terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Agnes

A preguiça de postar é muita. Assunto eu tenho, mas o final do ano tá foda e eu continuo trabalhando feito doida.Mas me cortou o coração ler isso.

Depois daquele post foda da Aline, recebi uma amiga em casa. Essa amiga é feminista também, e começamos a conversar sobre aborto. E eu não sabia que ela tinha feito um. Parece que encontraram (ela e o ex-namorado) um contato. Daí marcaram, o cara explicou o procedimento. No dia, se encontraram num lugar público, e minha amiga entrou no carro do cara. Sozinha. E foi para a clínica sozinha. E contou que, quando voltou da anestesia, se deu conta de que o corpo dela tinha estado por algumas horas a mercê de gente em quem ela não confiava. Que podiam ter feito qualquer coisa com ela.

Quando ela me contou, me senti culpada. Queria ter estado ao lado dela, segurando a sua mão, mas sequer soube que ela passou por isso. Tive uma imensa vontade de chorar pensando que alguém pode ter abusado da sua fragilidade naquele momento. E um desespero enorme de imaginar que ela poderia estar morta agora. Mas minha amiga sobreviveu e vive uma vida plena e feliz.

Minha sogra teve o primeiro filho, que vem a ser o meu amor, aos 17 anos. Os outros dois filhos são frutos da família que teve que se formar às pressas. Eles (ela e o meu sogro, que tinha 20 anos na época) passaram uma barra, abriram mão de muitas coisas pra serem pais tão jovens. Eu me emocionei muito ouvindo ela contar o susto quando ouviu o coraçãozinho bater dentro dela, porque este coraçãozinho é o que bate ao meu lado agora. Diante da surpresa, minha sogra recalculou a rota de sua vida. Uma escolha legítima, que não tira a legitimidade de quem escolheu outra coisa.

E eu vou sempre defender que essa escolha possa ser feita por todas as mulheres, da maneira mais tranqüila possível. Respeito à alteridade, como eu já disse aqui. Mas como não é assim que funcionam as coisas no nosso país, a Agnes é mais uma das vítimas dessa hipocrisia silenciosa e assassina.

2 comentários:

  1. Foram AS escolhas...E não importa o que as determinou, devem ser respeitadas.

    Como já disse, tenho dois filhos. Fui mãe menina; aos 15, e depois mãe de novo; aos 18.
    Hj, caso,engravidasse, abortaria sem a menor culpa, pq sei o quanto foi difícil pra mim, e não estou mais disposta(mentalmente/financeiramente) a passar por isso tudo novamente.

    Como vc disse: Seria somente mais numa escolha.


    Beijos e boa entrada de ano.
    ;*****

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  2. Vanessa,

    Sua história me impressiona muito, mais até do que a da minha sogra. O que me assusta é a total incapacidade das pessoas de debater o aborto usando alguma empatia pelo sofrimento alheio e honestidade intelectual. Se este fosse um blog muito visitado, ia aparecer algum espírito de porco pra perguntar o que eu acharia "se minha sogra tivesse abortado o meu marido", como se essa pergunta fizesse algum sentido. Como se existisse alguma consciência, algum papel social antes do percurso, sabe?

    Bjão pra você também!

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