Maria e Ana são amigas. Ana namorava um carinha que era amigo de José. Daí José e Maria se conheceram num barzinho, aquele papo de colocar os amigos juntos e tal. José e Maria se curtiram, mas não se apaixonaram perdidamente. Rolou tesão e eles transaram. Não importa muito saber se esqueceram a camisinha ou se a camisinha estourou. Fato é que algumas semanas depois Maria descobriu que estava grávida.
Maria é católica praticante. E está desempregada. Mora com os pais conservadores. Mas como a imensa maioria das mulheres saudáveis, não importando a religião e a situação econômica e o estado civil, Maria tem tesão, ué. Antes de religiosa, desempregada, o que for, Maria é humana, como eu e você.
Maria sofre muito com a descoberta da gravidez. Sofre de culpa e de desespero. Contra a orientação de sua Igreja, resolve interromper a gestação. Mas Ana, sua amiga, não se conforma que José não seja minimamente implicado na história. Pega o telefone e liga pro moço. Diz que precisa conversar pessoalmente, mas ele enrola pra encontrá-la. Resolve então contar por telefone mesmo: Maria está grávida. Ele responde que “não quer casar com ela.” Ana pergunta: “que ano é hoje, Brasil?”. Não, José. Ninguém quer que você se case. Pra sua “sorte”, Maria provavelmente não levará a gravidez adiante. Mas você tem ser adulto e conversar com ela, porque o problema é dos dois. E ele responde que só vai se Ana estiver junto. Ela se irrita, diz que ele não precisou da ajuda dela pra gozar e bate o telefone na cara dele. José é um cara de 35 anos, e bem empregado, diga-se de passagem.
Maria tem a boa sorte de conhecer um médico de confiança que interrompe sua gestação com segurança sem lhe cobrar os olhos da cara. A gestação é interrompida, mas a culpa não. Ela sabe que, pra Igreja Católica, o que ela fez é digno de excomunhão. Ana é espírita. Quer aliviar o sofrimento da amiga, mas sabe que em sua religião vão dizer que este será um carma que ela vai carregar para o resto da vida. Daí elas conhecem uma moça que frequenta a Igreja Universal do Reino de Deus. Torcem o nariz no início, mas o sofrimento na alma de Maria é grande, e ela sente que não tem mais nada a perder. Lá ela conta sua história ao pastor, que a acolhe. Diz a ela que o que ela fez é pecado, mas Deus entende que ela agiu segundo o desespero, porque humanos e pecadores somos todos. Que Jesus diria “vá, e não peque mais”. A vida continua irmã, Jesus não quer que você sofra assim porque ele te ama mesmo em seus pecados. E Maria finalmente volta a sorrir, aliviada.
A história acima é real, só os nomes foram trocados. Sei que José não foi capaz de dar um abraço e oferecer ajuda (inclusive financeira, porque não) a Maria, como se essa gravidez indesejada fosse só dela. Sei que Ana e Maria não tem nada de feministas super libertárias, são mulheres bem conservadoras, que não concordam com a maior parte das minhas opiniões. E sei que o discurso da Igreja Universal tem sido nessa linha, não de aprovação do aborto, mas de acolhida às mulheres. Dexiando claro aqui meu ateísmo e nenhuma simpatia pela Universal, mas fico sinceramente aliviada de saber que existe algum lugar que acolha uma mulher cristã nessa situação tão triste.
Este post é parte da Blogagem Coletiva do Dia Latinoamericano e Caribenho pela Descriminalização e Legalização do Aborto.
Saber que é uma história real é um susto. Apesar de tudo, ainda tomo susto. Mas, né, tão emblemática.
ResponderExcluir:-/
Me pesa ser homem, sei disto. Nada, mas nada mesmo comparado as situações relatadas (e não relatadas) aqui.
ResponderExcluirtenho uma amiga que passou por coisa parecida (filha de gente conservadora, engravidou de um cara que mal conhecia e que nao quis assumir o guri). fez um aborto e passou um ano em depressao :)
ResponderExcluirNa qualidade de praticante da doutrina espírita, me sinto obrigado a fazer alguns esclarecimentos.
ResponderExcluirNão utilizamos o termo "Karma", acreditamos na lei de causa e efeito mas essa palavra se refere a uma crença da filosofia oriental a qual respeitamos, mas não faz parte da nossa fé.
Acreditamos que o aborto é prejudicial ao espírito tanto da mãe quanto do bebê, e na filosofia do Cristo que nos convocou a parar de julgar nossos semelhantes. As mães praticantes de aborto podem até ser julgadas por este ou aquele espírita, mas isso não reflete a base da nossa doutrina. Acolhemos estas pessoas, mesmo considerando o o elas praticaram como sendo um erro. Errar é humano e perdoar é divino segundo nossa religião, que é fundado no amor.
Convido você a conhecer um centro espírita e nossa literatura, não para tentar te converter, mas para que quando você nos criticar novamente, o faça com o conhecimento necessário sobre o que é espiritismo, para que essa crítica possa ser pontuada de acordo com a realidade.
Anônimo,
ResponderExcluirNão tenho o menor conhecimento de doutrina espírita mesmo e lamento se passei uma impressão equivocada. Como a história e verídica, eu só reproduzi o que me contou minha amiga que, ela sim, foi criada no esperitismo e frequenta a Seara desde pequena. O que não significa que ela está certa, claro. Pode estar equivocada. Mas de maneira nenhuma minha intenção foi desmerecer a religião, só contar uma história conforme a versão de uma das envolvidas.