quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Subjetividades

Não tem nada de errado acontecendo na minha vida, porém ando numa irritação sem precedentes. Melhor dizendo, estou completamente instável emocionalmente – porque de vez em quando me empolgo demais também. Tipo bipolar mesmo, ou um “Poltergeist” se apoderando do meu corpo. No final de semana fui procurar o meu cd do Cranberries e não achei. Tenho poucos cds, sei lá, só uns 30, acho. E além desse do Cranberries, já perdi o da Elza Soares, o acústico do Ira, um da Marisa Monte. Notem, não é o do colega de trabalho que tinha uma banda, nem aquele "ao vivo" do Djavan que já deu no saco, nem o meio esotérico que eu ganhei de brinde quando fiz massagem. Esses aí tão guardadinhos. Não é nada engraçado, porque eu nunca encontrei um cd perdido por aí, então não sei onde eles vão parar. Provavelmente na quarta dimensão, junto com as sobrinhas e os pés de meia solitários. Tô putíssima da vida com isso até agora.

Mas, enfim. Fiquei desproporcionalmente irritada (tenho gostado muito do verbo “to overreact”, acho perfeito). Ontem eu tinha uma consulta, queria ir de ônibus pra andar menos, o maldito não passava. Desisti, fui pra estação pegar o trem, ele também atrasou, e quando veio, tava super lotado. E eu lá, bufando como doida, e resmungando “que inferno! que inferno!”. E o sapato machucando no pé. Hoje tive outra consulta na hora do almoço. Engoli alguma coisa e chegando lá, a recepcionista me avisou que o médico estava atrasado “mas só tem uma pessoa na sua frente”. Como é uma clínica grande, a gente não sabe se as pessoas na sala de espera estão lá pra ver o mesmo cara. Depois de assitir ao médico chamar a terceira paciente (oi? é, eu não era a próxima...), após 45 minutos de espera, fui reclamar com a recepcionista, que se comprometeu a “dar o recado”. Não agüentei nem mais 5 minutos. Voltei pro trabalho semi-histérica, se eu entrasse na consulta daquele jeito não ia prestar mesmo. No caminho, ao passar por um corredor no centro comercial onde trabalho, um infeliz, vendo a minha cara de brava, resolveu sacanear e se plantar no meu caminho pra fazer uma gracinha. Não consigo mais lembrar com precisão, acho que mandei ele se fuder, aos gritos e tremendo. Tive que tomar um fitoterápito pra me acalmar e conseguir trabalhar (pouco) o resto da tarde.

E, puxa, motivo nenhum, eu sei. Boas perspectivas para o ano. Mas viajando total, me peguei pensando no quanto pode ser violenta o julgamento das pessoas sobre a nossa subjetividade. Uma amiga minha, que tem o blog mais fofo e cor-de-rosa da lista ali da lista ao lado, disse que um troll maníaco tem mandado ela procurar o que fazer, só porque ela fala de decoração e não, sei lá, da fome no mundo. Alguém pode achar que, por gostar de maquiagem e cozinha, sou uma ingênua cooptada pelo patriarcado, que não se dá conta de que cozinhar pro marido e ficar cheirosa são desempenhar um papel de objeto do prazer alheio sem nenhum senso crítico: “e ainda se diz feminista, pobrezinha!”

Eu perfiro acreditar que não há objetividade alheia que dê conta da gente, sabe? E não tem nada mais irritante do que imaginar alguém lendo isso e pensando: “olha a mimada, queria ver se tivesse perdido a casa/a família/a vida com a chuva”. Todo o respeito e solidariedade às tragédias alheias, e nem de longe imagino os meus problemas minimamente comparáveis. Mas os meus calos, por menores que sejam, doem. E atire a primeira pedra quem nunca teve uma “overreaction”.

2 comentários:

  1. Eu sou super calmo, mas depender de transporte público também me irrita, e pegar trânsito de carro é pior ainda. Tenho usado cada vez mais a bicicleta. Não sei qual é a distância que vc percorre, mas vc já pensou nisso? Acho que vc ia gostar. Num primeiro instante pode parecer absurdo usar a bike em São Paulo como meio de transporte, mas não é impossível, pode ser uma ótima opção! Ah, não consigo parar de ler seu blog, não tem um post que eu não goste muito...

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  2. Valdson,

    Olha que coincidência: acabei de ler um livro que se chama "O que é tranporte urbano" em que o auto, Carles Leslie Wright,aponta a bicicleta como o meio de transporte ideal, se considerarmos todas as variáveis envolvidas para o usuário e o ambiente.
    Eu nem acho tão loucura assim bicicleta em São Paulo, mas acho que depende muito do trajeto. Pra mim, neste momento, não rolaria.

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