sábado, 4 de agosto de 2012

Efeito Borboleta ou “como você se imagina daqui a 5 anos?”


Ontem, comendo uma pizza e tomando vinho com o Daniel, tive um insight do quanto me parecia surreal a conversa que estávamos tendo. O cenário era absolutamente banal, mas o conteúdo trazia a ansiedade das mudanças que nossa vida vai sofrer mudanças. Muitas mudanças. (disclaimer: quando uma mulher como eu - cissexual, hetero, casada há um tempo e balzaquiana - diz que tem mudanças GERAL pensa que é gravidez, mas não é).

Enfim. Disse pra ele que a vida era um conjunto de dias, e fiquei tentando lembrar de todas as varíaveis envolvidas no que estamos vivendo, dia após dia. Pensei naqueles filmes que começam com os personagens em alguma situação, e voltam na história pra explicar como chegaram até ali. E acabo de lembrar que um dos meus romances preferidos na vida, o “Cem anos de solidão”, começa exatamente assim, com o pelotão de fuzilamento do Aureliano Buendía, e depois volta pra toda a história da família.

Daí pensei que, se minha vida fosse contada assim, queria começar pela crise de choro convulsivo que tive na sala de embarque no aeroporto do Galeão, no Rio, perto das 14h00 da última segunda-feira, dia 30 de julho. Nenhuma tragédia acontecendo, apenas o resultado da comoção após a leitura de um e-mail enviado por uma pessoa especial na minha vida (vejam bem, não fosse a popularização dos smartphones nos últimos anos, nem ler e-mail no aeroporto eu estaria lendo). E aí me peguei pensando em como eu estava 5 anos antes da última segunda-feira. Em como seria interessante se 5 nos atrás eu pudesse me ver naquela situação, como uma bola de cristal mesmo, sabem?

30 de julho de 2007. Pensei em tentar recuperar meus e-mail no gmail mas, oi, preguiça. Mas eu estava desempregada. Tinha voltado da França há menos de um ano. Depois de voltar, trabalhei como assistente do diretor financeiro de uma montadora francesa, emprego que eu só consegui porque falava francês fluentemente. Era um contrato temporário de 6 meses, porque estavam de mudança pro Rio. Como meu chefe adorava meu trabalho, queria que eu me mudasse pro Rio com o resto da equipe. E eu queria também, porque já não aguentava viver na casa dos meus pais. Não por eles, mas aos 27 anos, esse papel de filha, de viver numa casa que não é a minha, já tinha me cansado. Mas veio a frustração: o RH me ofereceu um salário ridículo pra me contratar (como temporária, eu era terceirizada até então), o diretor disse que não podia interferir nas políticas do RH, e eu não fui.

Isso foi em junho. Eu só encontraria outro emprego em novembro. Neste meio tempo, meu incômodo aumentou de uma maneira que tornou impossível minha convivência na casa dos meus pais. Saí de lá poucas semanas antes de conseguir outro emprego, disposta a viver das minhas economias em uma pensão enquanto o emprego bacana não aparecesse. Mas o acaso premiou minha ousadia e colocou no meu caminho um emprego que eu detestava, mas pagou as minhas contas até eu conseguir coisa melhor. E eu pude mudar pra um lugar muito bacana, mas absolutamente “pelado”: dormi a primeira noite em um saco de dormir, fiquei mais de 1 mês sem geladeira (acesso à internet? HAHAHAHAHAHA).

Pouco tempo depois conheci o Daniel em uma festa de uma ex-colega daquela montadora. E bom, conhecer o Daniel muda toda minha história. Marca todas as decisões. Concluo então que trabalhar na montadora por 6 meses me serviu para 1) criar a série de eventos que me levariam a conhecê-lo, 2) aumentar a minha frustração a ponto de finalmente virar a mesa e ir cuidar da minha vida.  Mas eu não teria ido trabalhar nessa montadora se não tivesse ido viver na França. E talvez (porque aí é só suposição mesmo) não tivesse ido viver na França se meu melhor amigo, que eu conheci no colégio técnico, não tivesse ido fazer a mesma coisa uns anos antes e me incentivado tanto ao voltar. E eu não teria saído da escola particular pra estudar na escola técnica federal se meu pai não tivesse ficado desempregado em 1994.

Enfim. Dei uma viajada agora. Mas tem mais coisa. Tem esse blog, criado em outubro de 2009 sem maiores pretensões e que mudou minha vida, porque trouxe gente incrível demais. Não haveria a crise de choro convulsivo no aeroporto se não houvesse o blog, porque a pessoa que me comoveu chegou até mim por conta dele. E, desculpem as outras todas, mas só por ela esses cento e tantos posts (nem é tanta coisa assim) já teriam valido a pena. Mas não. Tem ela, e tem mais um batalhão, uma festa de gente linda, bacana, que chegou aqui porque curtiu meu texto. Sou grata demais a mim mesma por tê-lo criado.

Em 30 de julho de 2007 eu estava muito frustrada, e ansiosa pra que minha vida se encaminhasse. Em 30 de julho de 2012 as lágrimas são ligadas a intensidade do rumo maravilhoso que as coisas tomaram. O que só me deixa curiosa para 30 de julho de 2017. Mas a vida é uma sucessão de dias, um de cada vez, e hoje é dia de comer pastel na feira. Bom sábado! =)

11 comentários:

  1. Que delícia de 5 anos, heim? Parece que vc fez tudo exatamente como devia ser feito pra estar bem hoje. (fiquei curiosa quanto aos planos futuros!).

    De minha parte, tenho repensado muito as decisões e pensado em "como teria sido se". Mas a verdade é que nunca temos como saber nada, pq se tivesse feito diferente talvez um carro tivesse me atropelado na primeira esquina. :)

    Beijo!!

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  2. Linda Iara!
    E sou mais feliz em ""fazer parte da sua vida"" tb, sabia. Ainda que sendo assim...pelos buracos!
    (e isso antes mesmo desse blog)
    Amo seu estilo de escrever, AMO seus insights, amo toda a sua postura pra vida.
    Beijos!

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  3. Ai, que texto delicioso. Ai, que torcida que já abracei. Ai, que curiosidade. Ai, que bom ver amigos queridos felizes. Não sei o que é, mas já vibro por vocês.

    Beijo,
    Rita

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  4. Que lindo, Iara. Fico comovida com essas boas mudanças, que as vezes nem precisam demorar 5 anos para acontecerem; Estou muito feliz por vcs, que são muito queridos por mim, e a quem eu desejo que pudessem estar mais perto cada vez que vejo um post desse. Fico pensando 'Por que não dá pra conversar sobre essas coisas com o povo la do trabalho?' E sinto falta de conversas assim, viajadas, que surgem do meio de uma pizza ou de uma propaganda besta na tv.
    To na torcida e sempre por perto. Pena que tá tudo tão próximo, pois queria muito que vcs pudessem conhecer meu lar antes. Mil beijos, Gabi

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  5. Amanda,

    Eu já pensei muito no "como teria sido". Mas é como você disse, não dá pra saber qual a esbarrada na esquina que nos levaria para o sucesso geral e irrestrito - ou pra uma tragédia. Eu tenho gostado do andamento das coisas.

    Vanessa,

    Você foi das lindas que a vida trouxa antes do blog, mas pela internet, né? E sua interlocução em caixas por aí foi fundamental para eu me animar em criar o meu próprio blog. Sou super grata a você, viu?

    Bia,

    ;)

    Rita,

    Brigada pela torcida.

    Gabi,

    Você é muito querida por nós também, mesmo que a gente te encontre muito menos do que gostaria. Acho bom que pela internet a gente pelo menos consigo sentir as pessoas queridas mais próximas.

    Sobre as mudanaças, pessoal:

    Não é exatamente segredo porque o Daniel já contou até no twitter, mas estamos ainda naquela fase de ansiedade de esperar burocracias mil se resolverem. Mas ele recebeu uma proposta pra trabalhar fora do país. E, resolvidas essas tantas questões, o que deve acontecer nas próximas semanas, nós vamos. Só não queria entrar em muitos detalhes antes das coisas desencantarem.

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  6. Adorei o post. HAHAHA GERAL pensa... e eu também, né. Claro. Faço isso muito, pensar sobre a cadeia de acontecimentos que levou a tal ou qual situação. Sobre os diferentes caminhos que poderiam ter sido.
    Ontem mesmo tava falando disso, no contexto de uma história curiosa: conheci um dos maiores amigos do André (meu companheiro) num carnaval de Olinda - muito antes de conhecê-lo. Nesse ano aí, o André encontrou esse amigo mais adiante na viagem. A gente casou com outras pessoas, ficou anos, se separou, se conheceu (não necessariamente nessa ordem). E de vez em quando digo "o que teria acontecido se você tivesse ido para Olinda?". E não sei mesmo...
    Dedinhos cruzados aqui.

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  7. Eu não tô podendo ler esse tipo de coisa. Mas eu li. E ó, falar o que?
    Lindo. Linda

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  8. Oi, Iara. Já tinha vindo aqui outras vezes, mas nunca tinha me sentido à vontade para deixar um comentário. Agora é diferente e eu posso dizer: que bom que pudemos conhecer você e o Daniel antes dessa mudança! Que venham os próximos 5 anos. Beijos!

    P.S.: Adorei o texto =)

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  9. Nathália,

    Obrigada!

    Cris,

    Ô gente, você só se sentiu a vontade depois que veio a minha casa de verdade, é? Linda! Obrigada e um beijão!

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