
Este é um post que eu queria ter feito antes, porque se refere a uma revista do começo do ano. O fato é que eu tenho me interessado muito por Economia. Sempre me interessei, aliás, mas agora, se tudo der certo, vou fazer uma pós na área. Daí que resolvi comprar a "The Economist" da primeira semana de janeiro, porque com esse capa aí, não tinha como não me interessar.
Eu sei que a Economist é uma revista conservadora. Ainda assim, fiquei chocada. É impressionante o quanto a gente consegue jogar certos discursos no lixo sem muito trabalho depois que a gente toma a pílula vermelha. E olha só, eu não sou acadêmica, eu não sou cientista social, não tenho mil leituras feministas como base, normalmente só o desconfiômetro me guia.
Os caras contam que as mulheres já são metade da força de trabalho nos Estados Unidos. Mas, claro, ainda há muita coisa a conquistar. Principalmente porque as mulheres ainda ganham menos que seus colegas homens ainda que desempenhem a mesma função. E até aqui não há nenhuma informação nova, nenhuma novidade, mas também nada a discordar.
Segundo eles, o problema das mulheres não é o fato de serem mulheres (sério?). Sintam o drama (extraído do Editorial, ainda na página 7):
“Motherhood, not sexism, is the issue: in America, childless women earn almost as much as men, but mothers earn significantly less”
Como dizem por aí, me amarrota que eu tô passada. O problema não é o sexismo, é a maternidade, já que mulheres sem filhos ganham quase tanto quanto seus colegas homens. Oi? “Quase tanto quanto” ainda é menos, né? Just checking. Daí, os caras falam um monte sobre como as pobres crianças pagam o pato pela ausência de suas mães. E minha vontade é jogar a revista pela janela.
Olha só, é muito difícil engolir esse discurso da maternidade como uma questão feminina. A manutenção da espécie é de interesse de toda a humanidade. Mas, como quis a natureza que os bebês fossem gerados no nosso corpo e amamentados pelos nossos seios, isso passa a ser um problema nosso. Eu caí pra trás quando soube que nos Estados Unidos sequer existe licença maternidade remunerada. Parece que está previsto na legislação algumas semanas por ano de licença médica não remunerada, e é esse período usado pela mulher que tem um bebê.
Bom, alguns países europeus tem uma dificuldade danada para repor sua população. Seus governos estão se dando conta de que as mulheres (e seus parceiros, claro) podem escolher não ter filhos, considerando as dificuldades envolvidas. Estes países não são mais legais ou mais humanos mas sabem que se não oferecem suporte, não terão como continuar existindo. Em lugares religiosos como os Estados Unidos esse risco não existe por enquanto: as mulheres tem filhos com ou sem suporte. Já o caso do Brasil é atípico: entre os mais pobres a natalidade ainda é considerável (embora esteja caindo bastante também), na classe mais alta, mal garante a reposição.
Eu acho que não há igualdade de direitos enquanto não se considerar que uma mulher presta um tremendo serviço à sociedade quando põe um filho no mundo. E que essa sociedade, em contrapartida, deveria dar todo o suporte possível a ela na educação desta(s) criança(s). E isso está tão longe de acontecer. Tanta gente condenando mulheres que abortam, mas cadê as vagas nas creches? Não têm, né? E paternidade, gente? Sabe, eu não quero julgar a mulheres que resolvem ter um filho em produção independente, mas acho isso tão contraproducente. Os homens precisam ser implicados, precisam ser responsáveis. Porque pensão alimentícia pode até pesar no bolso de quem paga, mas não resolve tudo. Quem leva a criança ao médico quando fica doente? Quem perde o dia no trabalho quando o caso é grave? Tem cara que não consegue entender que ele não corre o risco de ser demitido porque se tornou pai, mas que esse é um risco inerente à condição de mãe.
A Simone de Beauvoir me pareceu tão dura e amarga quando diz que nossos corpos são escravos da reprodução. Claro, ela escreve isso antes da pílua anticoncepcional e antes do aborto ser legalizado na França. Mas, puxa, depois da "The Economist" fiquei pensando se ela está tão errada assim.