sexta-feira, 27 de abril de 2012

Intertextualidade

Curto muito reconhecer intertextualidades não expressas. Porque algumas influências são declaradas, ms outras podem gritar na nossa frente sem que a gente se dê conta. E eu fico me achando sabida quando mato algumas charadas, porque daí eu me convenço que ok, eu tenho uma bagagenzinha, dá pra brincar de espertona.Vejam bem, não tô falando de reconhecer que "Cosmotron", do Skank, é clube da Esquina e Beatles batidos no liquidificador. Isso salta aos olhos mesmo. Mas por exemplo, o Chico escreveu Budapeste. E tá lá todo o sofrimento do protagonista para aprender húngaro. E bom, tinha o Paulo Rónai, parceiro do Aurélio (o do dicionário) em alguns trabalhos, que imigrou pro Brasil e escreveu um livro chamado Como aprendi português. Que eu não li, aliás, mas sei que existe. O Paulo Rónai e o Aurélio Buarque de Hollanda são os organizadores de uma coletânea de contos esgotada na editora, que se chama Mar de Histórias, e de vez em quando entro num sebo virtual e compro um volume dela pra mim. São nove, acho que eu tenho uns quatro (e acho que até já contei tudo isso aqui). Então taí, o Chico com certeza leu Paulo Rónai e talvez tenha até conversado com o próprio sobre isso, ainda que o livro tenha sido publicado 10 anos depois da morte do tradutor e crítico húngaro.

Mas, enfim, tem nada a ver com Budapeste o post. Eu adoro novela. E, desculpe aí a pretensão (hoje eu tô insuportável, eu sei), faço análise de texto, enredo e composição de personagem. Assisto novela com muita atenção. E a novela das nove é um sucesso, super bem escrita, curto muito. Eu já tava encucada que a protagonista, Nina, tinha muito da Lisbeth Salander: a sede de vingança, a magreza andrógina e até a moto. Tava claro pra mim que uma das fontes era essa. Daí hoje, enquanto eu estava procrastinando a faxina, me caiu a ficha da outra influência:



Não tenho certeza absoluta. Mas a Nina da novela tem uma leveza, uma elegância e um refinamento que, óbvio, não são da Lisbeth. Além de ser culta, emprestar livros para o patrão, ele é chefe de cozinha. Ela tem um gosto elitista que contrasta com sua temporada no lixão e, principalmente, com os hábitos suburbanos dos patrões. E bom, balé clássico é algo bem elitizado. Além do nome, as protagonistas do filme e da novela tem em comum o conflito interno. A Nina do filme era reprimida, quase asséptica de tão disciplinada, e tinha uma dificuldade enorme de externalizar seus sentimentos. A Nina da novela reconhece e externaliza, mas tá lá sofrendo, entre Eros e Tânatos. E é esse todo o mote da novela, se haverá final feliz e rendenção, se Eros vai vencer. Até agora acho que a Nina tem toda a cara de personagem que morre no final, mas acho que um autor tem que ser corajoso demais pra fazer isso com sua protagonista.

Eu posso estar viajando, né? Claro que posso. Mas vocês não tem noção do quanto eu curto reconhecer essas coisas. Sabe criança que encontrou o ovo de páscoa escondido pelo coelhinho. Então. Desse jeito.