quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A quem interessar possa

Então. É polêmico esse negócio, que eu sei. Mas eu vou comprar a Playboy da Cléo Pires porque eu acho que deve estar linda.

Não tenho nada contra a idéia de uma mulher posar nua. Nada contra imagens de corpos nus, nem mesmo nada contra a pornografia. Eu sei que a pornografia, por vezes, reproduz discursos machistas. Mas eu não acho que ela, em si, seja machista. A pornografia é a exposição explícita de sexualidade. Isso, isoladamente, não é machista, ao meu ver. Volto a dizer que, obviamente, tem representações pra todos os gostos, e muitos deles são muito machistas. Talvez a maioria, até. Mas eu não desqualificaria o resto nem por conta desta (suposta) maioria. A Beatriz Preciado conta em seu livro que houve, acho que no Canadá, uma articulação do movimento feminista pra censurar publicações pornográficas. E a primeira a ser censurada pela lei foi uma revista pornográfica lésbica. Quer dizer, é feita pra agradar a sexualidade feminina, mas não pode? Tremendo tiro no pé, na minha opinião, tal como o fechamento dos cares de strip na Islândia, como a Lu contou. Eu acho realmente temerário quando o discurso feminista coincide com o religioso. Agora, eu não tenho nada contra, mas não gosto do sexo explícito. Sei lá, aversão estética. Estética, e não moral. Acho cafona. Sério, acho cafona. Já erotismo eu acho lindo. Tipo, fotos bem produzidas, bons fotógrafos e tal. E a revista da Cléo parece que está assim.

Mas eu continuo me justificando aqui porque eu problematizo a questão, claro. Tem um lance, que eu acho que flerta com o abuso, da celebridade dizer que foi difícil, que teve que beber pra relaxar. E daí eu acho muito trash, porque parece mesmo o fetiche da humilhação, usar o poder da grana pra submeter uma mulher em escala macro. Tipo, você tá com vergonha, mas abaixa aí a calcinha que eu tô pagando. E, lógico, acho horrível essa idéia. Entendo claramente que, desse jeito, é sim muito machista. Mas a fotografada deste mês disse que A-DO-ROU posar. Que se descobriu exibicionista. Que teve a maior dificuldade de escolher as fotos da revista porque, por ela, publicava todas, achou tudo o máximo. Em outra entrevista li que a vó deu apoio, dizendo que na época dela levava puxão de orelha da professora porque subia a saia e mostrava a canela, então o fato de uma mulher poder posar nua é algo a ser celebrado. E essa discurso só me deu mais vontade de ver o resultado, porque tudo parece feito com muito prazer. Há uma troca clara aí, não uma submissão: o prazer dela em ser vista, e o do público em ver. E pra mim, quando há essa troca, há o livre exercício da autonomia. Não vejo machismo mesmo.

Daí alguém me diz que o problema da Playboy é que dá a entender que só aquele tipo de corpo é desejável. A questão da falta da representatividade da diferença. Que é real, claro, mas não é exclusiva da Playboy. A grande mídia, de maneira geral, não prima pela diversidade mesmo. Por sorte, temos a internet como espaço pra circular outros modelos. Eu gosto muito desse tumblr: (cuidado ao abrir). Não só porque nele eu me sinto bem representada (eu sou do tamanho das fotografadas ;-)), mas porque as fotos são mesmo muito bacanas. Para meu gosto, claro. E tem o que a Aline apresentou, o adipostivity. Quer dizer a internet dá esse poder, dá gente ter acesso a outras coisas. Ok, fica uma coisa meio underground. O mainstream é a Playboy mesmo. Mas não é porque ela é o mainstream que aquela representação não é legítima. Eu me acho linda (é, modéstia passa longe aqui). E acho a Cléo linda. E, claro, não é culpa dela se a Playboy quer mulheres do tamanho dela, mas não do meu.

Mas aí tem a questão do olhar objetificador. E eu não acho que achar um corpo sexualmente atraente seja desconsiderar automaticamente o sujeito que ele carrega. A sexualidade faz parte da nossa vida, e a atração física faz parte da sexualidade. Eu acho muitos corpos por aí altamente atraentes. Olha passar, suspiro e, quando faço isso, não estou preocupada com a pessoa que mora naquele corpo. O que não signifia, em absoluto que, se tiver que abordá-la, por qualquer motivo, vou tratá-la como um objeto. Mas, se estou olhando de longe, é só o corpo que me interessa, ué. A mesma coisa se o olhar se voltar pra mim. Sim, eu sou sexualmente atraente. Sim, alguém pode me olhar e só ver um decote, ou uma bunda grande marcando o vestido. E aí? É desrespeito? Quando a gente olha, só vê um corpo, não vê um discurso. E tudo bem. Se, porque eu estou com um decote alguém achar que essa é a senha pra me desrespeitar, o problema é do machista que fez isso, não do meu decote. Eu sei que o mundo é escroto. Que o pessoal acha linda a mulher posando na revista, mas não votaria nela. Ou você é um corpo, ou tem um discurso. Não pode as duas coisas. Essa separação corpo-intelecto pra mim parece herança religiosa do modelo corpo-alma: há que negar um para valorizar o outro. E as pessoas não se dão conta, mas é o mesmíssimo lance da Geyse ou do Taleban: que, pra garantir respeito, há partes do corpo que a mulher não deve mostrar. Eu exijo tudo: o direito de se mostrar e o respeito incondicional. Pra mim, não há meio-termo possível, não há condicional aceitável.

E aí tem o outro discurso que diz que olha, tudo bem, mas quando a Cléo, que é atriz filha de atriz, posa nua, ela vai ser respeitada, mas reforça o machismo de quem tá lá olhando. Ela pode, mas a outra, que não tem o mesmo status, paga o pato. Vamos lá: eu não tenho nada contra dançarina de funk. Nada contra a Mulher Melancia. Dizer que essa mulherada que ganha dinheiro seminua contribui para a idéia que há mulheres que só servem pra isso é repetir o discurso machista com a pretensão de combatê-lo. Seguinte: eu estudei literatura. No meu trabalho, não uso nada do que estudei. Meu trabalho exige muito menos capacidade intelectual do que a que eu tenho (de novo, modéstia aqui tirou férias). Tem gente que acha mesmo que se a pessoa está ali na base, assistente de algo, é porque não tem mesmo potencial pra ser chefe e tals. E eu já tive chefes sem um pingo de cultura: o cara era bom no que ele fazia e só. Por que eu tô nesse trabalho? Porque paga minhas contas. Eu não sei nada sobre ninguém que tá ali posando nua. Nem eu, nem ninguém que se coloca numa posição de julgar. A pessoa pode estar numa condição análoga à minha: usando apenas parte dos recursos que tem pra ganhar dinheiro num mundo em que não necessariamente o mais culto é o mais bem pago, mas todos precisam sobreviver. A diferença é que ser assistente em multinacional é algo que tem algum status no meio onde eu circulo - ser dançarina de funk ou axé, não.

Não tenho essa cegueira de achar que a minha escala de valores é a única válida. E não tenho a pretensão de achar que todo mundo que é esclarecido vai chegar à mesma conclusão que eu sobre algo. Não, né? O mundo é diverso, os pontos de vista também, claro. E eu acho as dançarinas de funk muito cafonas, na verdade. Não, eu não toparia fazer o que faz a Mulher Melancia porque tenho aversão a essa estética funkeira. Mas, como no caso da pornografia, o problema, pra mim, é de gosto mesmo. E o meu gosto pessoal não tem esse poder de desligitimizar nada.

16 comentários:

  1. Mil fichas caindo. Muito obrigada por isso.

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  2. Ai, ai, Iara. Eu estou extremamente preguiçosa pra comentar em blogs, de tão confortável que é o reader. Mas vim, pq vc tocou na veia (numa delas). Gosto do seu post, ele todo. Concordo com a maioria das coisas, e acredito que vc já saiba :) Mas deu vontade de comentar uma única discordância e uma pulga que eu tenho há tempos atrás da minha orelha.

    - Eu não acho que beber pra descontrair tenha a ver com fetiche de humilhação, não mesmo. Eu sei que vc é ponderada e por isso imagino que vc não esteja taxando a coisa. Mas é que minha impressão maior sobre essa necessidade que algumas pessoas tem de beber um pouco pra relaxar não é um caminho pra coação ou subjugação. Como grande tímida, eu falo. Não é pq racionalmente eu quero e gosto de algo que minha timidez ou introspecção não apareça. E um set, seja de foto ou de filmagem, é um ambiente profissional, técnico. Acho normal que no começo do trabalho, sobretudo se a pessoa for novata, pode ser desconfortável tirar a roupa. Claro que ficar pelada na frente de desconhecidos não é um ato como qualquer outro. Exige coragem, exibicionismo. Mas ué. Ela está lá. Ela pode desistir. A bebida ameniza a inibição mas não é isso, em si, que constitui uma situação humilhante. Pq alguém que pose por grana, mesmo odiando e não querendo, já teve que ignorar outros elementos, mais sérios e relevantes, para ainda assim estar lá. Alguém que, supostamente, posa nua sentindo-se humilhada e subjugada, submeteu-se antes, em tantas outras questões e momentos que envolvem esse evento, e não na derradeira hora de tomar um gole de vodka pra descontrair.

    - Sobre a censura à pornografia vem minha pulga. Que há tempos tá nos rascunhos do meu post. Eu fico muito curiosa com isso. Gostaria de poder conversar a sério com alguma feminista anti-pornografia pra saber onde exatamente estão os limites estéticos que separam o que é aceitável do que não é. Filme e foto com nudez e sexo explícito, ok, saquei. Não pode de jeito nenhum. E os animes eróticos japoneses, que não tem corpos de fato, apenas desenhos? Pode, ou não pode? E pinturas, gravuras, litografias de corpos nus e atos sexuais? Pode, ou não pode? Fugindo das obras pictóricas. A dança, quando erotizada, é objetificadora? O tango, por exemplo, que pode ser muito erótico. O funk, como vc disse. O que torna um arte e outro objetificação? E na escrita? Um romance, um poema erótico que descreva uma mulher nua lascivamente. E objetificador? É discurso machista? Pq em última instância, a censura de fotos e filmes tem a ver com representatividade entre arte e corpo/ condição feminina (da maneira mais generalizada). A rigor, se uma forma de representação é ruim, todas são. Ou então a censura é ainda mais rasa e moralista. Com chances de ser elitista tbm.

    Desculpe o comentário imenso.
    Beijo.

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  3. /O\

    Vou ali pensar. Mesmo, sem ironias.

    Bj
    Rita

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  4. ps. a playboy da cleo pires tá uma delícia ;)

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  5. ps 2 "O mainstream é a Playboy mesmo. Mas não é poque ela é o mainstream que aquela representação não é legítima."

    cara. que foda. sucinto e perfeito. agora parei mesmo.

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  6. Dani,

    Eu é que agradeço a interlocução.

    Aline,

    Mané pedir desculpas pelo comentário longo o que. Você sabe o quanto a interlocução com voê é importante. Muito do que tá escrito neste post é fruto dessa nossa conversa do ano passado. Antes da nossa conversa, eu teria comprado a revista, mas não saberia organizar tão bem meu ponto de vista. Só tenho a te agradecer por isso.
    E você tem razão quanto ao lance da bebida. É verdade, pode nem ser nada sério mesmo, sem que isso signifique nada de agressivo. Acho que as duas hipóteses são válidas: pode ter humilhação, e pode não ter. Não sei.
    E, bom, como você, eu não entendo mesmo essa censura. Aguardo seu post.

    Rita,

    Eu fico contente que meu post tenha te deixado reflexiva. Mesmo que você volte aqui pra discordar de tudo. Concordar o tempo todo não enriquece a gente, né?

    A todas,

    Cheguei em casa e marido tinha comprado a revista. As fotos estão lindas, lindas. Mas, no geral, é uma revista muito boba e sim, a gente vê muita coisa machista nela. Um caminhão delas. Então este post não é pra dizer que "olha como a Playboy é bacaninha" assim, sem crítica, nem pra endossar nada. Só pra dizer que eu não vejo nada de errado em contemplar uma mulher nua, em ver beleza nesse corpo.

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  7. Adorei o post. Concordo com tudo o que você disse. Eu que falo demais, fiquei até sem palavras... rs

    Bjus

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  8. Eu não vou comentar a fundo. Respeito muito sua opinião e gostei bastante do modo sincero que você abordou. Para mim o problema é que um nú nunca vai ser apenas um nú. A própria beleza é um juízo de valor imposto pela elite dominante. Temos ainda o problema da divisão sexual do trabalho, do corpo feminino como um fetiche e da heterossexualidade compulsória constantemente reproduzida em meios como esse. Para mim existe uma separação do corpo e do sujeito e que nesse caso o sujeito feminino não é considerado como tal. Essas atividades remuneram mais as mulheres porque agradam aos homens. Eles exercem seu poder sobre nós também dessa maneira. Mas essa é uma longa discussão e eu prefiro não entrar profundamente nela. Aconselho um livro muito bom e bem fácil de ler. "O corpo feminino em debate".

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  9. Laurinha,

    Que bom que você gostou.

    Drixz,

    Olha só, quando você diz que a discussão é longa e prefere não entrar profundamente nela, me deixa meio sem ação. Mas ainda assim, eu quero comentar.
    Eu concordo que o nu nunca é só o nu, como você colocou. E que é lógico, por conta da estrutura de poder que privilegia o homem heterossexual, o nu feminino participa de um contexto bem diferente do masculino, claro. Mas, olha só, eu não vejo tanto essa "heterossexualidade compulsória". A revista tá lá, na banca, pra qualquer pessoa. Eu, ao contrário do povo que diz que compra "pra ler as entrevistas", só comprei pelo nu mesmo. Mais especificamente, pelo nu da Cléo, mesmo não tenho nenhum interesse sexual nisso. A revista não tem esse poder de ditar a destinação que aquilo vai ter, se vai servir pra bater punheta, como teoricamente seria o uso mais provavel, ou se por mera apreciação estética. Ou se para mulheres homossexuais/bissexuais se excitarem, e não homens heteros, como estava previsto. Então, eu não ignoro o discurso que a produz, só acho que eu não preciso aderir a ele, e tenho certeza de que muita gente não adere.
    Eu não consiguiria afirmar, assim com tanta certeza, de que o sujeito não é considerado como tal. Até porque, o que justificam os altos cachês em alguns casos são justamente os sujeitos ali. A Cléo vai ganhar muito não porque é mais gostosa, mas porque está numa condição privilegiada que dá esse poder de barganha a ela. Isso é parte da promoção da revista, inclusive. Parte inseparável do fetiche, neste caso, é justamente a celebridade e sua história.
    Eu até acho que muita coisa no nosso juízo de beleza é construído - mas por conta disso não existe gosto legítimo em lugar nenhum? Me incomoda demais essa idéia. Não é legítimo achar a Cléo linda porque há uma construção cultural que faz com que eu ache isso? Mas e se, junto com a Cléo, eu acho lindas outras pessoas, homens e mulheres, cujo o modelo não é o mais valorizado culturalmente. Daí é legítimo? Entende meu desconforto?
    Vou colocar o livro que você recomendou na minha lista. Obrigada!

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  10. Olá, concordo em parte com você.
    Só fico me perguntando porque o nú de uma pessoa que já tem nome, é valorizada pela profissão que tem, não é feio, todo mundo respeita e fala que é nú artístico.
    Já quando é o nú de uma dessas mulheres frutas, dançarinas, ou sei lá o que, é vulgar, fez aquilo só para aparecer, essas coisas.
    Acredito que o nú é sempre o mesmo, acho que precisaria existir o respeito por todas.
    Até mais

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  11. seguinte. eu AMO e sou copletamente louca por fotos de mulheres nuas. mas nao as de hoje, as dos anos 20, 30, 40... realmente eh uma doenca, algo que eu adoro e tenho comigo ha algum tempo. pensei muito sobre isso e acho que uma das coisas que me atraem nessas mulheres eh saber que elas tiraram as roupas numa epoca que, como voce disse, nem a canela poderia ser exposta. voce diz que devemos comemorar o fato de uma mulher poder tirar a roupa, mas hoje eu nao vejo ainda motivos pra comemorar isso. porque, na playboy, nada eh explicito. voce nao vai ver o clitoris da cleo, como voce ve em outras revistas masculinas. ainda ha uma diferença entre as mulheres que posam pra playboy e as que posam pra sexy. dao um desconto pra quem posa na playboy porque eh um "trabalho de arte". aih que tah: se for "arte", tah perdoado, pode mostrar os peitinhos. mas se a cleo resolvesse tirar fotos mostrando todos os pelinhos do cu dela em outra revista lado B, sera que ela seria bem vista? duvido muito, viu...

    nao sei exatamente porque voce disse que achou polemico comprar a revista, mas eh reamente ficar entre a cruz e a espada: querer ver a sessao de fotos e financiar uma revista machista, que taih, reforçando os mesmos modelos que vao fazer com que certas meninas tenham vergonha do seu corpo etc etc. enfim, nao tou te condenando nao por ter comprado a revista (reli a frase e pareceu isso). e tou me explicando porque parece que quem eh contra a playboy eh necessariamente contra a pornografia (e eu adoro pornografia). mas eh que aquela mansao do hugh hefner, com todas aquelas loiras me da calafrios. bla.

    bom, tempo curto! vou nessa!

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  12. sim, adorei mesmo o post! sobretudo nessa parte, que me fez abrir os olhos.

    "Nada contra a Mulher Melancia. Dizer que essa mulherada que ganha dinheiro seminua contribui para a idéia que há mulheres que só servem pra isso é repetir o discurso machista com a pretensão de combatê-lo".

    sera que tinha um jeitinho aih de, algum dia, tu escrever um post sobre essa ideia? agora tah foda, mas depois vou ver se lembro de te mostrar um post que fiz sobre uma banda de meninas que mostrava as pernas e minha aflicao em saber se aquilo ea condeavel ou nao. bom, discutimos depois!

    beijoss

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  13. Oi, Iara. Desculpe por te deixar sem ação. Não era a minha intenção. Eu entendi o seu ponto, só não quis discutir a fundo pq eu teria que fazer um post no meu blog pra caber... É um tema muito complicado. Para a Cléo Pires, tirar a roupa talvez fosse fácil. Teoricamente ela tem preparo, é atriz o fato dela ter fama disfarça um pouco o caráter objetal da coisa. O problema é que apesar de qq um poder comprar uma palyboy, ela é uma revista masculina. Mas é uma atividade que remunera mais as mulheres do que os homens justamente por não tem o mesmo prestígio do que ser um executivo, por exemplo. No caso do fetiche, tbm é complicado. Seria uma forma da mulher exercer um poder, mas de acordo com aquilo de fetiche que os homens tem da própria mãe. Se não é relacionado com eles, não tem poder.

    Ah, tá ficando cada vez mais confuso. Depois eu me explico, prometo.

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  14. Marcele,

    Então, eu concordo com você, na verdade. E eu não acho nenhum dos dois vulgares, nem o da Cléo, nem o da moça gostosona que niguém conhece. E acho que a briga feminista deveria ser pelo respeito em qualquer circunstância mesmo.

    Luci,

    Já viu aquele livro da Taschen, o "1000 nudes"? Tem várias fotos antigas, você ia gostar bastante. Mas não fui quem disse que poder tirara aroupa é algo a ser celebrado, foi a vó da Cléo. E entendo bem o seu ponto de vista. Claro que tirar a roupa antigamente tinha um caráter transgressor que hoje não tem, claro. E você fala entre a diferença entre o que seria nu artístico, e o que povo acha de mal-gosto, apelativo. Então, meu ponto de vista é, justamente, de que vale tudo, e tudo deveria ser respeitado. Uma coisa é não gostar, outra coisa bem diferente é condenar. E disse que a minha posição era polêmica porque muita gente é contra qualquer forma de exploração comercial do corpo feminino, seja a Playboy ou a pornografia. Você disse que detesta uma e curte a outra, o que é válido. E concordo muito com o que você diz sobre a história da mansão, daquelas loiras que parecem de plástico e tals. Concordo também. Como eu tentei dizer, minha posição é pró-nudez, pró-erotismo, mas não pró-Playboy e seu discurso. Acontece que as fotos da Cléo tavam lá e eu queria vê-las, ué?
    Sobre o trecho que você destacou, eu tenho mesmo vontade de escrever mais sobre isso, mas eu me incomodo com um discurso que deslegitimiza a opção de quem se expõe. Como se mostrar o corpo fosse concordar em ser objetificada, "atender o chamado do patriarcado". Porque eu considero um autoritarismo querer ditar como uma mulher deve se relacionar com o seu corpo.

    Drixz,

    Eu entendo seu ponto, claro. Lógico, faz sentido, o mundo é machista, o mercado também, e a fotografada só é bem paga porque está atendendo o que o mercado espera. Tem toda uma lógica que ela atende, com a qual contribui. Quem posa pra algo de conteúdo mais subversivo nunca vai ter este prestígio. Mas o meu ponto é que eu não acredito que o caminho seja deslegitimizar a Playboy, mas valorizar o que (e quem, principalmente) está fora dela. É incluir outras representações, outros modelos. Se você conseguir fazer um post sobre isso, eu vou adorar seguir o debate.

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  15. Ah Iara! Só pra acrescentar uma coisa:
    Lendo sua postagem, acabei lembrando de um fato que aconteceu comigo. Outro dia desses eu tirei umas fotos pra um amigo meu. A única coisa que tampavam os meus seios eram as minhas mãos... A ideia da foto era essa. E foi assim que fizemos o ensaio fotográfico pro portifólio dele. As fotos ficaram, modéstia parte, lindas.

    Agora a questão é: Como eu não sou uma Cléo Pires da vida em termos de fama, eu seria condenada se tivesse exposto alguma foto dessas. Já que eu não sou nenhuma famosa como já falei.Sendo a Cléo Pires, por ex, nada teria... seria lindo. Mas eu, uma anônima, fazer isso? É o cúmulo da doidiça (?). Ou alguém que não seja visto como "bonito". Ah! No mínimo uma outra doidiça maior ainda...
    As pessoas associam a sensualidade de uma foto ao status de quem é fotográfada. Bem... não sei se estou tão correta assim nesse meu penúltimo ponto final,mas é assim como vejo até então.

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  16. Glória,

    Desculpa a demora em responder. Pois, mas então, nesse seu caso eu acho que fica tão claro que você queria ajudar no portfólio do seu amigo. E alguém pode alegr que, porque fotos sensuais. E eu diria, porque não? Acho que se foi uma experiência bacana, se você fez na cumplicidade com ele, é tão legal, porque não seria, né?

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