segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O (não) peso das palavras

Acho que eu nunca escrevi sobre este tema, embora seja muito de meu interesse. As sutilezas dos significados que um significante pode ter (pra quem não é familiarizado: significante é a palavra sapato, significado é o objeto sapato). Uma palavra pode ter diversos pesos, impactos, provocar reações as mais diversas dependendo de quem a diz ou de como a diz. Por exemplo: referir-se a alguém carinhosamente como “meu preto” não tem nada a ver com usar a cor da pele como forma de insulto. Só quem é muito desonesto intelectualmente não aceita isso, que o contexto, se não diz tudo, diz muita coisa ao menos.
Aconteceu uma coisa engraçada esse final de semana. Eu não sabia que uma (nova) amiga era lésbica. Daí perguntei pra galera: “só eu não sabia que fulana é sapata”? Todo mundo riu. E depois eu comentei com a própria: “fulana, só eu não sabia que você era sapata!”. E ela respondeu, dando risada: “ok, me apresento de novo, prazer, sou a fulana, e sou sapatão”. E todo mundo riu mais ainda.
Meu primeiro contato próximo com a homossexualidade foi quando uma amiga da escola, que até então se relacionava com meninos, voltou das férias namorando uma garota. Tínhamos 16, 17 anos. Aquilo me intrigou um pouco, como tudo o que é novo. Depois me acostumei, mas lembro que achava a palavra “sapatão” super pejorativa. Semana passada eu ouvi, em contextos diferentes, duas mulheres se apresentando como “sapatão”, de uma maneira extremamente bem humorada. Uma delas, na verdade, disse que era “sapatã” - achei bem fofo. Então, venci o meu preconceito com o termo, chamei a amiga de sapata, e ela entendeu que, por sapata, eu tava dizendo “uma mulher que gosta de outras mulheres”, nada além.
Eu sempre achei extremamente subversivo isso de se apropriar de uma palavra teoricamente ofensiva, assumi-la, e devolver para um interlocutor como um enfrentamento, porque você desarma o preconceituoso. Sempre lembro da tal mesa redonda com profissionais do sexo no Fórum Social Mundial, que eu já mencionei aqui. Mulherada dizia: “olha, eu sou puta, gosto de ser puta, gosto muito de fazer sexo e ainda ganhar dinheiro pra isso.” Esqueçamos a discussão feminista sobre a prostituição neste momento. Quando alguém chama uma mulher de puta e ela responde, de cabeça erguida, “sou puta mesmo, e daí?”, ela desmontou o ataque. E eu acho isso lindo.
Tem um neologismo que eu uso de uma maneira bem humorada, mas que o machismo considera ofensa gravíssima: periguete. Mas eu só uso porque, na minha cabeça, registrei “periguete” como a mulher gostosa que sabe que é gostosa e adora ser gostosa. Eu não coloco nenhum julgamento moral aí. Só que, né? Preciso tomar cuidado pra usar, porque eu não vivo em Marte. Se eu me refiro a uma mulher como “periguete”, meu interlocutor pode achar que eu tô condenando, e eu não sou assim. Tem um caso engraçado de uma amiga linda e muito bem-sucedida, cargo alto em multinacional e tudo, que usa este termo pejorativamente, fala “eu não sou uma periguete qualquer”. Mas ela tá sempre usando roupas que chamam muito a atenção para seu (lindo) corpo. Sempre “vestida para matar”, decotão, roupa justa, maquiagem pesada, microssaia - em 10 anos de amizade, nunca a vi de jeans, camiseta e tênis. No dia em que eu a apresentei ao meu marido (então namorado), ela usava uma blusa meio transparente, sem sutiã, “farol aceso”. Bem periguete, segundo minha definição. Lógico que ele olhou os peitos dela. Até eu olhei, né? E nada demais, como ele é um cara bacana, olhou, achou gostosa, e não inferiu nada sobre ela só por isso. Acho que ela não é menos respeitada por ninguém por conta da maneira como se veste: é inteligente o suficiente pra se afastar gente desrespeitosa, e pra deixar claro que sim, ela é gostosona, sim, você pode olhar e não, ela não é mero objeto de apreciação, embora goste muito de ser admirada. Mas o engraçado é que faz este julgamento sobre outras mulheres. Sei lá qual o critério dela, mas acho graça.
Post sem pé nem cabeça. Só que pra dizer que, oi, você pode ser periguete, você pode ser sapata, você pode ser tudo, sua linda. O que não pode é alguém te desrespeitar por conta disso. Machismo é achar que existe um padrão aceitável de conduta para uma mulher, e que todo o resto é condenável.

19 comentários:

  1. Bom, não sei te dizer o quanto o papo em torno dos significantes mexe comigo. Tradução não virou minha paixão por acaso, adoro palavras, adoro o jogo da linguagem - tadinhos de nós, sempre perdemos. Penso muito na angústia de não conseguir descrever com nitidez certas coisas que brotam na nossa cabeça e aí as revestimos com os significantes disponíveis, porqué, né, que remédio. Então quando alguém se apropria e dribla um preconceito porque deu nova cor a uma palavra eu acho fantástico, é uma amostra de que nada é finito; e burlando, subvertendo, esticamos os horizontes da linguagem. Mesmo assim, penso que só nos mantemos sãos porque não paramos toda hora para pensar que estamos na maior parte do tempo aprisionados nos limites dela.

    (E por isso amo tanto Clarice que entendeu isso, a meu ver, como ninguém antes ou depois na história desse país, hehe.)

    Nossa, Iara. Vou passar o vinho pra frente. Próximo!

    Bj
    Rita

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  2. Nunca tinha parado pra pensar nisso de "significante" e "significado", sabe Iara?! Eu vivo chamando algumas amigas de "rapariga" por exemplo e elas assim me chamam também e não vemos mal. Achamos graça quando usamos umas com as outras. O que difere quando eu chamo alguém que eu detesto, que não fui com a cara pelos meus motivos.
    Agora eu acho que sou meio "conservadora" no sentido da conduta de uma pessoa. Tipo: Eu não acho que uma "mulher" que saia três noites seguidas com três caras diferentes e nessas noitadas transe com os três seja uma mulher respeitável. Da mesma forma eu diria se fosse um homem. Transar assim... pra mim é vulgaridade. Outro dia mesmo eu entrei nesse debate com um amigo meu, porque segundo ele "ela apenas estaria sarciando seu desejo sexual" e nada mais. Não vejo a coisa dessa forma. A gente não pode arrumar uma "desculpa" pra não ver a vulgaridade quando há...

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  3. Ai Rita, que comentário lindo! E eu nem tinha pensado na questão da tradução, né? Complica muito as coisas. Eu tive só uma introdução à tradução na faculdade, e vi o enrosco que é isso. E os significados emocionais que as palavras carregam, como traduzir? E marcas de produtos que trazem consigo toda a nostalgia de uma época, por exemplo. É difícil isso, né? Lindo você lembrar, porque seu eu tivesse que traduzir "piriguete", ia me ver aprisionada entre o que a minha visão diz que é, e a visão moralista corrente. E como faz?

    Glória,

    Olha só, vamos lá, lições de feminismo (pretensiosa, eu). Você pensa assim, provavelmente, porque a gente foi criada pra dar essas limitações para o sexo. A estabelecer condições em que ele é legítimo. E você tem todo o direito de estabelecer pra você como quer viver a sua sexualidade, mas só pra você mesma. Se você concorda que sexo consentido entre pessoas adultas não é errado, porque ele passaria a ter algo de errado com uma troca de parceiros frequente? Isso é um olhar viciado pelo discurso moralista que perpassa a nossa vida, e eu te recomendo tentar superar isso. Liberdade é tanto a gente ter o direito de ser monogâmica, quanto a vizinha de dormir com quem ela quiser.
    Fiquei curiosa com esse "respeitável" que você usou. Porque menos respeito com quem transa com mais parceiros? O que significa esse respeito pra você? E porque vulgaridade? Explica isso, mulher, pra gente fazer uma terapia com você (olha a pretensão de novo...)e "matar" essa moral recalcada que você, corajosamente, expôs aqui.

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  4. Iara, olha é preciso coragem pra pegar um tema desse assim pelo pescoço e domá-lo com essa fluidez. Parabéns.
    Eu sou uma devota das palavras, acredito que elas aprisionam e libertam, se somos - delas - escravas ou senhoras. As palavras indicam as (im) possibilidades (embora, claro, lá venha o Lacan: "digo sempre a verdade: não toda, porque dizê-la toda não se consegue. Dizê-la toda é impossível materialmente: faltam as palavras”).

    Enfim, minha mãe é branca, branca, meu pai é negro, negro. Ele a chama de "minha preta" e todos ao redor se derretem porque chovem coraçõezinhos.

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  5. Ai Iara! Eu sou meio cabeça-dura pra essas coisas, viu?! Eu até concordo que o sexo consentido é nenhuma. Mas isso de ter um por noite por pura... pegação, eu acho um pouco demais ainda. Pode ser que eu mude isso com o tempo, mas precisa ser trabalhado. Aliás, bem trabalhado. AUSHAUHSH :/
    Eu não quis dizer que é menos respeito para aquelas que "mais transam". Sem querer foi isso que acabei passando mesmo, mas não pensei numa palavra melhor e usei essa: respeito. Agora... respeitar eu usei no sentido de "valorada", de "admirada". (Isso é totalmente machista! Bem sei disso... mas eu devo ser um pouco mesmo!:~)
    E vulgaridade é relativo, né?! Acabei de pensar nisso... Qualquer definição que eu fosse dar, seria o MEU ponto de vista, né?!;/ O que não quer dizer que o SEU estaria errado por ex. Tô estudando isso... eu estaria sendo Egocêntrica além de "um pouco quadrada". UAHSUHASUHSUH :s
    Bom... Agora é com você, Iara. Vamos lá... quero ver como vou ficar pós-terapia feita para isso. AUHAUHSAHHSH \o/ E obrigada pelo corajosa. UASHUHSUSHAUHSH

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  6. bom, tu ja dissesse o que eu queria comentar aqui.

    "Preciso tomar cuidado pra usar, porque eu não vivo em Marte. Se eu me refiro a uma mulher como “periguete”, meu interlocutor pode achar que eu tô condenando"

    acho massa, como voce disse, quando as pessoas se apropriam de palavras que antes representavam uma ofensa pra elas (pra "categoria" delas). como "queer" ou "nigga" (eu nao sei se as duas se escrevem assim, mas voce sabe do que eu tou falando). ou mesmo quando os gays no brasil se tratam por "bicha". acho otimo. porque desarma o cara que utiliza esses termos pra ofender algum homossexual.

    SOH QUE...

    como voce tambem disse (pra que eu tou comentando se nao eh pra adicionar nada ao que voce ja disse? hahaha) depende do contexto e com as pessoas que estao envolvidas. com certeza voce tomou a liberdade pra chamar a menina de sapata porque tava num grupo que tinha o intelecto superior à da massa preconceituosa. porque, olha, nao da pra chegar nos meus pais (que tem uma cabecinha fechada em relacao à gayzice desse mundo) e dizer "conheci uma sapata ontem" e achar que eles vao sacar que eu nao tou utilizando o termo de forma pejorativa, sabe. e essa sua nova amiga recebeu com bastante bom humor o "sapata" dito por tu, porque ela nao eh idiota e sabe que voce tao pouco o é. (cont)

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  7. mas se chegasse um terceiro, que nem a conhece e a chamasse disso? fim da diplomacia. animos exaltados.

    ou seja, no final das contas, vale tudo se voce esta no meio certo. quando chamo camilo de cocô ou de gordo, por que sera que ele nao se ofende?

    eu e camilo um dia vimos uma mulher pouco vestida no meio do frio. camilo chamou a minha atençao pra isso e eu disse "piriguete nao sente frio". aih tive que explicar o que era "piriguete" pra ele - que, pra mim, nao tem o mesmo sentido que pra tu: piriguete pra mim é soh "puta" e pronto. dai fiquei cheia de ui ui ui porque nao queria que camilo pensasse que eu tava julgando a menina pela conduta sexual dela. mas ao mesmo tempo nao quero demonizar esse termo e seus significados. dai me vi forçada a explicar nao somente a traducao, como o que eu pensava sobre ela, sobre a provavel putice dela etc. dai, quando ele me ensina palavroes, sempre faço mil perguntas por tras pra entender exatamente em que contexto posso usar aquele termo e com quem, com que tom, com que frequencia etc. palavras nao sao inocentes meeesmo.

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  8. "intelecto superior". na verdade, nao eh bem uma questao de intelecto, eh de coraçao mesmo...

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  9. Borboleta,

    Eu juro que visualizei a chuva de corações, sua fofa! E obrigada pelo elogio.

    Glória,

    Eu realmente não entendo qual o problema com o sexo só por prazer. O prazer é errado? Ele precisa ser acompanhado de sentimentos nobres pra ser legitimado? O que pode haver de errado em compartilhar um momento de prazer? Você pode escolher transar com quem quiser, e talvez seja só quando tem um relacionamento bacana, mas se sua amiga, ou seu amigo, sua professora, seu médico, sua prima ou quem quer que seja vê as coisas de outra maneira, porque seria um problema? Vou mais além: porque você teria a prerrogativa de aprovar o comportamento sexual alheio? Porque sua opinião é importante? Acho que são essas as perguntas que você deve se fazer.

    Luci,

    Você pegou em o lance das palavras. Eu não usaria o termo sapatão com uma pessoa que não me conhece e que não sabe que isso não é um problema pra mim.

    Mas eu estou inquisitiva e impossível e fiquei me perguntando o que você quer dizer quando afirma que periguete = puta, e ao mesmo tempo diz que não julga a conduta sexual de ninguém. E achei o contexto revelador, pq eu tb acho graça e digo q periguete não sente frio qdo vejo microssaias no inverno paulistano. Mas tem muita menina que tá aí desfilando de microssaia mas não pega ninguém, coitada. Então, se eu entendi que puta = quem tem vida sexual bem movimentada (mas entendi q vc não acha isso um problema, e desmistifica a palavra tal qual a eu desmistifico sapata), como você infere a vida sexual só pelo tamanho da saia? Tipo, eu tô sendo muito chata, eu sei, pq parece que eu tô te convencendo q a minha interpretação de periguete é certa e a sua é errada, mas é que não ficou claro pra mim qual é o ponto aí com o puta.

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  10. Mas, né, eu não resisto a fazer o comentário. Cara, como que periguete não sente frio? Tipo, nem fica arrepiada, tremendo, encolhida quando não sai com roupa apropriada pra ao clima. Porque quando eu faço isso, sei que vou sofrer. E as doidas fazem isso e continuam lá, inteironas, sorridentes e sensualizando. Praticamente super heroínas pra mim. ´

    Eu nem contei, mas eu tenho o maior respeito por periguetes! ;-)

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  11. Engraçado esse lance de usar o termo pejorativo em seu favor. Eu faço isso de vez em quando porque as pessoas teimam em querer me colocar em exposição. Só porque eu sou baixinha. As vezes zoou falando que sou uma anã gigante e em outras me chamo de tampinha pra ver se as pessoas se tocam do ridículo e passam pro próximo assunto. É meio que aquela coisa, eu tenho espelho em casa, não preciso que ninguém me diga que sou baixinha, eu já sei disso. Acho que é meio o caso da sua amiga. Ela sabe q é gostosa, se o cara não souber falar mais nada de interessante pra ela além do óbvio, ele roda.

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  12. Iara,coloquei o link pra esse post na postagem de hoje, tá?

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  13. Já reli umas três vezes de ontem pra cá suas perguntas... Não posso deixar de dizer que minha opinião não vale de nada quando não se trata da minha vida e tal. Tenho pensado nisso... É! Acho que eu tô sendo muito, muito careta. E romântica demais por achar que sexo "SÓ PODE" ser feito "COM AMOR"... MAS isso é fruto da minha criação. Porque eu aprendi que deveria ser assim e absorvi isso muito veemente (o que até me incomoda mesmo que não pareça!).

    Vou continuar pensando sobre isso, Iara! Depois volto aqui...

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  14. ok, deixa eu explicar o que quis dizer. primeiro, esqueça tudo o que eu disse. e vamos la novamente!

    apesar de eu achar lindo e maravilhoso que as pessoas transformem os termos preconceituosos a seu favor, eu nao as ajudo quanto a isso. eu nunca chamei nenhuma amiga lesbica de "sapa". primeiro porque eu nao sei se elas ficariam a vontade com isso. depois, porque eu acho que isso eh uma coisa perigosa. se eu chego na minha casa (de gente preconceituosa) utilizando esse termo, minha irma de 16 anos, a qual eu nao conheço muito bem, pode pensar que eu tou usando o termo de forma pejorativa e reproduzi-lo com suas amiguinhas cabeça de vento que, por sua vez, vao repetir o que ouviram de forma grosseira. entende? prefiro ficar na minha e usar esse termo com alguem que eu tenha certeza que nao vai me interpretar mal. acho que ainda temos muito chao pela frente antes de tirarmos o peso negativo da palavra "sapatao". ainda chamam "negro" de "moreno" e "gorda" de "cheinha".

    vei, eu nao sei o que tu entendesse, mas puta pra mim é a profissao e somente isso. nao faz meu estilo chamar menina que da a bunda todo dia de puta por causa disso. ou que da no primeiro encontro, ou sei la o que. afinal, se eu fosse julgar alguem por dar demais, eu taria sendo hipocrita :)

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  15. Borboleta,

    Claro que pode linkar, viu? Problema nenhum!

    Glória,

    Então, é este o ponto. O importante é você notar que não existe certo e errado, que esta é a sua visão, o que não pode é você achar que quem não concorda com você está errado, condenar as pessoas por isso. A gente não tem que achar tudo bacana, mas é importante respeitar a diversidade, não condenar as pessoas a partir do nosso ponto de vista.

    Luci,

    Fiquei mais na dúvida ainda. Pq se vc me diz que periguete = puta e puta = profissão, você tá me dizendo que toda menina super exposta você associa à quem faz sexo profissionalmente, é isso? Ok, eu entendi que você não condena, mas achei meio restrito.
    Quanto ao uso dos termos, toda a razão, concordo muito. Eu só usei este termo polêmico pq estava num ambiente de total respeito à diversidade sexual, em que "sapata" não vai ser visto como negativo. Num ambiente mais suspeito, usaria "lésbica".

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  16. hahahaha nao, aih voce tah forçando. nao precisa ir tao longe nas conclusoes, iara. sei la, se eu digo que dilma eh uma mulher e eu quero uma mulher na presidencia, eu nao tou querendo dizer que eu quero qualquer mulher na presidencia.

    eu nao tenho como identificar quem eh puta (a profissional) ou nao: nem toda puta precisa se vestir com dois dedos de roupa pra trabalhar, como nem toda menina que se veste assim é prostituta. o que interessa em tudo o que eu falei (ou que deveria interessar) eh que pouco importa o que as pessoas (mulheres, nesse caso todo) fazem ou como se vestem. quando disse a camilo "periguete nao sente frio" eu nao quis dizer: "olha, ela tah vestida com sainha, entao ela eh puta. e puta nao sente frio". eu soh quis mostrar pra ele essa expressao que "a gente" usa no brasil me baseando no cliche de quem tah na rua, no meio da noite, de saia, eh puta. mas aih eh que tah: camilo poderia pensar "sera que minha namorada acha que essa menina eh puta soh porque ela usa uma sainha?" nao queria que ele pensasse isso, neh... que eu julgo as pessoas pela aparencia. alias, pior: que eu julgo uma mulher pela sua vida sexual. eh por isso que tenho que tomar cuidado quando uso essas expressoes com alguem que nao me conhece muito bem. podem achar que eu penso assim mesmo. o maior exemplo foi esse mal entendido daqui (que desconfio que nem foi consertado. hehehehe) sei la, diz aih! pensei ate em fazer um post falando sobre isso tudo...

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  17. enfim, li esse comentario e ficou parecendo que eu sou linda e maravilhosa, pessoa que nao julga ninguem, que nao tem preconceito etc. nao eh bem isso. eu tenho meus travamentos, meus preconceitos, cresci num ambiente onde nao ha abertura pro que eh diferente, pro que eh marginal... mas acho que o que me faz ser uma pessoa decente eh o fato de que eu nao suporto ver crescer em mim nenhum traço do que eu abomino: preconceito, machismo, julgamento previo etc. por isso nao seria capaz, de forma consciente, chegar aqui e dizer qualquer coisa que pudesse ser interpretada como "pra mim quem usa saia eh puta". entendeu? mais ou menos por aih... ate porque se eu fosse criticar quem da no primeiro encontro, quem usa decote e saia, quem nao tem parceiro fixo, eu taria me chamando de puta e tal... hehehe nao faz muito sentido criticar o que voce mesma eh. :)

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  18. Luci,

    Tranquila. Nossaa discussão é retórica mesmo, só. Ficou claro pra mim, claro, mas eu queria ainda sim comprovar que era essa a sua linha de raciocínio. Que no final das contas é parecida com a minha: a gente constrói alguns termos pra "uso interno", digamos assim, e tem q tomar cuidado quando vai se expressar em público.
    No mais, todo mundo tem lá seus preconceitos. O que faz a gente bacana ou escrota é como a gente lida com eles, se a gente os enfrenta e se questiona, ou se a gente fica ali, confortável com eles.

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  19. Eu só tô aqui para dizer que chamo minhas amigas lésbicas de 'sandilhinhas' porquê eu sou fofinha e gosto de diminutivos. (Eca!)


    Esse negócio de de ressignificação de um termo ofensivo foi usado pelos gays. Teoria Queer tá por aí dizendo isso.


    Minha questão com o significante e significado está além de termos como piriguete e tem mais a ver com gente dizendo que 'isso é coisa de gay', por exemplo. Aqui nos EUA tem uma expressão que eles usam o tempo todo para ofender gays - para desmerecer, para diminuir, pra rebaixar...os caras falam sem querer, ja ta no automatico. Meu marido não fala porque ele não é besta de pagar para ouvir outra aulinho sobre o poder do discurso.

    Mas eu só passei por aqui mesmo para dar 'oi' e dizer que amei o post e que sou piriguete. Morro de frio mas to lá pelada no meio do pub com uma cerveja na mão.

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