terça-feira, 9 de março de 2010

E na ressaca do "nosso" dia...

Pois é, toda essa história do DEMóstenes Torres, DEMétrio Magnoli, os DEMos todos. Que você pode acompanhar no Azenha, (a Mary W colocou os links diretos para as reportagens). O cara fala que foram negros também os caras que venderam outros negros. E não tem nem o que discordar dessa parte. Mas aqui, no Brasil, foram os brancos que exploraram essa mão-de-obra. Sim, houve (poucos) casos de negros alforriados que tinham lá seus escravos. Mas é na estrutura que a gente tem que pensar, e estruturalmente falando eram brancos explorando negros aqui no Brasil. Qual a dúvida?

E essa gente que diz que ok, foi lamentável mesmo, mas que passou. Lembro da escola, a professora falando que depois da abolição vieram os imigrantes, pra suprir a necessidade de mão-de-obra. E eu juro que já pensava nessa época “mas, ué, os negros continuaram lá, só deixaram de ser escravos”. Sei lá porque não perguntei. Será que a professora ia mandar a real, que ninguém queria pagar salário pra negro? E a mocinha da classe média paulista que diz: “pô, meo, mas o meu avô veio no navio suuuuper pobre e batalhou muito pra comprar a casa dele lá Móoca”? Será que ela não entende que, por mais modesto que fosse, o Nonno ganhava o seu trocado? Era um operário explorado, claro, longe de mim dizer que o Nonno não passou perrengue na vida. Mas os negros nem como operários eram aceitos. E não dá pra se inserir na sociedade sem ocupação. Sei lá, não sou socióloga, mas acho que é inviável, né? Se você só pode comer pelas beiradas, a marginalização é inevitável. Pode ser superada, claro, mas só a muito custo.

Mas nem era disso que eu ia falar. Era do relacionamento entre negros e brancas “consentido, ainda que sob dominação”. E aí eu lembro a história da Trip, da Luisa, lembram? Do cara que escreveu a suposta ficção sobre o menino que “convence” a empregada a “dar pra ele”, e achou que ia ser engraçadinho. E de como a gente precisa ainda desenhar o que é estupro. Que não é só arma na cabeça. Que não precisa nem ameaçar: qualquer mulher que some dois mais dois sabe que se não der pro patrão, pode ser demitida. Imagina a escrava? Consentimento sob dominação é quase uma impossibilidade semântica pra mim.

E aí eu fico imaginando seu “Dem” batendo na porta do quarto da empregada. A moça abrindo, sorriso amarelo no rosto. E como ela sorri e corresponde ao beijo, ainda que sem muito entusiasmo, o patrão crê que é sexo consentido. E ele todo pimpão, se achando o macho alfa, termina a noite pensando assim: “essas mulatas são mesmo quentes”. E acha linda a história da miscigenação do povo brasileiro!

Os caras oferecem flores, mas sequer entederam o conceito de estupro. Preguiça, viu.

2 comentários:

  1. Irretocável. A gente precisa ficar o tempo todo desenhando pra essa gente. Parece aquelas coleções que a gente tem contato qdo entra na faculdade: Arte, o que é? Literatura, o que é?

    Vamos fazer um: Estupro, o que é?

    Porque só assim viu!

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  2. Olha, pior é que eu acho que nem assim, viu?

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