domingo, 7 de novembro de 2010

Diversos microtemas sem nenhuma profundidade

Preguiça de escrever, mas não gosto de deixar tudo abandonado. Então, microtemas:

Algumas mulheres resolveram fazer umas fotos engajadas e sensuais e criaram uma página no Facebook chamada “gostosas pró-Dilma”. Claro que muita gente achou de mal gosto, machista e tal. Daí no Uol, noticiam a coisa tentando associá-la ao Serra pedindo ajuda pras “meninas bonitas” de Uberlândia pedindo votos pra ele . Como se fosse a mesma coisa. Como se fosse incoerência chamar o Serra de machista e postar uma foto “sensualizando” pró Dilma. E não é. A Dilma não pediu pra ninguém mostrar o decote pra fazer campanha. Muito menos sugeriu que suas eleitoras insinuassem trocar favores sexuais por votos. Mas as eleitoras da Dilma (e as do Serra, claro) são mulheres donas de seus corpos e de sua sexualidade e se resolveram misturar com política, foi por decisão própria, não por apelos externos. Sim, a gente tem o direito de não gostar se quiser. E o Serra também deu uma sugestão, não uma ordem. Mas não é a mesma coisa, nem de longe. A autonomia da mulher é a questão. Eu dispôr do meu corpo é uma coisa. Você achar que pode dispor das minhas vontades como capital político, é outra bem diferente.

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Sexta-feira minha amiga Ma, que mora na França, veio jantar em casa. Ela ainda não conhecia o apê que eu divido com o marido. E foi tão engraçado que ela trouxe o Arthur, seu filho de 15 meses. E tomaram conta da casa. Toda uma outra dinâmica. Fosse outra pessoa, talvez eu achasse espaçosa. Mas é a Ma, e a Ma pode tudo na minha casa: já entrou dizendo que precisava dar um banho no menino, ficou descalça, pediu pra gente tirar a mesa de centro (que é dela, aliás...) e o tapete para ele não cair e abrir espaço pro cercadinho portátil, me colocou pra lavar mamadeiras, deu fralda de cocô na minha mão pra eu jogar no lixo, fez a Lu dar mamadeira pro pequeno. Enfim, ficou a vontade. Nada mais gostoso do que alguém que a gente ama ficar a vontade na nossa casa. Adorei. Uma coisa ficou cristalina: a vida com crianças é outra. Parece boa também, mas é bem diferente, e cansativa. Por enquanto gostamos muito da nossa como está, então contracepção é bom e fazemos uso. Bem engraçada essa fase em que os amigos (e no caso do marido, os irmãos também) começam a ter filhos e sua vida social se divide entre a turma do descompromisso a turma das fraldas.

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A Ma contou um pouco sobre seus perrengues na França. Ela chegou lá em 2005, mesma época que eu. Ficou, casou, fez um master, já trabalhou, enfim, tá habituada. Mas de uns tempos pra cá tem ficado de saco cheio da condição de estrangeira, a mesma que me deixou de saco cheio em poucos meses. Ela contou que tem vontade de clinicar na França (ela é psicóloga), mas como nossa faculdade aqui não tem TCC, precisa entregar uma memoire pra conseguir sua licença. Até aí, beleza, a gente já sabe como funciona. Ela procurou uma instituição do tipo ensino à distância, pra fazer um curso on-line de psicologia do trabalho pra adquirir algum conteúdo enquanto faz o memoire. De novo, ela não precisa estudar mais, bastaria entregar o trabalho. Chegando pra fazer a matrícula, cismaram que ela não tem license. License, pra quem não leu lá na Amanda ou na Luci, são os 3 primeiros anos de faculdade, sem TCC. A Ma se formou em psicologia no Brasil (5 anos), começou um mestrado aqui mas não chegou a terminar (2 anos) e fez um mestrado em administração hospitalar na França (2 anos). Toda a documentação explicando isso. Daí ela chega lá, dizem que não, ela não pode, e quando ela vai entregar a documentação do Ministério explicando a equivalência da formação dela, a simpática secretária diz que está fazendo greve, não pode analisar documento nenhum, e que só estava lá pra adiantar trabalho atrasado. Nonsense total.

Olha, sempre que você ouviu que fulaninha casou com estrangeiro e se deu bem, releve muito. Se a ambição da fulaninha era só viver fora do país e ter um cara par pagar as contas, pode ser que tenha se dado bem mesmo. Mas se fulana quer estudar, trabalhar, fazer algo que a realize, reconsidere. Ela pode ter que ficar longe das pessoas que amam, enfrentar toda dificuldade de estar numa cultura diferente, sofrem com a língua, e depois de anos lá e muitos anos de estudo de nível superior ser encarada como a estrangeira que tem que provar que fez faculdade. Haja saco. Um beijo pra Amanda e pra Luci, que estão nesse barco. E pra Mari Biddle, que não está na França, mas imagino que passe perrengues parecidos.

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Por fim, receitinha, porque este é um blog variado. Pra sobremesa do jantar de sexta, bati no liquidificador 400g de queijo branco fresco, creme de leite, um pouco de leite condensado (meia lata, não mais do que isso) e coloquei gelatina incolor diluída em 5 colheres de água quente. Dormiu na geladeira e no dia seguinte virei goiabada cremosa (mas dá pra derreter a goiabada em pedaços no fogo com um pouco de água). O povo adorou, mas a quantidade era muita e sobrou. E agora me engajei na árdua tarefa de acabar com essa sobremesa simples no feitio mas luxo no sabor. Recomendo a quem quer servir algo simples mas que pareça mais elaborado do que abrir uma embalagem.

11 comentários:

  1. Eu tenho uma foto no blog (ñ sei onde tá porque não uso tag) onde eu estou coberta pelos meus atuais companheiros- os livros preparatorios para o TOEFL e o GRE, esse obrigatorio para quem quer fazer mestrado aqui nos EUA. Sabe que nunca sofri preconceito por ter me casado com estrangeiro (alguns rastejantes sempre falam meleca mas eles são ..rastejantes). Ninguem nunca fez piadinhas. Talvez porque eu tenha conhecido o cabra, casado, tido filhos no BR e depois quando ele resolveu voltar aos EUA em definitivo, já não fazia sentido para certas pessoas me julgar. Meu marido morria de medo de eu não me adaptar ao inverno. Fazer turismo é fofo e tal mas aguentar o inverno do quase-Canadá por meses é passivel de pedido de divorcio. Nós tinhamos plano B caso eu não me adaptasse ao frio. Felizmente não foi preciso fazer uso dele. É bom ter tido toda uma estrutura no BR porque eu não me sinto vulneravel aqui. Tem mulheres que não se adaptam ao país do marido (nem ao marido), que vivem em depressão e sem dinheiro mas não tem estrutura nenhuma para voltar ao BR ou sair de casa pra tentar uma vida nova. Esse negocio de equiparação de notas de faculdade para faculdade é um pé naquele lugar mas a gente não pode deixar de se abater. Nem toda soccer mom quer o Volvo com tanque cheio na porta pra ser feliz. Nem todas querem ser soccer moms. Nem todas podem ser soccer moms. Nem todo estrangeiro é rikhooooooooo! (acho que essa idéia é a que mais ta grudada no imaginario do brasileiro) etc e tal.




    bjkas

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  2. Gente, nem pra comentar um post eu 'faço sentido'. Sorry.

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  3. Hehehehe, Mari Biddle, fez sentido, sim. Ei, depois vou papear contigo sobre esse "quase Canadá" aí.

    Iara, meu post de hoje pode te deixar com mais vontade ainda de perpetuar a "não-filhice", hehehehe. Ô, maldade, eu não devia falar assim, mas a verdade é que minha filhota anda chorando DEMAIS. Vou falar pra ela que se ela chorar nos debates, ninguém vai votar nela. Né? Que tal?

    Beijocas!
    Rita

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  4. Mari,

    Fez todo o sentido, não se preocupe. Eu nem comentei essa coisa do estrangeiro = rico, porque acho que a gente tende a considerar rico qualquer pessoa com a vida mais confortável que a nossa, e pra algumas meninas que sonham com o príncipe gringo, a classe média dos países desenvolvidos já é muito mais do que sonharam. No mais, boa sorte com o TOEFL. E acho que só amando muito pra dar conta do frio.

    Rita,

    Nossa, que sincronia a nossa! Pela minha curta experiência no assunto na França, mesmo as crianças mais tranquilas tem épocas terríveis. Se paciência vendesse por aí, eu mandava entregar um caminhãozinho pra você aí em Floripa, viu?

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  5. Iara, eu tentei parecer engraçadinha ao falar do 'principe gringo rico' mas é que recentemente uma conterranea estava me falando que teve que explicar pra muita gente que não morria de fome no BR e que não era Maria Green Card. Enfim, coisas realmente chatas que a expatriada tem de ouvir.

    Estou morrendo de medo do GRE pois a banca espera que todos as notas sejam 10 e o que vai decidir mesmo no final é o projeto de pesquisa e as cartas de apresentação de meus ex professores.

    Uma coisa sobre querer ter uma carreira, ter filhos e morar num país que não oferece nada em termos de politica social (aquinão tem licença maternidade remunerada e nem creche) é a coisa que me deprime aqui.

    bjkas

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  6. Esqueci de comentar que se uma mulher é tá correndo atrás de um green card (usei um termo ofensivo acima) eu não tenho nada a ver com isso e elas só merecem mais meu respeito. Já diz mãe que cada um sabe o sapato aperta.

    (eu juro que parei de fazer comentários de gotinhas).

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  7. Iara, o sem nenhuma profundidade fica totalmente por sua conta, viu. Só o primeiro dos microtemas já fez um bem enorme, faz tempo que tento colocar em palavras minhas impressões sobre esses assuntos e você, zás, resumiu otimamente. Todo o resto do post foi muito saboroso (especialmente a parte da sobremesa que vou experimentar). Tenho uma amiga casada com um português e eles moram na Holanda...ai ai, tudo que eu queria era que ela viesse ser espaçosa uns dias aqui em casa ;)

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  8. Eu vi um post do Boteco Sujo sobre as gostosas pró-dilma, ele intercalava as fotos da mulherada com uns comentários daquela cartilha: corpo da mulher é objeto e daí pra baixo.
    Eu acho que existe, sim, uma diferença grande entre o pedido do serra e as gostosas pró-dilma, e nem tem muito a ver com "o serra pediu"/ "a dilma não pediu". O Serra pode pedir o que lhe der na telha: conquiste mais um voto, pinte o muro da sua casa, use adesivo no carro, vista roupas azuis, tatue serra na sua coxa, etc. O que eu considero machista não é ele pedir algo a suas eleitoras, mas que esse pedido tenha como pressuposto que o corpo feminino, o desejo feminino, tem uma "serventia". Isso de "escreve pros pretendentes e diz q quem votar em mim tem mais chances com vc" não é o fim do mundo, mas demonstra uma prepotência típica do machão, do cara que vê os relacionamentos sob uma ótica conservadora, que coloca o desejo masculino como eixo e a sedução feminina como meio. Aquele papo de mulher não gosta de sexo, gosta de dinheiro, mas trocando dinheiro por voto. Os rapazes desejam as moças, então elas vão usar isso a favor de algo, que é externo a seu corpo e seu desejo - aliás, que desejo? se são caras que em não sendo eleitor do serra não lhes interessa, elas querem é voto.
    E eu acho que se parte de um mesmo pressuposto pra criticar as gostosas pró-dilma, as pessoas olham pra elas achando q elas estão "usando" seu corpo, que o estão expondo com alguma finalidade, em troca de alguma coisa e, sobretudo, que essa finalidade é o desejo masculino e o eventual convencimento dos homens que, oh, desejam as gostosas. Mesmíssima lógica: homem quer sexo, mulher que outra coisa, mulher usa seu corpo porque dá ibope, e na campanha política é disso q a gente precisa.
    É cínico comparar o Serra com as gostosas pq eles não estão do mesmo lado da coisa, pelo contrário. Ele é machista em seus presupostos, na natureza de sua fala. Elas, não. Elas estão se manifestando como querem, e só se chama uma mulher pelada de machista se, em última instância, vc concorda que mulher só expõe seu corpo quando vê nisso alguma "utilidade", algum "ganho" objetivo e etc.

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  9. Mari,

    Não se preocupe, eu entendi bem que você não fez julgamentos. Cada um sabe de si: do mesmo jeito que tem mulher atrás de passaporte, tem homem atrás de "mulher a moda antiga". Sei que tá cheio de gringo casando com estrangeira interessado em postura submissa. Só não é o modelo de relação que escolhemos.


    Borboleta,

    Brigada, viu? E dá mesmo uma saudade dessas pessoas queridas que estão a distância. A Ma é uma pessoa super amada, por muita gente, então quando vem temos que disputar horário na agenda dela, sabe como é? Mas tão bom poder revê-la.

    Aline,

    Adoro quando você comenta. É isso mesmo o Serra pedir ou não não é o ponto. A questão a instrumentalização da nossa sexualidade. Mas alguém até podia alegar que as gostosas estavam se servindo disso também, que estavam mostrando o decote pra ganhar votos. Mas a ordem é outra: ninguém tava "sensualizando" pra quem prometeu votar na Dilma, como moeda de troca. Tavam era sensualizando pra quem quisesse ver e dizendo: "eu sou gostosa e voto na Dilma". O corpo como parte de seu discurso de afirmação.
    Você tem que comentar mais aqui, viu? Gosto tanto quando você vem!

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  10. Eu gostei mesmo foi da receita viuuuuuu... rs

    Mas sou tão ruim na cozinha q com certeza vai ficar bem diferente do seu...

    Qto a morar fora, tenho a maior vontade sabe... Acho q esse problemas q vcs enfrentam é normal, e os q vcs enfrentariam ak talvez seriam do mesmo tamanho e proporção... mas não posso dizer né!

    bjusss

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  11. Olha eu dando mole e perdendo conversa boa! Pra ser sincera eu não tive muito problema com equivalências de diplomas e tradução de matérias não. Mas a minha area é mais simples, pois area de saude (fisio, medicos, dentistas) parece que nosso diploma brasileiro não vale nada aqui. Muito triste.

    Agora, é verdade que me sinto uma estrangeira aqui e provavelmente me sentiria para sempre, caso ficasse. Muitas vezes passo como boba por não entender certas coisas, por não rir na hora certa, por não saber ser grossa em francês, por não saber fazer small talk, uma das minhas maiores dificuldades! Mas tudo isso é normal, o que me da mais medo é sentir isso tudo no dia que voltar! Acho que o medo de todo expatriado é de se sentir fora do lugar em todos os lugares. Eh voltar pro Brasil e sentir que não pertece mais. Eh ser estrangeiro em todo lugar. Eu morro de medo disso me acontecer, pq sinto que mudei muito em relação a algumas coisas.

    Devo voltar pro Brasil daqui a um ano e ja to começando a me preocupar com a readaptação (alias, ta rolando um papo bom no blog da Dé, o pedalando em paris).

    Seu post foi tão abrangente que cada comentario aqui ta falando de um assunto diferente, que beleza! Beijo!

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