Então, eu acho que machistas somos todos. O mundo é machista, nós vivemos neste mundo, então não estamos livres de exprimir alguma idéia retrógrada, por mais progressistas que sejamos. O mesmo vale com o racismo e a homofobia, claro. A gente tem que trabalhar, se conscientizar, aceitar discutir. Numa boa, não acho que nenhum ser humano é coerente o tempo todo, mas considero sim uma tremenda qualidade a pessoa reconhecer suas mancadas. Eu tento, viu?
Dito isso, aqui em casa eu faço um pouco mais de tarefas domésticas que o marido. E esse pouco é bem pouco mesmo: sou eu quem coloca a roupa pra lavar. Mas só porque eu gosto de separar algumas coisas que mancham, lavar umas poucas coisas delicadas a mão, enfim, quero o controle do processo. Ser control freak faz com que muitas mulheres monopolizem as tarefas domésticas mesmo tendo homens dispostos a compartilhá-las. Como se o espaço doméstico fosse realmente seu “reino”, o lugar onde ela tem o domínio, se sai melhor. Para os homens, uma maravilha, claro. Então, ok, eu não deveria ser assim, mas é só com a roupa, né? Não me culpo, em absoluto. No mais, marido lava a louça quando eu cozinho (quando ele cozinha, quem lava sou eu), organiza as coisas (porque eu deixo a casa uma zona se deixar), enfim, é só a máquina de lavar mesmo. Podemos viver em harmonia assim.
Acontece que há algumas semanas atrás, eu fiquei meio adoentada. Nem lembro o que era, acho que uma virose chata. E, bom, todas as minhas energias se esgotavam no trabalho. Chegava em casa e não fazia nada (minto: fazia uma chazinho pra mim, e só). Daí que um dia cheguei, fui direto pra cama e, ao acordar, lá pelas 9 da noite percebi que marido tinha chegado e lavado a roupa. Diálogo patético:
“- Marido, você lavou roupa?
- É, lavei, porque eu não tinha mais cuecas limpas.”
Sabem o que aconteceu? Eu me senti culpada. Por um único minuto, mas me senti. Pensei: “que tipo de esposa sou eu que deixa o marido sem cuecas limpas?”. Juro, eu pensei nisso. Vergonha, né? Depois fiquei com vergonha de ter pensado. E no dia seguinte fui contar pro marido. Disse que ia contar algo engraçado, mas que eu não o perdoaria se ele usasse isso contra mim num momento de fraqueza. Ele riu e disse que também se sentiu culpado, por esperar que a esposa se responsabilizasse por suas cuecas, como se ele não fose capaz de fazê-lo. Sentiu-se um machista também, tadinho.
E a história termina com um jovem casal dando risada de como o mundo funciona, e o quanto gente tem que estar atento pra não reproduzir modelos que definitivamente, não nos servem.
Oi, Iara.
ResponderExcluirÉ, somos todos um pouquinho machistas, sim, a luta é diária, hehe.
Bom, vamos ver: lavo louça, marido detesta. Marido põe lixo pra fora, eu detesto. Marido alimenta o cachorro, leva o cachorro pra passear (até porque se eu tentar, o cachorro vai ME levar pra passear), cuida das plantas, cozinha suuuper bem. Marido nunca fecha as portas do armário, nunca arruma o tapete do banheiro (ainda escrevo um post sobre isso, acho uma coisa curiosa), nunca arruma as camas. Marido sempre abastece o carro e outras chatices necessárias. Marido é o melhor pai do mundo: brinca, educa, é presente, carinhoso, apaixonado; alimenta, conta história, põe pra dormir, dá banho, leva pra passear, leva na escola, trocou fraldas. Faço tudo isso também, mas ele é top. Aí penso: eu sou mesmo uma chata de reclamar das portas do armário. Não sei como ele me aguenta.
Beijos!
Rita
lindo.
ResponderExcluirRita,
ResponderExcluirPois é, eu tenho descoberto, embora já desconfiasse, que o ingrediente principal do casamento é a tolerância. Você daí tolerando as portas abertas, seu marido de lá tolerando os seus resmungos por elas. Sem ninguém levar nada tão a sério porque, né, são só portas.
Alex,
Obrigada \o/
Nossa, mas é tão comum reproduzir um modelo de vida né? O legal é a gente se pegar fazendo isso e achar graça ou patético e tudo mais. A culpa que seu marido sentiu é super feminista. rs bjobjo
ResponderExcluirPois é, Haline. Eu fiquei super orgulhosa dele por ele ter dito que se incomodou com a própria inércia. Acho uma qualidade imensa mesmo.
ResponderExcluirValeu este post! è bom pra gente refletir entre o que aprendeu e o que pode ser mudado. Também concordo que as tarefas de casa devem ser compartilhadas, assim como o trabalhar fora.
ResponderExcluirAnaluci,
ResponderExcluirMais do que compartilhar tarefas, a gente precisa ter em mente que ninguém é automaticamente obrigado a fazer alguma coisa por conta do seu gênero, que sejam os serviços domésticos, quer seja ter a obrigação de sustentar a casa sozinho. Se a gente pensar assim, fica livre pra encontrar o melhor arranjo. Aqui em casa eu cozinho mais e o marido é quem dirije por conta de preferências pessoais, não porque modelo é esse.