dogma. Não estou dizendo que nunca, jamais, em tempo algum, votaria num cara que algum dia na vida agrediu um mulher. Não estou dizendo que o arrependimento dele não é válido e ele deve queimar no fogo do inferno. Longe de mim, que sou humano e tenho aí a minha listinha das coisas das quais eu não me orgulho de ter feito na vida. O caso é que o cara não virou um tapa numa namorada uma-vez-na-vida-durante-um-discussão-acalorada-lá-pelos-idos-de-93. Fosse essa história e, depois disso, ele arrependido, tivesse uma série de coisas muito bacanas pra colocar no seu cv, é lógico que eu olhava as coisas de outra forma. Mas o cara bateu na mulher em 2005. Tipo, anteontem. Daí se arrependeu, levou a Maria da Penha no programa dele, fez mea culpa e tal. E não tem aí uma história política consistente além de seu interesse (que eu considero muito legítimo, aliás) pela juventude da periferia.
Mas, bom, tem todo o argumento anti- Romeu Tuma. Que é mais do que válido, ô se é. Bater em mulher é horroroso, mas ser pró violência policial institucionalizada é pior. O potencial de danos à sociedade de um cara como o Tuma é incomparavelmente maior do que o do Netinho, claro. Mas o que eu estou dizendo é que eu, Iara, não consigo ser pragmática assim, de votar simplesmente porque é menos pior. E eu sou super pragmática, pra muita coisa. Meu voto na Dilma é muito mais pragmático do que ideológico, acreditem.
O que eu quero dizer, e tenho muita tranquilidade nisso, é que eu não tenho nenhum compromisso a não ser com a minha cidadania. Daí que, por mais que eu entenda que o Netinho representa um projeto político para o país que eu endosso, eu não me conformo do PC do B não ter quadros melhores. Tipo, talvez tenha, mas esse quadros não teriam tanto apelo popular, né? Beleza, eu entendo a lógica da coisa, mas não conte comigo pra fazer parte disso. Muita chance do Netinho ser eleito e não acho que isso vai ser um mau negócio. Mas fico mais tranquila se meu voto, que me é tão caro, não endossá-lo.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Adendo importante ao último post

Eu preciso sair pro trabalho e hoje prometi a mim mesma ficar menos tempo na internet, mas tem algo que eu preciso comentar a respeito do post anterior. É que eu falo isso sobre o conservadorismo da classe média paulistana, e fica parecendo que eu coloquei uma trincheira aí, um "nós x eles", o que me incomodou bastante. Ninguém reclamou, mas acho bom esclarecer: eu não acho que exista só uma caminho bom, só uma resposta válida, tipo messianismo. Eu não acho que todo mundo que lê, se informa e questiona vai votar na Dilma porque ela é a melhor e ponto. Não acho que o eleitor do Serra seja ignorante, apolitizado, voto de manada, reacinha. Eu tenho na verdade muita preguiça de gente de esquerda que pensa assim. Acho perfeitamente possível que duas pessoas inteligentes, bem informadas e, principalmente, bem intencionadas, tenham divergências sobre o que seria o melhor para o mundo, até porque estamos falando de planos que envolvem muitas variáveis. E nesse ponto eu volto atrás ao que respondi pra Amanda nos comentários: acho que até dá pra ser casado tendo visões politicas diferentes, e pode até ser um exercício interessante, mas isso depende de um respeito profundo à individualidade do outro, respeito quem nem todo mundo tem. Que talvez eu mesma não tenha: pelo menos no casamento, prefiro que as divergências sejam menores mesmo, o que não significa em absoluto que eu e marido façamos eco pra tudo, estamos bem longe disso.
O post anterior é principalmente pra criticar o discurso no sentido contrário, de que quem vota no PT é ignorante ou mal-intencionado, que se beneficia diretamente de alguma forma de corrupção. Crítica a quem, votando no Serra, acha que o eleitor do Lula é analfabeto assim como o próprio também seria. E sei que muita gente vota no Serra não pensa assim, claro. Muita gente em São Paulo, inclusive. Mas o discurso que eu, no meu meio, mais escuto, é o primeiro mesmo, infelizmente
Então, este adendo foi pra isso, pra dizer que eu respeito muito a divergência de pontos de vista. Que acredito quando uma pessoa me diz que tem argumentos bem fundamentados pra votar no Serrra, tal qual eu os tenho pra votar na Dilma. Tô aqui defendendo o meu lado, mas respeito tem que ser uma via de mão dupla, né? Sempre.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Pontos fora da curva

Hoje aconteceu uma coisa engraçada no trabalho. Alguém veio me perguntar se eu achava que a Dilma ia ganhar no 1º turno. Assim, do nada. E eu respondi que provavelmente sim, mas que existem dois fatores cujos impactos as pesquisas não tinham condições de avaliar, cada um pendendo para um lado. Um é o fato da herança no número 13 que é muito forte como o número do Lula, mesmo entre quem ainda não sacou que a candidata é ela. Outra era a exigência de dois documentos para votar, uma novidade pouco divulgada. Daí alguém comentou com um tom meio alegrinho que “o povo ignorante que vota na Dilma e ganha bolsa família” não sabe disso. Mas todo mundo meio que mimimi e perguntaram o que eu achava. E eu disse que era suspeita porque não só ia votar nela, como já comprei minha passagem pra assistir à posse em Brasília. Ficaram com aquela cara de tacho de: “jura?”. Juro, respondi. Sou petista de pai e mãe. E alguém perguntou se eu gostava do PT ou dela e eu respondi que gosto de ambos. Silêncio. Todo mundo voltou a trabalhar, assunto encerrado.
No trabalho do marido é sabido que só ele e uma colega são eleitores do PT. E um dia um cara veio com discurso de que falam tanto que o país melhorou, mais ele ainda tem que pagar escola particular pros filhos. Marido explicou que, oi, o responsável pela escolas de Ensino Médio é o governo estadual, do partido que está há quase duas décadas no comando de São Paulo, justamente o partido do Serra que era, ele mesmo, governador até anteontem. E como marido não deixa barato, falou pro colega se informar melhor pra não passar vergonha na próxima – e de repente, quem sabe, votar no Mercadante dessa vez, se o que ele quer é mudança.

Esses casos são exemplo de uma coisa que é muito clara pra mim: as classes média e média alta paulistanas não estão acostumadas a alteridade. Não que o ser humano assim, no geral, não seja resistente à diferença. Mas é que o nível de renda e de escolaridade mais alto aqui não contribuem para visão mais ampla do mundo. Acham realmente que sua vida é o padrão, a norma, que o resto é ponto fora da curva. Daí o discurso só varia na hora de falar de futebol mesmo (e um dos colegas ainda brincou: “você é corintiana E petista?”). E a eleição do Lula, ao meu ver, trouxe mesmo esse ranço de que nós (porque se eu não compactuo com discurso, também não nego minha posição social) não somos maioria. Que há no país milhões de pessoas que não têm nossas referências, nossas prioridades, e têm direito à cidadania. E esta minoria então estranha muito quando encontra, eventualmente, alguém que não recebe Bolsa Família, fala línguas estrangeiras, frequenta restaurantes e usa perfume importado, trabalha duro, paga Imposto de Renda mas não faz coro com o discurso de lula-analfabeto-ignorante-petralha-vagabundo-etc-etc.

Em 2002 eu trabalhava naquela empresa super elitista e escrotinha. E foi o ano da eleição do Lula, então, toda uma experiência observar estes colegas. Tinha um cara que era reconhecidamente super alienado, até para os padrões de lá. Contavam que uma vez o levaram pra visitar varejo na periferia, parte de um trabalho de pesquisa de mercado, e ele ficou chocado. Em dado momento perguntou, se referindo à pobreza do bairro visitado: “nossa, mas o que é essa miséria toda?”. E alguém respondeu: “ué, isso é São Paulo, mané! achava que acabava em Moema?”. Pois então, esse cara tinha certeza de que o Lula ia “transformar o Brasil em Cuba”. Repito, em 2002, não em 89. E tinha um papo hilário do povo que não entendia como o Lula tinha aquele percentual de intenções de votos, se eles “não conheciam ninguém que ia votar nele”. Uma colega, engenheira, chegou a dizer que fizeram uma pesquisa no prédio dela e ninguém lá ia votar no cara. Alguém sabe me dizer se no curso de engenharia estuda-se alguma coisa de estatística? Porque no de Letras não, mas eu sei que um condomínio fechado em São Paulo, de um edifício com 3 vagas de garagem e nome provavelmente em inglês NÃO é um microcosmo representativo do país. Logo fica difícil fazer alguma projeção numérica confiável com essa amostragem tão pouco diversa, né?

Essa minha aversão à mentalidade tacanha à minha volta me trouxe um presente dos melhores: meu marido. Digamos que nosso primeiro encontro não foi exatamente um sucesso, e o moço não deixou uma impressão das melhores. Mas, em algum momento, ele fez um comentário elogioso à gestão da Marta Suplicy na prefeitura e pediu desculpas por tocar no assunto se isso de alguma forma me ofendia, mas o fato é que ele era “um mocinho de esquerda” (desse jeito, olha que fofo?). E eu sorri e respondi que, tudo bem, eu também era uma mocinha de esquerda. E, ao fazer o saldo daquela noite meio desastrada, pensando se eu dava uma chance ou não pra aquela história continuar, este comentário pesou, porque é meio difícil encontrar gente de esquerda nos ambientes que eu frequento, ainda mais depois de ter terminado a faculdade. Enfim, liguei pra ele, dei mais uma chance a nós dois, e ganhei, além de um marido, o meu interlocutor mais querido. Brincamos que, se um dia oficializarmos a união, vamos ter que chamar a Marta pra madrinha...

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

9 caminhos

A Aline fez este post seguindo o meme, e nos comentários disse que pensou em passá-lo pra mim. Ela disse que ficou em dúvida sobre que raio de 9 coisas. Eu também, na verdade. A solução que ela encontrou foi o post fofo sobre os bichos de estimação. A minha também vai ser monotemática, porque eu lembrei que já tinha pensado em fazer posts sobre as coisas que eu gosto ou com as quais já trabalhei. Eu já contei aqui que eu sou perdida e tal, mas nunca contei o quanto. Daí no final de semana alguém me disse que se não fosse geógrafa, teria que nascer de novo, e que tinha pena das pessoas que chegam à maturidade sem saber o que querem da vida (oi? prazer!). E eu tentei explicar que eu sou assim não porque o mundo me é indiferente, porque não tenho paixões, mas justamente porque me interesso por muitas coisas. Então pensei em contar aqui sobre as coisas que eu já pensei em estudar, os empregos que eu tive, os caminhos que eu avaliei. Periga vocês acharem quem tem algo de ficção porque, né, eu só tenho 30 anos. Mas eu juro que é tudo sério.

1. Técnica em edificações (futura arquiteta ou engenheira civil)
Quando eu tinha 14 anos meu pai ficou desempregado, e eu achei que seria uma boa mudar pra uma escola pública. Até então, a única escola técnica profissionalizante que eu tinha ouvido falar era o Senai. Mas me informei e conheci outras. Como eu ia muito bem em matemática naquela época, achava que seria engenheira. E como eu já não gostava de eletricidade naquela época, escolhi o curso que me parecia mais simpático. Cheguei a fazer estágio num escritório de arquitetura, desenhando plantas (com tinta nanquim e papel vegetal ainda, nada de computador) e divulgando os produtos de uma fábrica de metais sanitários (meus primeiros rendimentos, aos 17 anos). Alguns amigos daquela época seguiram carreira. Outros, como eu, terminaram o curso com uma única certeza: de que aquilo não era o que queriam da vida.

2. Recepcionista/ Secretária
Bom, eu não cheguei a terminar meu curso profissionalizante. Naquele tempo, cursando 3 dos 4 anos, a gente podia pegar o diploma de 2° grau (é, eu sei que hoje se chama Ensino Médio) e cair fora. Foi o que eu fiz, mas já tinha decidido trabalhar enquanto fazia cursinho e pensava na vida. Então fui procurar emprego de recepcionista bilíngue, pra fazer valer a grana investida em anos de aulas da Cultura Inglesa. Consegui. Trabalhava numa empresa que sublocava espaço para outras menores e fazia a administração da coisa, como se fosse um flat (aluguel + serviços) só que comercial, não residencial. Às vezes me sentia como caqueles chinezinhos que rolam os pratinhos nas varetas tentando equilibrar todos, manjam? Imagina ter 5 pessoas na espera do telefone e mais 3 paradas na sua frente? Depois de alguns meses fui promovida a assistente administrativa mal sabendo usar o Office. Todos os dias ficava até tarde tentando aprender, faltando às aulas do cursinho. E aprendi (e consegui passar no vestibular também). Na verdade é graças a essa trajetória que pago minhas contas até hoje, porque eu amadureci demais e me desenvolvi muito profissionalmente. Não vou colocar o meu CV aqui, mas o fato é que fui mudando pra empregos que pagavam melhor, em empresas mais bacanas. Cheguei a ser assistente de um alto executivo numa montadora. Ser secretária tem um lado sacal, que é o de ser babá de gente grande, mas tinha um lance que eu sempre curti, que era tratar com todo mundo, de todos os níveis hierárquicos da empresa. Apertar a mão do presidente e tomar um café com os boys comentando o último jogo do Corinthians era uma parte interessante.

3. Professora
Em dado momento, cheguei à conclusão de que era muito nova pra fazer carreira, que era uma bosta chegar à faculdade tão cansada e que eu não queria trabalhar neste universo corporativo escroto. Pedi demissão pra dar aulas. Eu já tinha tentado dar aulas de inglês antes de entrar na faculdade, mas o fato é que não era boa o suficiente. Já o Espanhol eu aprendia como carreira. Então passei um tempo dando aulas de Espanhol, Português para Estrangeiros, Redação e o que mais aparecesse (acho que cheguei a substituir uma professora de inglês uma vez – mas só uma). Os planos eram seguir carreira acadêmica e virar professora de Literatura. Parece que eu até fazia tudo direitinho e os alunos curtiam minhas aulas. Mas eu queria ficar um tempo fora e larguei tudo para passar um ano na França aprendendo mais um idioma. E na volta nem tava mais a fim de fazer isso.

4. Babá
O ano que passei na França me sustentei como jeune fille au pair, a moça que se instala na casa de uma família estrangeira e cuida da(s) criança(s) e de alguma tarefa doméstica (no meu caso, passar aspirador de pó na casa) em troca de abrigo, comida, uns trocados e intercâmbio cultural. É uma experiência que dificilmente tem meio termo – ou é muito bacana, ou é traumática. No meu caso foi bem tranquilo, tenho contato com a família até hoje. Chegaram a me receber por uns dias na casa deles ano passado quando estive em Paris a passeio. E foi uma tremenda lição de tolerância. Passei a ter um respeito tremendo por empregada que dorme na casa dos patrões. Imagina ouvir bronca do chefe morando na casa dele? Não é pra fracos, definitivamente.

5. Relações Internacionais
Agora começa o campo do que poderia ter sido. Cheguei a procurar um Mestrado sobre o tema na França, mas colocaram algum obstáculo em relação ao meu histórico que me fez perder o tesão. Voltando ao Brasil, me inscrevi numa pós que tinha como tema o desenvolvimento social da América Latina. Não abriram a turma por falta de interessados, nunca mais ofereceram o curso e eu fiquei bem chateada.

6. Métiers du Livre – ou Editora
Outra coisa que me interessa muito: todo o processo de edição e distribuição de livros. Também vi uma pós do assunto na França – e nessa só admitiam, pra meu infinito desgosto, gente que tinha cursado Comunicação Social ou Editoração. Quando voltei, fui procurar cursos aqui e descobri que em São Paulo o único lugar que oferece é a Universidade do Livro, ligada à Editora da Unesp. Não fui porque os planos mudaram de novo (oi?), mas recomendo, parece que a coisa é boa.

7. Gestora Ambiental
Cheguei a procurar uns cursos na área, porque produção limpa é uma coisa que muito me interessa (e agora escuto o Plínio de Arruda Sampaio me chamando de “ecocapitalista”). O interesse começou quando eu trabalhei, por longos 8 meses, numa indústria nacional. O Diretor Industrial me contratou porque se impressionou com meu CV, digamos, diversificado. Achou um luxo ter uma assistente que falava francês mas também tinha feito curso técnico – peão e lady ao mesmo tempo, segundo o ponto de vista dele. Daí ele me mandava nas reuniões de fábrica e eu viajava ouvindo o povo reclamar de máquina com defeito, achava tudo uma chatice. Eu odiava este emprego com todas as forças, mas queria muito gostar, e achei que a pós pudesse ser o caminho. Bom, cheguei à conclusão que produção mecânica está entre as coisas que eu não gosto. Depois de sair do emprego, continuei interessada por um tempo. Mas passou rápido.

8. Trabalhar com comida
Comida é uma das minha grandes paixões. Eu adoro comer, adoro ir a restaurantes, adoro cozinhar, adoro ler sobre o assunto, adoro pensar questões políticas ligadas à produção de alimentos, aos nossos hábitos, enfim. Acho que dá pano pra manga, rende teses, inspirador mesmo. O foda é que eu não sei se gosto dessas coisas profissionalmente falando. “Porra, Iara, mas você disse que é paixão!”. Veja bem: é e não é. Mas eu pesquisei uns cursos no Senac de administração de serviços de alimentação. Mas o mais legal mesmo, que quando sobrar tempo e dinheiro (ou seja, nunca) eu devo fazer, é um curso que seria como uma Sociologia da Alimentação. Sabe pensar a comida numa perspectiva histórico e cultural? Pirei. Mas, né? Sei lá. Quem sabe eu mude de ideia de novo...

9. Administração – privada e pública
Daí que hoje eu sou uma assistente administrativa. Sou responsável por uma série de tarefas, de muito práticas à essencialmente burocráticas, num escritório pequeno de uma multinacional finlandesa. Não tá uma maravilha e eu poderia ganhar mais como secretária bam-bam-bam, mas daí eu lembro que ia ter que ser babá de executivo de novo e me conformo de ganhar menos. Além de que secretária é uma criatura infeliz que depende da agenda do chefe pra tudo, do almoço às férias, muitas vezes. E secretária nunca vai a lugar algum – e eu já fui mandada pra Helsinki pra fazer um treinamento, o que não deixa de ser divertido. E, voltando à ocupação, eu gosto muito de resolver problemas práticos, fazer coisas acontecerem. Gosto mesmo. Na verdade, penso que eu queria trabalhar resolvendo problemas grandes, gerindo questões de emergência. Lembram quando caiu aquele avião da Gol na Amazônia? Uma tragédia, eu sei, mas só conseguia pensar na logística envolvendo as buscas. Mesma coisa com o socorro à vítimas de enchente – fico aqui mentalmente pensando que precisa de água, de remédios, mas também de um plantão jurídico pra tirar os documentos de quem perdeu tudo. Enfim. E o curso que eu faço hoje, a pós que eu finalmente escolhi e tô adorando, é de gestão pública e urbanismo. Então cada vez mais eu penso que eu vou ter é que considerar a possibilidade de meter a cara nos livros por um bom tempo e tentar um concurso público. Mas ainda não sei. Complicada, eu?

Nem mencionei que o meu primeiro vestibular foi pra Jornalismo, porque daí viravam 10. Acho até que vocês iam achar um pouco demais (ou não?). E bom, parece que a ideia é indicar 9 pessoas pra repassar o tema. Eu tenho medo de passar tarefas assim às pessoas, porque elas podem ficar constrangidas – embora eu tenha adorado a indicação da Aline. Então, façam o seguinte? Quem comenta aqui sempre tá convidada a me contar 9 coisas. Vou adorar saber mais sobre vocês.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

65 anos de subversão

Amanhã é aniversário do meu pai. E eu, que sou a super-queridinha ainda não escrevi um post sobre ele. Meu pai é assim: o sujeito mais tranquilão do mundo, e o sujeito mais subversivo ao mesmo tempo. Não fuma, parou de beber há anos, nunca se drogou, mesmo com alimentação é um sujeito comedido – só não deixe uma goiabada e um bom queijo perto dele, porque, na volta, periga não encontrar nada. Minha mãe faz um sucesso danado, porque é muito mais expansiva, mas é possível não ir com a cara dela, porque ela pode parecer invasiva pra quem for muito reservado, por conta justamente de seu excesso de entusiasmo. Como meu pai é mais na dele, é mais difícil despertar reações intensas, para o bem ou para o mal. Costumo dizer que quem não vai com a cara dele tem algum problema, porque ele simpatiza sem invadir seu espaço, sabe? E é um sujeito super tolerante. Lembro da adolescência, ir em baladas com amigas, e a gente achar um carinha bonitinho, mas elas dizerem que “já imaginou apresentar para o pai”? Pois é, meu pai nunca foi esse pai de família padrão, cidadão de bem aos moldes do Professor Hariovaldo. Nunca aconteceu, mas tenho certeza que ele não se assustaria com um genro de dreads músico alternativo. Quando eu fiz a minha tatuagem, o único comentário foi que ele achava burrice pagar caro para se auto infligir dor. Tipo, ele não conseguia conseguir entender o sentido, mas não era um problema moral, nunca foi.
Mas tem mais. Várias situações em que eu constatei que tinha um pai diferente. A primeira vez que eu anunciei que ia à Parada Gay, ele ficou pensativo e disse que não gostava muito de aglomerações, mas achava que deveria ir também pra expressar apoio, afinal a manifestação era pró direitos civis, direitos que são os dele também, oras. E bom, eu sou a conservadora lá de casa, votando na Dilma. Meu pai vai votar no Plínio e meu irmão vai anulá-lo, porque é anarquista há anos. E lembro do meu pai contemporizando sobre o anarquismo do meu irmão. Dizia que meu irmão estava certo no fundo, que se o Estado só servia pra reprimir a população, garantindo a manutenção garantindo o status quo, há que rebelar-se, afinal (!!!). Não imaginem meu pai um sujeito de longas barbas, sandálias de couro e camisetas surradas. Meu pai tem horror a camisetas surradas. Não gosta que a gente use nem pra dormir. É um senhor sem ostentação, mas muito bem apresentável, não combina com este estereótipo do comunista-sujinho.
Tem mais, quando ele se aposentou, fez uma caminhada de 300km entre Águas da Prata e Aparecida do Norte, chamada “Caminho da Fé”, e promovida como uma espécie de Santiago de Compostela brasileira. Mas meu pai é ateu, foi pra curtir o visual, e o desafio. Ele foi educado em seminário, e teve momentos e reaproximação de Igreja. E quando ele se reaproximou, foi pra participar. Ele não conseguia só ir à missa aos domingos. Não tem meio termo pra ele: um dia participa da liturgia e faz a celebrações quando o padre não está, no outro conclui que não acredita em nada disso e é ateu. Quando ele se afastou, o pessoal da Igreja achou que ele tinha se desentendido com o padre. E foram lá em casa perguntar o que rolava. Abordavam minha mãe na Igreja e tal. E ele virava pra mim, super constrangido, me perguntava como ia fazer pra contar pras pessoas que “olha só, Deus não existe. Até tentei embarcar nessa com vocês, mas não rola...”.
Meu irmão usou cabelos compridos por anos. Dos 13 aos 22, mais ou menos. E as pessoas achavam que meu pai poderia se incomodar com aquilo. E nunca se incomodou, nunca achou aquilo importante. Quando meu irmão tinha uns 14, começou a fazer um curso técnico numa escola que, dizem, era financiada pela Opus Dei. E tava nas regras deles que todos os ingressos não poderiam ter cabelos longos. E todo mundo que entrava lá, cortava, e as famílias achavam bacana, porque era um bom pretexto. Só que meu irmão não queria cortar de jeito nenhum. E meu pai foi lá, com a Constituição nas mãos, defender meu irmão, dizer que eles não podiam fazer isso. Que lamentava por quem tinha sofrido a pressão, mas que era inconstitucional essa interferência na aparência das pessoas. Lógico que meu pai achava roubada o lance da Opus Dei, mas meu irmão teve que chegar a essa conclusão sozinho (e se hoje ele é anarquista, vocês podem concluir que sim, ele chegou).
Ah e tem outra ótima. Semestre passado meu pai concluiu o curso de Ciências Sociais. A quarta faculdade dele, mas ele achava que as outras (Filosofia no seminário, Administração e Contábeis numa particular bem ruinzinha) não tinha dado uma formação bacana, e queria ter essa experiência. E ele passou no vestibular com 60 anos. Os colegas mais novos do que eu, claro. Mas ele sempre teve um tremendo simancol, nunca tentou bancar o garotão, mas fazia um esforço sincero pra se integrar aos colegas sem estabelecer nenhuma espécie de hierarquia. Lembro de uma vez ele angustiado porque o grupo com o qual trabalhava tava meio devagar pra começar o trabalho, e ele não queria tomar a frente da coisa pra não parecer etarista. E durante a faculdade uma das minhas primas se casou no religioso. Irônico que só, meu pai não se segurou quando o cunhado entrou conduzindo a noiva ao altar, me cutucou e falou baixinho “lição de Antropologia: agora a gente vende a mulher pro outro clã”. Eu mereço?
Mas talvez a história mais marcante pra mim tenha sido sobre sua participação na militância. Eu sabia que meu pai tinha lecionado História quando era mais jovem, logo depois da faculdade de Filosofia. E muitos professores meus na escola diziam ter fugido da polícia durante a ditadura. Mas apesar de meu pai votar desde sempre no PT, quando pequena eu ainda tinha uma imagem dele como pacífico e careta, até. Um dia eu perguntei se ele tinha fugido, meio que tirando um barato. E ele contou que não fugiu porque não tinha conseguido, foi preso antes. Aos poucos eu fui sabendo dos detalhes, foi em 74, ele estava circulando um abaixo-assinado contra a carestia, ficou 4 meses preso, foi submetido à torturas, teve os tímpanos estourados (e portanto não suporta som alto não por ser careta, mas por uma espécie de sequela). Foi julgado e absolvido. Só recentemente fiquei sabendo que meu tios mais novos foram também presos e sofreram humilhações, como uma maneira de coagir meu pai. E ele delatou companheiros, porque não podia arriscar que machucassem seus irmãos (sua irmã, em especial - e vocês podem imaginar que tipo de ameaça fizeram). Meu pai estava sendo preparado para entrar na luta armada, mas depois do trauma da prisão, e principalmente da culpa pelo sofrimento dos irmãos, abandonou a militância. Mas é muito enfático em dizer que, sim, ia pegar em armas se fosse o caso, porque os tempos eram outros. E alguém acha que vai mudar meu voto me mandando e-mail que chama a Dilma de terrorista... Em 2004, quando o golpe completou 40 anos, vi o meu pai chorar pela 1ª vez na vida. Chorou 2 vezes na mesma semana, lembrando da tortura a que pessoas conhecidas foram submetidas.
Como o último parágrafo foi pesado, deixo uma coisa leve pro final. Porque meu pai é muito leve, apesar de tudo; ele não arrasta peso pela vida. Por conta de um erro, coisas da roça, de quando se registravam as crianças todos juntas depois de muitos anos, a certidão de nascimento do meu pai traz a data de 02 de setembro, e não 8, como comemoramos. E dia 3 liguei pra minha mãe pra tirar um barato, perguntar se meu pai sabia que podia pegar ônibus de graça. E ele já tinha ido lá, providenciar a carteirinha de gratuidade para idosos. É ou não é um subversivo fofo?

(Marido fez aniversário ontem. E não ganhou post exclusivo, pelo menos não ainda. Marido, fica com ciúme não, tá?).

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Quando a vítima vira ré – ou Badinter na prática

Então meu lado B é ler notícias sobre celebridades e subcelebridades de vez em quando. Eu tenho mais o que fazer e deveria gastar meu tempo em algo que preste, eu sei, mas entre um relatório do Excel e outro, as vezes a gente precisa ver coisas que não exijam reflexões profundas, nem comentários elaborados. Famosinhos tem esse efeito sobre mim, geralmente: descontraem por alguns minutinhos. Daí esvazio a cabeça um pouco e volto pra terminar aquele relatório chato que ninguém vai ler. Ó ,vida.
Mas então, sobre o Dado eu já comentei. E a gente sabe que a lógica machista diz que nenhuma mulher apanha sem motivo. Quer dizer, o motivo nunca é porque o agressor é violento, a vítima tem que ter alguma responsabilidade. No caso do Luana era fácil, porque ela não prima pela simpatia nem pela auto-repressão, mas e essa pobre moça que casou com ele no religioso, mãe de uma criança de colo? Como culpá-la? Eu tava esperando, e nem demorou.
Apesar de dar um entrevista pra Veja em que diz que “nunca bateu pra machucar” (oi?), publicaram por aí que as testemunhas contra o Dado foram coagidas a depor. Considerando meu horror a condenações prévias, tive meio segundo de dúvida se deveria ter feito um post chamando o cara de agressor. Meio segundo porque eu lembrei, em seguida, que ele já foi condenado por agressão. Quer dizer, pode não ter batido na atual, mas na anterior com certeza, o que isenta minha acusação de leviandade. E, claro, ele pode perfeitamente ter batido na esposa sem as empregadas terem visto.
Mas, enfim, tem a cereja do bolo, né? Aqui a gente fica sabendo que o marido agressor só estava preocupado com a alimentação do filho. Se você não tá afim de clicar lá, eu explico: as mesmas funcionárias que disseram que foram coagidas a depor contra o Dado afirmam que o motivo das brigas do casal era a alimentação da esposa, que está amamentando. Em tão poucas linhas a gente vê a teoria da Badinter se afirmar com “dicumforça”. Quer dizer, o cara não pode dizer que ele é opressor. Mas quem vai ser contra as necessidades de um bebê, minha gente! E, olha, eu não li os comentários, mas certeza de que tem gente endossando este discurso. Que “onde já se viu ficar se entupindo de refrigerante quando se tem um filho pra amamentar”. Pra completar, a testemunha das brigas diz que o zeloso pai cobrava da esposa sua obrigação de amamentar o bebê até os dois anos porque ela “não faz mais nada”.
Isso tudo tinha link na home globo.com. Globo, aliás, grande incentivadora da porradas educativas em mulheres mal comportadas. Quer dizer, notícia de massa, o tipo de coisa com potencial pra formar opinião mesmo. Então fica claro como o dia a condenação e o estigma de quem apanha, não de quem bate. Eu tô muito otimista com a eleição da Dilma, já comprei minha passagem pra Brasília, até. Acho que vai ser um momento importantíssimo para as mulheres deste país. Mas não me iludo: uma cultura machista como a nossa, com tanto respaldo midiático pra continuar reproduzindo certos modelos, não se muda da noite pro dia.