Às vezes eu fico pensando se vale a pena fazer um post meio maluco só com associações que passam pela minha cabeça, sem trazer nada novo, não colocar nenhum questão nova, nem chegar a uma conclusão, só com referências externas e links, meio colagem mesmo. Mas, enfim, os macaquinhos tão aqui sapateando, né?
Tô pensando no livro da Beatriz Preciado, que eu ganhei e não li ainda, e na Judith Butler, que eu também não li, e a maneira como (sei de ouvir falar e ler outras coisas por aí), problematizam gênero. E, puxa, muito legal. E um nó. Eu gosto bastante. Porque se você me encontrar na rua vai ter certeza que, por mais que conteste muita coisa, por mais que não corresponda a todos os modelos de vaidade e feminilidade postos, eu sou uma mulher. Mas lembro de já ter sofrido muito por não me encaixar. Nada a ver com transexualidade, nem com homossexualismo sequer. O problema é o modelo cor-de-rosa-Barbie. A passividade. Enfim, muitas coisas. Mas pegava muito no visual mesmo. A coisa da delicadeza, porque eu não sou delicada pra nada nessa vida. Sou carinhosa e tal, mas não delicada. E é por isso que eu pirei lá na Espanha. Lógico que o Almodóvar já tinha me dado uma pista. Mas a coisa foi mais prosaica até: quando eu vi nas lojas as roupas de Flamenco para a “feria” de Málaga. Aqueles babados, aqueles brincos enormes, aquelas cores fortes. É isso, eu sou over. Eu sou pombagira. Depois de ler “Bodas de Sangre”, a noiva se justificando, dizendo que o noivo era um riozinho que não dava conta de apagar seu incêndio, eu pensei: é isso! Eu sou essa mulher.
Mas divago (e este post não é mera divagação?). Eu lembrei disso, dessa questão do problema do gênero, de definição, da dificudade, por algumas razões.
Li outro dia isso. A pessoa que conseguiu um documento escrito “sexo indefinido”. Péssimo estar na página de bizarrices do Globo porque o assunto é muito interessante. Mas me chamou a atenção esse lance de que não era possível determinar características físicas, psicológicas ou comportamentais de um dos gêneros. Físicas, ok. Mas fico pensando em como determinar caraterísticas “psicológicas ou comportamentais” de um gênero. Dá pra fazer isso sem usar lugares comuns? Quer dizer, eu aceito quando minha amiga psicóloga me diz que “não é porque algo é socialmente construído que é necessariamente ruim”. E imagino que é um conjunto de fatores que deveria determinar essa performance de gênero, mas não tiverema sucesso aí. Enfim, curioso, né?
Outra coisa: o post da Lu que fala do Irã. Quer dizer, transexual, pode. Homossexual, não. Porque tem que definir, ficar dentro do limite. Extremamente violento, claro, e me faz lembrar do argumento mais frequente entre religiosos, mesmo os locais, quando condenam o homossualismo: Deus criou o homem e a mulher, um para o outro. Sistema binário mesmo, nenhum questionamento possível.
Por fim (como se houvesse um fim), a matéria da Piuaí sobre o médico especialista em cirurgias de mudanças de sexo. Recomendo a leitura da matéria inteira. Como a coisa é complexa. Em algum momento, a especialista em direito civil consultada fala de como os transexuais são conservadores. Quer querem corresponder a um modelo de mulher bem tradicional. Mas é o ponto de vista dela, porque aparece lá os casos de homens que queriam ser mulheres lésbicas. Quer dizer, se relacionar-se sexualmente com uma mulher e ter um pênis fosse o suficiente para definir um homem, usando um ponto de vista conservador, essas pessoas não teriam conflitos.
Por fim, o que define o que é mulher, né? Se você responder que é a vagina, vai desconsiderar os transexuais, e o Buck Angel vai rir na sua cara. Se você considerar que é um conjunto de comportamentos tais e tais, pode soar bem sexista. Mas lembro de ler num blog uma vez que se a única coisa que nós, mulheres, tivermos em comum for a opressão, pára o mundo que eu quero descer. Acho que a coisa é fascinante porque é muito mais complexa do que parece. E o médico diz lá na reportagem que só dá pra dizer quem tem falo e quem não tem, mas eu não aceito ser definida por uma ausência – a que não tem falo. Só posso concordar com a Judith Butler quando diz que gênero é performance. A gente deveria poder ser o que é sem que isso implicasse em determinismo e discriminação.
Já que vc está divagando, vou aproveitar o seu espaço e os temas jogados no post:
ResponderExcluirHoje tive um sonho homoerótico. E absurdamente bom.
Precisava dividir isso com alguém :)
Beijos
Olha, você por aqui! Sobre o seu sonho. Huuuummm. Porque não né? O sonho é o reino das possibilidades... Bjo!
ResponderExcluirMuito bom! Concordo completamente com você! Acho um absurdo por exemplo a diferencição legal entre homem e mulher. Como se sexualidade fosse simples assim, binário, sendo que é óbvio que a sexualidade é algo muito mais complexo. É uma tremenda falta de respeito com os hermafoditas por exemplo, só pra ficar no exemplo mais óbvio. A sexualidade da pessoa, quer nos aspectos físicos, quer nos aspectos comportamentais, só diz respeito a própria pessoa. Pra mim as leis e os documentos nunca deveriam se referenciar ao sexo do indivíduo. Sexo é assunto para a biologia, a medicina, a psicologia... Não para a legislação. Obrigado por ter escrito este post me dando a oportunidade de fazer esse comentário! Gostei do seu blog, vou tentar voltar aqui de vez em quando!
ResponderExcluirOi Valdson,
ResponderExcluirPois é, muitas vezes a informação sobre sexo só serve pra discriminar. Então, pra que, né?