quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Quando a vítima vira ré – ou Badinter na prática

Então meu lado B é ler notícias sobre celebridades e subcelebridades de vez em quando. Eu tenho mais o que fazer e deveria gastar meu tempo em algo que preste, eu sei, mas entre um relatório do Excel e outro, as vezes a gente precisa ver coisas que não exijam reflexões profundas, nem comentários elaborados. Famosinhos tem esse efeito sobre mim, geralmente: descontraem por alguns minutinhos. Daí esvazio a cabeça um pouco e volto pra terminar aquele relatório chato que ninguém vai ler. Ó ,vida.
Mas então, sobre o Dado eu já comentei. E a gente sabe que a lógica machista diz que nenhuma mulher apanha sem motivo. Quer dizer, o motivo nunca é porque o agressor é violento, a vítima tem que ter alguma responsabilidade. No caso do Luana era fácil, porque ela não prima pela simpatia nem pela auto-repressão, mas e essa pobre moça que casou com ele no religioso, mãe de uma criança de colo? Como culpá-la? Eu tava esperando, e nem demorou.
Apesar de dar um entrevista pra Veja em que diz que “nunca bateu pra machucar” (oi?), publicaram por aí que as testemunhas contra o Dado foram coagidas a depor. Considerando meu horror a condenações prévias, tive meio segundo de dúvida se deveria ter feito um post chamando o cara de agressor. Meio segundo porque eu lembrei, em seguida, que ele já foi condenado por agressão. Quer dizer, pode não ter batido na atual, mas na anterior com certeza, o que isenta minha acusação de leviandade. E, claro, ele pode perfeitamente ter batido na esposa sem as empregadas terem visto.
Mas, enfim, tem a cereja do bolo, né? Aqui a gente fica sabendo que o marido agressor só estava preocupado com a alimentação do filho. Se você não tá afim de clicar lá, eu explico: as mesmas funcionárias que disseram que foram coagidas a depor contra o Dado afirmam que o motivo das brigas do casal era a alimentação da esposa, que está amamentando. Em tão poucas linhas a gente vê a teoria da Badinter se afirmar com “dicumforça”. Quer dizer, o cara não pode dizer que ele é opressor. Mas quem vai ser contra as necessidades de um bebê, minha gente! E, olha, eu não li os comentários, mas certeza de que tem gente endossando este discurso. Que “onde já se viu ficar se entupindo de refrigerante quando se tem um filho pra amamentar”. Pra completar, a testemunha das brigas diz que o zeloso pai cobrava da esposa sua obrigação de amamentar o bebê até os dois anos porque ela “não faz mais nada”.
Isso tudo tinha link na home globo.com. Globo, aliás, grande incentivadora da porradas educativas em mulheres mal comportadas. Quer dizer, notícia de massa, o tipo de coisa com potencial pra formar opinião mesmo. Então fica claro como o dia a condenação e o estigma de quem apanha, não de quem bate. Eu tô muito otimista com a eleição da Dilma, já comprei minha passagem pra Brasília, até. Acho que vai ser um momento importantíssimo para as mulheres deste país. Mas não me iludo: uma cultura machista como a nossa, com tanto respaldo midiático pra continuar reproduzindo certos modelos, não se muda da noite pro dia.

11 comentários:

  1. Sabe que eu fico pensando nesse negocio de transformar a vitima em culpada e me veio a tona que tal qual vc colocou, o Dado pode ter batido ou nao na esposa. E quem vai saber exatamente, neh? O negocio eh ficar martelando a noticia ateh demonizar a figura da ex esposa do Dado de forma que ela se torne a monstrinha da historia.


    Eu penso entao que a Luana teve a 'sorte' de ser agredida em frente a testemunhas inclusive a agressao foi filmada pelo circuito interno de uma boate. Alem claro, dele ter machucado a camareira que tentou apartar uma briga. Esse negocio com a Luana comecou quando ela traiu o Santoro. Para a Globo super hiperconservadora entao, ela eh o demonio. Ela traiu, ela eh arrogante, eh linda e tem talento. Prato cheio para homem machista dizer que 'da jeito neste tipo de mulher'. Porque a gente ta sempre sendo classificadas por tipos o tempo todo. Todos esses adjetivos, positivos ou negativos, dao direito a esses homens de tentar nos 'consertar'. Eles tentam ganhar uma discussao na violencia: batem ou ateh mesmo estupram. Eu imagino um Dado da vida diante de uma Luana. Da arrogancia dele de saber que tem mais forca fisica e atacar ela. Da inseguranca dele diante de uma mulher como ela. Se bem que penso que ele deu uns gritos na Vanessa quando eram namorados.

    Yara, eu queria perguntar sua opinia sobre uma coisinha - tu acha que a mulher vitima de violencia domestica que, entra e sai de relacionamentos doentios, tem que procurar ajuda psicologica? Explico, a mulher deve se tratar porque ta sendo repetindo um padrao nas escolhas dos companheiros? Sempre escolhe companheiros abusivos...etc.

    bjim

    ResponderExcluir
  2. Olha, eu acho que uma mulher que repetidamente se envolve com sujeitos assim pode estar precisando de ajuda psicológica, sim. Mas não tenho certeza, porque tem muita coisa envolvida, né? Há lugars mais machistas que outros. Em algumas comunidades ou sociedades pode ser mais frequente que os homens sejam mais agressivos. Daí, o modelo de comportamento é aquele. Não tô dizendo que daí, tudo bem, mas daí não há muita escolha. Eu namorei um bom tanto na vida e nunca fui tratada com agressividade por ninguém. Então, respondendo pelo meu meio, se eu conhecesse um mulher que repetidamente se envolve com sujeitos agressivos e sofre por isso, sugeriria que investigasse o porque de suas escolhas.

    Sobre a Luana, concordo com o seu ponto. Se não tivesse câmera, iam dizer que ela é uma vaca que inventou história pra aparecer.

    ResponderExcluir
  3. Por falar em Dilma, eu já ando pensando nisso. Agora é quase certo que ela seja eleita, essa mulher vai ter que ter nervos de aço porque vão pegar pesado com ela. Qualquer erro que houver, e erros sempre ocorrem, vai provocar uma chuva de comentários machistas sobre falta de capacidade de mulher...

    ResponderExcluir
  4. Eu acho é graça quando um cara desses abre a boca pra falar que bateu sem ter tido a intenção de machucar. (Aham, senta lá, Dado e cia. Desde quando cacete não machuca, ô palhaço?!) Fechar a mão pra dar um soco ele sabe, ou abri-la para atritar com gosto no corpo de uma mulher...

    Ele, felizmente, não chegou a bater, pelo que entendi, na esposa dele, porque ela não é uma Luana Piovanni da vida como a Mari disse. Não teve a "audácia" de enfrentar o ser "supremo" e "dócil" que é o senhor Dado.
    Se, de fato, a ex-esposa dele coagiu a empregada a mentir... É lamentável! Porque ela perde crédito, né?! Quem vai acreditar nela depois? Fica difícil mesmo sabendo a peça que é o ex-marido dela...

    ResponderExcluir
  5. Eu acho que temos que repetir à exaustão, até todo mundo aprender que ninguém merece apanhar, por pior que seja o ato que cometeu. Temos que parar de achar que violência é demonstração de poder, um pai bate no filho porque se sente no direito de fazer isso, se sente dono do filho, o mesmo com homens que batem em mulheres, eles se sentem donos delas.

    E se a Dilma realmente for eleita vai ser tão importante pras mulheres. Eu digo "se" porque apesar das pesquisas tenho minhas dúvidas, pelo menos aqui em SP o povo, mesmo os mais pobres, são direitistas enrustidos, ninguém assume que vota no PSDB, mas esse partido misteriosamente sempre acaba ganhando.

    ResponderExcluir
  6. Laurinha,

    Nervos de aço, com certeza. Vão pegar pesadíssimo com ela, e a gente vai passar muita raiva por isso. Mas eles vão passar mais por ela ter ganhado, com certeza.


    Glória (e Mari ainda),

    Então, se o cara afirmou que "não bateu pra machucar", tá confessando que bateu, ué. Fosse acusação em falso, o cara se indignava e fazia discurso contra a violência, mea-culpa no caso da Luana, enfim. Mas , não, né? Se ele tá procurando justificativa, é porque bateu, sim.

    Ashen,

    Que medo deste seu "se". Entendo bem, mais minha pasagem pra Brasília é não-reembolsável! Mas, enfim, você tem razão, esta é uma terra de gente conservadora. Mas, por sorte, Brasil não é São Paulo. Por isso eu acho que vai rolar, sim.

    ResponderExcluir
  7. Iara, gostei batsante do seu post e concordo com tudo o que vc falou. Agora queria dar uma opinião sobre esse caso: caramba, O Dado já tinha um histórico de ter batido na Luana. E a tal da Viviane , sabendo disso, vai lá, se envolve com ele e rapidamente engravida e casa, me desculpa, mas ela tava pensando o quê?? que com ela ele seria diferente??? que com ela ele seria bonzinho?? aiii, santa ingenuidade!!
    Iara, não tô dizendo que ele tem razão em bater nela ou em qqer outra.Tenho NOJO de quem faz isso, até pq já tive uma relação que "quase" descambou pra esse lado ( só não chegou nesse ponto, de apanhar dele, pq eu percebi algo errado e pulei fora antes...)...
    Mas tô te dizendo o seguinte: Pô, o cara tá respondendo processo, o negócio se tornou público( quantas e quantas mulheres vítimas de violência não se calam por medo, preconceito, , vergonha, etc, e a gente não fica sabendo do que os maridos delas fazem:??- mas esse caso do Dado veio a PUBLICO!!) Tudo bem, ele pode ter passado uma conversinha na Viviane, dizendo que ele era inocente, coitadinho, que a Luana armou pra cima dele, que inventou pra ganahr ibope e $,... mas mesmo que fosse esse o caso, pq não esperar um pouco e conhecer o cara melhor antes de casar, engravidar etc??Pq não procura conhecer os fatos, ver que tipo d e processo ele responde antes de se atirar de cabeça??
    Essa mulherada não tem noção???Elas acham o que?? Quem bateu nas exs vai bater em vc e nas futuras!!!!! óbvio, fato, tem tanto homem livre e vc vai se envolver justo com esse aí???
    Das duas uma: ou a tal Viviane de certa forma pediu pra apanhar( pq sabia muito bem com quem estava casando e o que ia acontecer no futuro), ou se ela não sabia que ia apanhar, ela vive no mundo da fantasia, da carochinha, dos contos de fadas e ainda tem a visão de uma criança de 5 anos( uma hipótese bem provavel)... Mulherada, acorda pra vida real!!!!!!!!
    *** se vcs souberem que um atual pretendente tem um histórico de ter batido nas exs vcs se envolvem ou correm quilometros

    ResponderExcluir
  8. Ai, eu estou meio por fora do assunto. Tá difícil acabar com esse estigma de que mulher merece apanhar. Será que no fundo somos todas marias da penha, condenadas a dizer e mostrar aos quatro ventos a realidade e sofrermos as consequencias sozinhas?

    A Globo então que adora colocar as "malvadas" apanhando para elevar a audiência e ter as heroinas mais flaubertianas da parada.

    ResponderExcluir
  9. Maria Valéria,

    Eu entendi o seu ponto. Claro, não é questão de julgá-la, mas porque se envolver com um cara assim, né? Eu também me pergunto. Mas acho que uma pista pode estar nas diferenças de status que a sociedade confere às mulheres solteiras e às casadas. A gente pode ter muito claro que é melhor estar sozinha do que estar com um cara assim. Mas ela pode ter achado realmente que estava embarcando no conto de fadas do galã de novela, que o episódio da Luana era um mal-entendido mesmo. Então, né, lamento, não entendo, mas também não julgo.


    Drixz,

    Pois é. Dá uma preguiça imensa tudo isso, porque fica clara a nossa fragilidade, nossa condição de segunda classe. Tanto discurso aí de que a gente não tem mais do que reclamar, mas todo dia esbarramos com violência de gênero.

    ResponderExcluir
  10. mas eh foda, neh? o povo se cega facil. o cara bate na mulher e ainda sai com fama de pai zeloso? o que sera que mais faz mal a essa mulher? refrigerante ou murro?

    outra: nao bati pra machucar? hehehehehehe muito boa :)

    ResponderExcluir
  11. Né, Luci? E o faz mais mal pra criança, mamadeira ou a mãe espancada?

    ResponderExcluir