domingo, 20 de novembro de 2011

Da (in)visibilidade

Sou graduada por uma universidade pública em um curso não necessariamente elitista (porque voltado para a formação de professores) e noturno. Ainda assim, tive pouquíssimos colegas negros. Em meu primeiro dia aula na pós-graduação, em um curso lato sensu numa universidade privada, me chamou a atenção ter cerca 5 ou 6 alunos negros numa turma de 35 pessoas. Estava sendo exposta a uma diversidade que nunca havia encontrado nem na escola nem em nenhum ambiente de trabalho. E achei bem bacana.

Mas foi uma sensação que durou pouco tempo. Nada de errado com a pós, tudo de errado com todo o resto. Se ter 20% de colegas negros na turma era um fato excepcional o suficiente para me chamar a atenção, estava ali, na minha frente, a prova da segregação social. Não que eu não soubesse disso. Não que eu não estranhasse essa ausência. Mas a gente tende a normatizar a barbárie como parte da civilização.

Quem tem o mínimo de boa vontade pode até reconhecer que esta é uma sociedade racista, que os negros estão excluídos, que nas classes privilegiadas são minoria da minoria da minoria. Mas, ao mesmo tempo, a homogeneidade pode passar pouco notada quando a gente se acostuma a ela como regra. A gente não estranha mais. Daí a minha profunda tristeza é assumir que classifiquei positivamente uma situação que na verdade era só menos injusta. E eu acho o Dia da Consciência Negra importante por isso, pra gente não se esquecer de que há um problema sério, e esse problema não é dos negros. É um problema da nossa sociedade, cruel, doente, que naturaliza a segregação.

4 comentários:

  1. Sabe Iara, eu tb me formei em universidade pública, na minha classe período noturno com 40 estudantes, apenas 1 era negra (A Fê). Sei da batalha dela: trabalhava em hospital, dormia 3 horas por noite e fazia graduação em Nutrição e como eu morava na PQP. Olho para o quadro docente da Faculdade de Saúde Pública da USP, estou há sete anos lá, não há NENHUM@ professor@ negra... E olhando para pós, dá para contar nos dedos quant@s negr@S tem. Lembro de ter entrado em crise no fim do curso de graduação por diversas questões, e uma amiga Ayodele (negra) me dizia, vc vai até o fim pois nós (estavámos em três amig@S) somos tudo aquilo que essa universidade rejeita: pobre, negra e homossexual.

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  3. Ai, Iara! Mais uma vez você me colocando pra pensar, né?! Menina. É verdade. Na minha sala, por exemplo, não tem um negro sequer pra contar a história de uma turma de 40 alunos ao todo (entre jornalistas e relações públicas). Na UFAL, são poucos os negros que já vi até hoje. No primeiro e segundo período, se tiver dois negros, é muito. Isso partindo do meu achismo, porque, se não me engano, não há negros também e isso, realmente, é triste e lamentável. =/

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  4. 12 disciplinas pagas nesse 1 ano e meio aqui. nao me vem a cabeça mais que três negros que estudaram comigo.

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