quinta-feira, 9 de setembro de 2010

9 caminhos

A Aline fez este post seguindo o meme, e nos comentários disse que pensou em passá-lo pra mim. Ela disse que ficou em dúvida sobre que raio de 9 coisas. Eu também, na verdade. A solução que ela encontrou foi o post fofo sobre os bichos de estimação. A minha também vai ser monotemática, porque eu lembrei que já tinha pensado em fazer posts sobre as coisas que eu gosto ou com as quais já trabalhei. Eu já contei aqui que eu sou perdida e tal, mas nunca contei o quanto. Daí no final de semana alguém me disse que se não fosse geógrafa, teria que nascer de novo, e que tinha pena das pessoas que chegam à maturidade sem saber o que querem da vida (oi? prazer!). E eu tentei explicar que eu sou assim não porque o mundo me é indiferente, porque não tenho paixões, mas justamente porque me interesso por muitas coisas. Então pensei em contar aqui sobre as coisas que eu já pensei em estudar, os empregos que eu tive, os caminhos que eu avaliei. Periga vocês acharem quem tem algo de ficção porque, né, eu só tenho 30 anos. Mas eu juro que é tudo sério.

1. Técnica em edificações (futura arquiteta ou engenheira civil)
Quando eu tinha 14 anos meu pai ficou desempregado, e eu achei que seria uma boa mudar pra uma escola pública. Até então, a única escola técnica profissionalizante que eu tinha ouvido falar era o Senai. Mas me informei e conheci outras. Como eu ia muito bem em matemática naquela época, achava que seria engenheira. E como eu já não gostava de eletricidade naquela época, escolhi o curso que me parecia mais simpático. Cheguei a fazer estágio num escritório de arquitetura, desenhando plantas (com tinta nanquim e papel vegetal ainda, nada de computador) e divulgando os produtos de uma fábrica de metais sanitários (meus primeiros rendimentos, aos 17 anos). Alguns amigos daquela época seguiram carreira. Outros, como eu, terminaram o curso com uma única certeza: de que aquilo não era o que queriam da vida.

2. Recepcionista/ Secretária
Bom, eu não cheguei a terminar meu curso profissionalizante. Naquele tempo, cursando 3 dos 4 anos, a gente podia pegar o diploma de 2° grau (é, eu sei que hoje se chama Ensino Médio) e cair fora. Foi o que eu fiz, mas já tinha decidido trabalhar enquanto fazia cursinho e pensava na vida. Então fui procurar emprego de recepcionista bilíngue, pra fazer valer a grana investida em anos de aulas da Cultura Inglesa. Consegui. Trabalhava numa empresa que sublocava espaço para outras menores e fazia a administração da coisa, como se fosse um flat (aluguel + serviços) só que comercial, não residencial. Às vezes me sentia como caqueles chinezinhos que rolam os pratinhos nas varetas tentando equilibrar todos, manjam? Imagina ter 5 pessoas na espera do telefone e mais 3 paradas na sua frente? Depois de alguns meses fui promovida a assistente administrativa mal sabendo usar o Office. Todos os dias ficava até tarde tentando aprender, faltando às aulas do cursinho. E aprendi (e consegui passar no vestibular também). Na verdade é graças a essa trajetória que pago minhas contas até hoje, porque eu amadureci demais e me desenvolvi muito profissionalmente. Não vou colocar o meu CV aqui, mas o fato é que fui mudando pra empregos que pagavam melhor, em empresas mais bacanas. Cheguei a ser assistente de um alto executivo numa montadora. Ser secretária tem um lado sacal, que é o de ser babá de gente grande, mas tinha um lance que eu sempre curti, que era tratar com todo mundo, de todos os níveis hierárquicos da empresa. Apertar a mão do presidente e tomar um café com os boys comentando o último jogo do Corinthians era uma parte interessante.

3. Professora
Em dado momento, cheguei à conclusão de que era muito nova pra fazer carreira, que era uma bosta chegar à faculdade tão cansada e que eu não queria trabalhar neste universo corporativo escroto. Pedi demissão pra dar aulas. Eu já tinha tentado dar aulas de inglês antes de entrar na faculdade, mas o fato é que não era boa o suficiente. Já o Espanhol eu aprendia como carreira. Então passei um tempo dando aulas de Espanhol, Português para Estrangeiros, Redação e o que mais aparecesse (acho que cheguei a substituir uma professora de inglês uma vez – mas só uma). Os planos eram seguir carreira acadêmica e virar professora de Literatura. Parece que eu até fazia tudo direitinho e os alunos curtiam minhas aulas. Mas eu queria ficar um tempo fora e larguei tudo para passar um ano na França aprendendo mais um idioma. E na volta nem tava mais a fim de fazer isso.

4. Babá
O ano que passei na França me sustentei como jeune fille au pair, a moça que se instala na casa de uma família estrangeira e cuida da(s) criança(s) e de alguma tarefa doméstica (no meu caso, passar aspirador de pó na casa) em troca de abrigo, comida, uns trocados e intercâmbio cultural. É uma experiência que dificilmente tem meio termo – ou é muito bacana, ou é traumática. No meu caso foi bem tranquilo, tenho contato com a família até hoje. Chegaram a me receber por uns dias na casa deles ano passado quando estive em Paris a passeio. E foi uma tremenda lição de tolerância. Passei a ter um respeito tremendo por empregada que dorme na casa dos patrões. Imagina ouvir bronca do chefe morando na casa dele? Não é pra fracos, definitivamente.

5. Relações Internacionais
Agora começa o campo do que poderia ter sido. Cheguei a procurar um Mestrado sobre o tema na França, mas colocaram algum obstáculo em relação ao meu histórico que me fez perder o tesão. Voltando ao Brasil, me inscrevi numa pós que tinha como tema o desenvolvimento social da América Latina. Não abriram a turma por falta de interessados, nunca mais ofereceram o curso e eu fiquei bem chateada.

6. Métiers du Livre – ou Editora
Outra coisa que me interessa muito: todo o processo de edição e distribuição de livros. Também vi uma pós do assunto na França – e nessa só admitiam, pra meu infinito desgosto, gente que tinha cursado Comunicação Social ou Editoração. Quando voltei, fui procurar cursos aqui e descobri que em São Paulo o único lugar que oferece é a Universidade do Livro, ligada à Editora da Unesp. Não fui porque os planos mudaram de novo (oi?), mas recomendo, parece que a coisa é boa.

7. Gestora Ambiental
Cheguei a procurar uns cursos na área, porque produção limpa é uma coisa que muito me interessa (e agora escuto o Plínio de Arruda Sampaio me chamando de “ecocapitalista”). O interesse começou quando eu trabalhei, por longos 8 meses, numa indústria nacional. O Diretor Industrial me contratou porque se impressionou com meu CV, digamos, diversificado. Achou um luxo ter uma assistente que falava francês mas também tinha feito curso técnico – peão e lady ao mesmo tempo, segundo o ponto de vista dele. Daí ele me mandava nas reuniões de fábrica e eu viajava ouvindo o povo reclamar de máquina com defeito, achava tudo uma chatice. Eu odiava este emprego com todas as forças, mas queria muito gostar, e achei que a pós pudesse ser o caminho. Bom, cheguei à conclusão que produção mecânica está entre as coisas que eu não gosto. Depois de sair do emprego, continuei interessada por um tempo. Mas passou rápido.

8. Trabalhar com comida
Comida é uma das minha grandes paixões. Eu adoro comer, adoro ir a restaurantes, adoro cozinhar, adoro ler sobre o assunto, adoro pensar questões políticas ligadas à produção de alimentos, aos nossos hábitos, enfim. Acho que dá pano pra manga, rende teses, inspirador mesmo. O foda é que eu não sei se gosto dessas coisas profissionalmente falando. “Porra, Iara, mas você disse que é paixão!”. Veja bem: é e não é. Mas eu pesquisei uns cursos no Senac de administração de serviços de alimentação. Mas o mais legal mesmo, que quando sobrar tempo e dinheiro (ou seja, nunca) eu devo fazer, é um curso que seria como uma Sociologia da Alimentação. Sabe pensar a comida numa perspectiva histórico e cultural? Pirei. Mas, né? Sei lá. Quem sabe eu mude de ideia de novo...

9. Administração – privada e pública
Daí que hoje eu sou uma assistente administrativa. Sou responsável por uma série de tarefas, de muito práticas à essencialmente burocráticas, num escritório pequeno de uma multinacional finlandesa. Não tá uma maravilha e eu poderia ganhar mais como secretária bam-bam-bam, mas daí eu lembro que ia ter que ser babá de executivo de novo e me conformo de ganhar menos. Além de que secretária é uma criatura infeliz que depende da agenda do chefe pra tudo, do almoço às férias, muitas vezes. E secretária nunca vai a lugar algum – e eu já fui mandada pra Helsinki pra fazer um treinamento, o que não deixa de ser divertido. E, voltando à ocupação, eu gosto muito de resolver problemas práticos, fazer coisas acontecerem. Gosto mesmo. Na verdade, penso que eu queria trabalhar resolvendo problemas grandes, gerindo questões de emergência. Lembram quando caiu aquele avião da Gol na Amazônia? Uma tragédia, eu sei, mas só conseguia pensar na logística envolvendo as buscas. Mesma coisa com o socorro à vítimas de enchente – fico aqui mentalmente pensando que precisa de água, de remédios, mas também de um plantão jurídico pra tirar os documentos de quem perdeu tudo. Enfim. E o curso que eu faço hoje, a pós que eu finalmente escolhi e tô adorando, é de gestão pública e urbanismo. Então cada vez mais eu penso que eu vou ter é que considerar a possibilidade de meter a cara nos livros por um bom tempo e tentar um concurso público. Mas ainda não sei. Complicada, eu?

Nem mencionei que o meu primeiro vestibular foi pra Jornalismo, porque daí viravam 10. Acho até que vocês iam achar um pouco demais (ou não?). E bom, parece que a ideia é indicar 9 pessoas pra repassar o tema. Eu tenho medo de passar tarefas assim às pessoas, porque elas podem ficar constrangidas – embora eu tenha adorado a indicação da Aline. Então, façam o seguinte? Quem comenta aqui sempre tá convidada a me contar 9 coisas. Vou adorar saber mais sobre vocês.

9 comentários:

  1. eba! eu comento sempre aqui e me senti convidada a fazer isso hihihi (ok, eu iria fazer de qualquer forma, mesmo que voce dissesse "a unica pessoa que eu nao quero que responda isso eh a luci"). eu adoro responder essas coisas! e adorei o post da sua amiga, ela escreve muito bem!

    mas soh uma coisa... foi mal aih, mas com uma estrada dessas, voce nao tem 30 anos, tem 70. Oo

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  2. Gente... quanta coisa você já fez! Eu sou daquelas que sempre soube o que queria ser, ou quase, já que me descobri logo na primeira tentativa. Tirando a vez que tentei dar aulas num curso de informática que foi epic fail, nunca fui outra coisa que não programadora, isso já faz uns 15 anos, sendo que 13 deles na mesma empresa, e nem tenho vontade de ser outra coisa.

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  3. Menina quanta coisa você já fez! rsrs... Me senti uma criança perto da sua experiência profissional e olha que só tenho uns dois anos a menos...
    Adorei a idéia... Vou colocar lá no meu blog. Se der, dá uma passadinha lá... Bjus

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  4. Luci,

    Eu sabia que você se animava! Bora escrever que eu quero ler, mulher. E ó, eu juro que eu tenho 30 anos. Se fosse pra mentir a idade, eu dizia que tinha uns 20 e algo, né?

    Ashen,

    Muita inveja de quem tem essa segurança. O post pode até ser meio cômico, mas na prática rola uma série de frustrações por não conseguir focar. Mas eu chego lá.

    Laurinha,

    Ai, não fala que se sentiu criança porque eu fico me sentindo tia. Eu é que sou precoce e instável. Vou passar lá sim, pode deixar! Bjo!

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  5. Menina, adorei! Eu já quis ser tanta coisa nessa vida, e continuo querendo, que me senti deliciosamente confortável lendo suas aventuras profissionais. Parabéns pelas buscas, é o que vale. E vou ver se me animo a fazer minha listinha também. Tô aqui morrendo de rir to teu comentário lá no post da cobra. hehehe, é, querida, vida de mãe é complicada! :-D

    Beijos, linda.
    Rita

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  6. Ai que barato, Iara! Você já fez uma porrada de coisas, cara! Eu não fiz nem metade ainda...
    Agora me diz: Por que você desistiu de Jornalismo?
    (O meu primeiro vestiba foi pra Jornal e o segundo, no qual passei e tô cursando, tbm. :)

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  7. E ah... vou pensar aqui em 9 coisas, viu?! Não tenho a mínima ideia e nem sei se tenho 9 coisas do mesmo "gênero"... MAS tentarei, né?!

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  8. Eu li e fiquei pensando na vida chata que levo, gentem! Emoção teve você envolvida em tanta coisa diferente. A minha história é chata. Nem vou contar.

    Bjs

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  9. Rita,

    Que bom que você se identificou! Porque eu fiquei com medo de todo mundo me achar meio doida.

    Glorinha, flor, se com 19 anos você já tivesse feito tudo isso, eu ia achar bem estranho, viu? O jornalismo foi o seguinte: eu não passei no vestibular e depois fiquei em dúvida se era aquilo mesmo. Ao mesmo tempo, a coisa que mais me dava prazer na vida era a literatura. Então, no ano seguinte, mudei minha escolha. Mas eu ainda cha jornalismo interessante, sim. Muito interessante, aliás. E, escutcha, as 9 coisas não precisam nem ser monetemáticas, nem muito menos com este tema. Quaisquer 9 coisas sobre você tão valendo.

    Mari,

    Ó só, é menos divertido do que parece. E eu duvido que sua história seja chata, talvez ela só tenha menos variáveis. E eu adoraria saber 9 coisas mais sobre você.

    Bjo, meninas!

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