segunda-feira, 4 de outubro de 2010

E depois do susto...

Olha só, eu pensei muito, li muito e passado o susto e o medo reginaduartísco de não rolar no final das contas, tô achando é bom que a eleição foi pro 2º turno. Porque a gente aprende um monte com isso. E a principal lição, pra quem não tinha se ligado, é que arrogância e presunção não são exclusividade da direita. Que como eu coloquei aqui esse “nós x eles”, essa trincheira, é péssima pra democracia. Porque a primeira coisa que muita gente fez foi o quê? Desqualificar o voto na Marina. Olha só, eu não estou dizendo que questionar ou tentar entender é desqualificar, pelo contrário. Acho que é este questionamento que é importante. O que não pode é, como eu vi muita gente fazendo, dizer que é um voto despolitizado, de mauricinho. Sabe aquele lance de dizer que petista é ignorante e tal? Mesmíssima coisa, com o sinal invertido. É interessante porque ao mesmo tempo que tem amigos bacanas mandando e-mails babacas, a gente se dá conta de que tem gente na esquerda que não dá vontade nem de apertar a mão, quanto mais confraternizar em algum sentido. Mas isso é maturidade, perceber que o mundo diverso, há gente bacana e babaca em todos os lados e olha só, a gente tem um país a construir e precisa da ajuda de todo mundo.
Mas o voto na Marina é o caso aqui. Sem nenhuma ofensa, é razoável dizer que ele é muito diverso. Tem gente que acreditou em spam que a Dilma disse que nem Jesus a derrotaria, tem gente anti-PT mas sem especial simpatia pelo PSDB, e tem gente que simplesmente não quer endossar o governo assim, de saída, porque ele tem uma série de defeitos. E, oi? Não reconhecer que há problemas é sério. Há muitos. Ainda acho que há mais acertos, por isso votei na Dilma no 1º turno. Mas eu mesma sou da turma de mais de 6 milhões de eleitores que não votou no Lula em 2006 no 1º turno. Votei na Heloísa. E eu sei que agora dá mais medo porque a Dilma não é o Lula e o Serra não é o Alckmin. Só que 2010 também não é 2006. E acho que todo mundo concorda que o 2º mandato foi muito melhor que o 1º, que os resultados foram mais visíveis mesmo.
Por outro lado, a urgência dessa autocrítica. Que tem que ser feita pra ontem, e se a gente ganhasse no 1º turno talvez não viesse. Em time que se ganha não se mexe, né? Pois é pra continuar ganhando o governo vai ter que ouvir mais os porquês de quem não está com ele. E isso é excelente pro Brasil. Olha só, aqui em São Paulo o governo estadual conta com o voto anti-PT e não faz autocrítica nunca. Fica aí, fazendo o mínimo do mínimo do mínimo no estado mais rico do país e já tá indo pra 20 anos no poder. Lei do menor esforço, saca? E você agora vai falar que o PT não é o PSDB. Mas não é por isso que eu quero o PT no poder por anos a fio achando que está abafando. Colocando um cara sem experiência e agressor de mulheres e achando que vai levar o Senado com isso, que não vai se queimar. Que vai apoiar Roseana Sarney e vai ficar tudo belezinha (fosse eu maranhense, acho que votava na Marina também). Menos, né, gente?

Enfim. Muito a ser discutido, muito a batalhar. Mas comemoremos a democracia, comemoremos Marina, comemoremos a possibilidade de abrir nova discussões.

PS: Continuo com medo da baixaria, claro. Mas se o PSDB aprendeu alguma coisa nessa campanha foi que o eleitor não curte baixaria, não. Tanto que ele não ganhou nada com ela. E se apelar muito, só tende a se queimar mais. Mas, eu posso estar enganada. E o meu medo mora aí, claro.

8 comentários:

  1. Depois do susto inicial é que fui percebendo que, na verdade, foi uma grande vitória da esquerda. Dilma teve quase tantos votos como Lula, isso é muito significativo. Fizemos senadores, ganhamos territorialidade, governadores, deputados...
    Estas análises são muito inteligentes e dão uma perspectiva interessante:
    http://www.casacinepoa.com.br/o-blog/jorge-furtado/dez-falsas-raz%C3%B5es-para-n%C3%A3o-votar-na-dilma
    http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=17025

    Um abraço carinhoso e bem vermelho

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  2. Ai, eu estava esperando teu post. Bom, eu questionei, você deve ter visto, sei lá. Porque não entendi a Marina. E aí tô pedindo que quem entendeu me explique. E tô indo atrás, fazendo o mea culpa e tentando ouvir o outro, mas até agora ninguém me disse nada diferente de "o PT tá há muito tempo no poder" e "não gosto da Dilma". Então tá. Não gosto da Dilma é argumento, uai. Vou dizer o quê? E agora tô vendo sinais de que a Marina vai apoiar o Serra. A Marina apoiando o Serra. Pronto, e agora? O que isso faz da Marina, da política Marina? Vai apoiar isso

    http://t.co/k7RchtL

    ?

    Então o que terá sido o voto nela senão jogar parte das conquistas do Lula no lixo? Eu tento ser muito respeitosa, barrar meus preconceitos, mas eu queria conversar com UM eleitor da Marina que me falasse dos pontos em que o projeto dela melhoraria os projetos do Governo Lula. Tô esperando. Muita gente que me conhece votou na Marina. Eu perguntei lá no blog, ninguém foi lá comentar. Eu vi comentários no blog da Lola de gente descontente com o PT e antipatizante do Serra, mas quais eram as propostas da Marina? Se a Marina tivesse sido eleita presidente do Brasil, o que ela ia fazer para garantir que o Brasil continue avançando com os olhos voltados para a justiça social? Se a pessoa votou na Marina sem saber dizer alguma coisa sobre isso, merece respeito ainda, porque democracia garante que cada um faça o que quiser com o voto. Mas eu questiono essa postura porque, a não ser que essa pessoa tenha o Serra como segunda opção, não é possível que ela não perceba o risco que a onda verde trouxe para o país. Será que me faço entender? Eu respeito o voto de todo mundo e estou prestando atenção nessa onda verde para entender a dinâmica da coisa. Mas olho, olho e só vejo respostas tão confusas e vagas como as da Marina nos debates. Claaaro, estou generalizando, tem gente politizada que prefere a Marina. O raio tá sendo entender como a Marina ia avançar além das propostas de um suposto governo Dilma. Na real, acho que estou me expressando mal: eu lamento o voto na Marina agora. Não posso questioná-lo,né? Acho que encontrei o termo. É isso, olha como conversar é bom. Lamento, com respeito, mas lamento muito, simplesmente porque queria ter tido a Dilma eleita no primeiro turno. Não acho que vá haver qualquer aprofundamento de debate agora. Vai haver mais lenga-lenga e tempo para o Serra e sua turma arquitetar aquele tipo de campanha que eles adoram. Mas, ai, já falei demais. Bj!
    Rita

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  3. Sim, sim, muito bom ter outras vozes no debate político, sempre. Vou achar melhor quando eu entendê-la com mais clareza, mas isso muito provavelmente deve ser um problema meu.

    bj
    Rita

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  4. Borboleta,

    Adorei os links! Bora reanimar e um abraço vermelhinho pra você também!

    Rita,

    Olha só, eu entendo o seu questionamento. Mas tem uma coisa que você não está levando em consideração: que o voto é um instrumento de manifestação que vai além da escolha do candidato x ou y. O voto manda recado. O eleitor na Marina não votou achando que ela seria eleita. Não votou acreditando nem que ela iria pro 2º turno. Sendo assim, que diferença fazia ter um programa super completo? O voto foi mais na idéia, no carisma, no desejo de renovação, numa história a ser respeitada. E a Marina representa tudo isso. Representa até o sucesso do governo Lula, porque fez parte dele. Então, pensar num governo Lula 2.0 versão ecológicamente sustentável é muito bacana, sim, eu acho. Eu falo pela minha experiência, de quem votou na Heloísa não porque não queria mais o Lula, mas porque queria entregar o voto para um discurso mais a esquerda do governo, que resgatasse algumas bandeiras históricas do PT. E, no meu caso, votei na Heloísa achando que se ela se elegesse seria um desastre. Nada pragmático isso. Mas é pra gente ser pragático que inventaram o 2º turno. A eleição em 2 turnos nos dá a liberdade de usar nosso voto pra mandar recado, sem essa preocupação de ser útil, o que é sensacional pra democracia. Então, não fica achando que esse voto é um voto de reprovação do governo Lula. É um voto de crítica, e a crítica deve ser ouvida, mesmo que ela não nos ofereça uma alternativa melhor assim, de saída.

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  5. Oi! Sou novo por aqui e adorei teu blog. Você escreve muito bem, sabia? Rs.

    Brincadeiras á parte, o voto em Marina é um voto de descontentamento com a polarização PT/PSDB e a busca do novo. Provavelmente alguns votos advieram dos boatos religiosos na internet, igrjas e templos; mas não creio que tenha sido o grosso e esse voto tende a se reverter pra Dilma (principalmente no NE). Acho que Dilma vence mas fica o recado para que PT e PSDB busquem uma renovação de seus quadros. Sobre Marina, foi um fenômeno. Mas a manutenção de sua força se dará com seu apoio ou não a algum dos candidatos. Gostaria de vê-la apoiar Dilma; mas se fosse ela, ficaria quietinha no meu canto.

    Bjo.

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  6. Ah Iara, se todo eleitor da Marina fizesse toda essa reflexão antes de votar nela, a gente tava era bem demais! A realidade é muito mais triste e acho que a grande maioria dos que votaram nela foi so pra seguir a modinha mesmo ou acreditaram nos boatos que rolaram por ai. Eu não digo que todo eleitor da Marina é depolitizado, até porque conheço uns que pensaram muito antes de fazer isso e a acompanharam desde o inicio da campanha, mas que boa parte não fazia ideia do que estava fazendo, ah, isso eu acho sim. E o resultado disso é o risco de destruir uma politica social que dura 8 anos, ou seja, ainda é bem fragil e reversivel. Mesmo aqueles que votaram conscientes, sera que eles não mediram se valia o risco de por tudo isso a perder pra mandar um recado pro governo? A gente sabe do que a nossa midia é capaz e ela esta muito desesperada. Vai ser um mês dificil pra todo mundo e vai ser duro conseguir mudar de assunto até la. Beijo!

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  7. Oi, Iara.

    Atrasada, mas aqui. Olha, eu estou com a Amanda nesse ponto. E repito, não entendi no que a Marina representa esse questionamento. Eu prestei atenção no que ela falou, vi os debates. Na boa, apertava e ela corria. Eu tenho outras coisas pra falar sobre isso, mas vou ver os outros posts aí em cima. Nada impede que eu volte aqui depois.

    Bj
    Rita

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  8. Rita e Amanda,

    Eu acho só que não existe isso de "o eleitor da Marina". Porque tem muitos grupos aí. Tem os religiosos, tem os "coool-moderninhos" da onda, mas acho que tem os críticos, sim. Podem ser minoria, mas eu conheço alguns. Que como eu disse, não votaram exatamente na Marina, votaram na crítica. Alguns desses não tem nem dúvida que vão de Dilma no segundo turno. Mas o jeito que encontraram pra dizer que nem tudo são flores foi não endossar desde o primeiro momento. Colocaram em risco a vitória porque com mais tempo de campanha temos mais espaço pra baixaria? Sem dúvida. Mas eu não acho inválido se manifestar desse jeito, não. Acho que é parte da construção da democracia, até. Mas é lógico que eu lamento um tanto. Lamento, mas respeito.

    Bjo!

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