domingo, 6 de fevereiro de 2011

A vida idílica sem carro

(Ok, propaganda enganosa, mas não achei um título melhor...)

Faz um mês que estamos sem carro. Mas é preciso explicar. Eu venho de uma família que não liga pra carro. Meu irmão vai fazer 29 anos e não tem habilitação. Eu só tirei a minha aos 23, nunca comprei um carro apesar de ter condições pra isso há já bastante tempo, e meu pai tem um carrinho pé de boi. Lá em casa fomos ensinados que qualquer distância de menos de 2km pode ser feita a pé, a não ser em circunstâncias muito adversas. E não, eu não morava em bairro nobre. O metrô mais próximo estava a 1 hora. Mesmo o ponto de ônibus estava a 600m de distância. Já ouve épocas na minha vida em que eu gastava mais no táxi pra voltar pra casa do que na balada em si. (E olha tem muita São Paulo depois da casa dos meus pais. De lá até o extremo sul dá pra rodar mais 1h30 de ônibus, então eu nem tô fazendo mimimi, longe de mim). Mas eu sempre achei carro muito caro. Como assim tem que pagar IPVA todo ano? Como assim tem que pagar seguro? Como assim qualquer coisa que quebra custo 300 paus? Melhor me virar com ônibus e pagar táxi de vez em quando. E fazia planos pra morar num lugar mais centralizado.
Marido também era um sem-carro, apesar de gostar de dirigir e de curtir a coisa-em-si. Bom, como ele trabalha na indústria automobilística, surgiu a oportunidade de termos um carro da empresa em leasing, pagando uma taxa fixa não muito cara pra usar um carro zero, sem nos preocuparmos com seguro, IPVA, revisão, etc. Bem bacana, viramos motorizados por quase 2 anos. Mas desencanamos e, ao final do último contrato, devolvemos e estamos sem. E o povo estranha porque, né? Como assim ficar sem carro? Por que ficar sem carro?
Fato é que o carro, mas do que um meio de transporte, virou um símbolo de status. Você vira um ET se está numa determinada faixa de renda, se tem tal padrão de consumo, mas não tem um carro. E a grande verdade é que pouca gente entende que luxo, luxo de verdade, é não precisar de carro. Moramos numa região de razoável oferta de transporte coletivo. Levamos, incluindo caminhada, 40 minutos porta a porta no trajeto casa-trabalho, mesmo quando o congestionamento bate recorde na cidade (acredite, isso em São Paulo é muito bom). Há supermercados a 4 quadras de distância, restaurantes, baladas, várias coisas que podemos acessar a pé. Claro, pagamos um aluguel caro pra morar numa região tão bacana. Então, não temos carro porque somos privilegiados, e não por sermos excluídos.
Mas tô desviando da coisa. O ponto não é ter o carro. Nada contra as pessoas terem carro, e a gente pode voltar a ter num futuro não tão distante. Ele faz falta em algumas situações, principalmente porque a família do marido mora numa cidade a 100km daqui. De carro, com trânsito não muito pentelho, 1h30, mas agora vamos ter que ir a rodoviária e tals, uma pentelhação. Da última vez alugamos um, mas a ideia não é fazer isso sempre. Então, isso vai ser mais chato mesmo. E outro dia um professor na pós chamou de “reacionários de esquerda” quem critica o pobre que se endivida pra comprar automóvel. Se você mora a 20 kms do seu lugar de trabalho e o transporte que te oferecem a um custo alto é uma droga, é claro que vai querer melhorar sua qualidade de vida.
O que acontece em São Paulo, e em muitas grandes cidades, é que o pessoal que tem dinheiro pra morar em regiões nobres, com transporte razoável, que não precisaria de carro, se acha importante demais pra andar de ônibus. O culpado do congestionamento não é o pobre que só pôde comprar carro agora, é também o rico que não encara 2 kms de caminhada pra nada nessa vida. O cara que vai de carro até a academia pra andar na esteira (sério, morro e não entendo que pega o carro pra ir andar na esteira). As pessoas deixaram de andar na rua. E não dá pra aceitar que “ó, a violência”, porque se você mora em bairro nobre, a chance de ser assaltado dentro do carro é muito maior do que andando a pé. Procura aí estatística e volta aqui pra desmentir, por favor.
Eu não acho o máximo o serviço de transporte coletivo de São Paulo. Mesmo na minha região ele deixa a desejar. Mas eu gosto da troca que o combo andar na rua + pegar o trem me proporcionam. Tem um casal idoso que passa por mim todas as manhãs em sua caminhada matinal. No começo, só o homem respondia ao meu bom dia, a senhora parece ser mais reservada. Depois de algum tempo, ela passou a me responder. Logo, a sorrir. Outro dia passei do outro lado da calçada, e ela acenou a mão toda sorridente. Eu ganhei meu dia por saber que a expectativa de me encontrar está na rotina deles também (fazer academia de manhã alterou meus horários e não os vejo mais, infelizmente). E no final do dia tem o rapaz que busca o filho na escolinha na minha rua. O menino ia no carrinho 1 ano atrás, agora já puxa uma mochilinha e vai tagarelando pro pai, e eu vejo o tempo passando. Eu perderia tudo isso se estivesse no carro. Toda essa troca. Como perderia o sujeito no trem lendo um livro escrito “EXU” bem grande na capa. E a moça negociando com o marido que ele cuidasse do bebê porque sim, ela tinha direito de tomar uma cerveja com as amigas. Fosse de carro, só conviveria com os meus colega tão pequeno-burgueses quanto eu. Desculpem se eu pareço muito piegas, mas a rua e o trem me humanizam, me põe em contato com a cidade, e eu gosto disso.
Na minha pós, tratando de urbanismo, alguém professor mencionou que hoje 30% do espaço urbano de São Paulo é dedicado à vias. Vias onde circulam, majoritariamente, automóveis, e muitas vezes só transportando o motorista. Daí a pessoa pega o carro que estava numa garagem, transita com ele, e deixa em outra garagem. Espaços que são dedicados ao veículos. Tem lançamento imobiliário em São Paulo de 2 quartos que oferece 3 vagas na garagem. Só eu acho essa relação muito estranha? No curso a gente aprende a se perguntar porque as pessoas podem estacionar seus carros sem pagar por isso, mesmo na rua. Quando a gente para o carro na rua, tá empatando um espaço público em prol de um uso privado. O carro é o senhor da metrópole, não os cidadãos. Não sei vocês, mas eu acho isso triste.
Não sei se é possível pra todo mundo. Não sei como seria se eu tivesse crianças pequenas, por exemplo. Acho realmente que algumas situações são bem complicadas de vencer sem carro. Mas eu fico chocada com o quanto as pessoas desaprenderam a viver sem automóvel. Com a quantidade de limitações que elas se colocam. Limitações todos temos. Eu tenho um joelhinho meio podre que, quando está inflamado, reclama um pouco do 1,5km que eu preciso vencer atá a estação de trem. Quer dizer, desculpa pra me acomodar eu tenho. Todo mundo tem, se partir do pressuposto que o “default” é se locomover usando um transporte motorizado individualmente. Mas este não é um post pra apontar acomodação de ninguém, longe de mim. É só pra te contar que eu sou uma pessoa privilegiada por, aos 31 anos, nunca ter pagado IPVA na vida. =D

34 comentários:

  1. As pessoas aqui foram lendo o texto e abanando a cabeça em aprovação...

    Tenho a mesma sensação que você: o transporte coletivo e a rua nos aproximam das pessoas. E atualmente me sinto muito mais segura andando a pé e de metrô do que nas poucas vezes em que saio de carro (no fim do mês papai leva o carro embora, felizmente - mas vou ter que pagar o IPVA, nhé).

    Não é uma escolha que todo mundo topa, mas aqui no Rio é bem mais comum do que aí em Sampa. As pessoas não estranham, e quando digo que estou me desfazendo do carro, sempre dizem "ah, mas estando perto do metrô você não precisa de carro, mesmo".

    Estou louca para me libertar do carro, e poder incorporar esses gastos com ele ao meu orçamento mensal...rs

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  2. Carro é um conforto e tanto -------> pra quando você precisa de conforto e tanto.

    Eu já fui mais radical com essa coisa de não ter, não gostar, já bati boca com motorista mal-educado na rua e achei que todo mundo tinha que andar de bicicleta.

    Depois de um tempo eu acalmei e entendi que sim, tem gente que precisa de carro, mas essa necessidade só existe quando o sistema de transporte público não atende. Hoje, quando vou a BH, acabo usando muito o carro dos meus pais, porque eles moram num lugar de acesso dificílimo, no alto de um morro enorme, etc.

    Mas a vida de pedestre é sim mais segura e mais divertida. Pedestres criam empatia e não precisam de campanhas orquestradas de X rádios pra sorrir um pro outro (http://www.youtube.com/watch?v=-Hc1kFvUTT4).

    Pedestres podem sorrir quando se trombam, sem medo de prejuízos enormes e de ficar parados uma semana na oficina; é uma existência mais leve, menos imediatista (esperar, esperar) e mais diversificada - e substancialmente mais barata. Tem como ser melhor?

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  3. Oi Iara, você vem sempre aqui? ;-P

    Eu tenho carro. Mas morro de dor de cotovelo do povo daqueles países que investiram há muito tempo em transporte público e que têm gerações de sua população se mexendo neles pra lá e pra cá. Porque mesmo que eu concorde com seu texto, na prática estou criando duas crianças que não usam transporte público (tudo bem, não ainda, porque quando estiverem grandinhos, tchau tchau).

    Eu sempre quis ter carro, qdo não podia ter, porque perdia muito tempo nos pontos de ônibus e porque a oferta era ruim então era comum ver o meu ônibus passar uma, duas vezes, e não poder pegar pq estava lotado. Mas ao invés de voltar o olhar para a necessidade de mudar esse quadro, olhei pro umbigo e passei a desejar carro e nunca mais fiquei sem. Mas não gosto do isolamento, do sedentarismo, da umbigolândia.

    E (momento pedante) essa é uma das coisas que adoro na Europa. Passei 6 meses em Londres certa vez e nunca senti falta de carro. Mas a primeira coisa que fiz qdo voltei pro Brasil foi comprar um. Humpf. E mesmo não tendo filhos naquela época, ter carro, morando onde eu morava, facilitava muito a minha vida. Mas admito uma boa parcela de comodismo aí.

    Mas agora, nessa fase da minha vida, confesso que nem cogito ficar sem. Meu bairro nem é muito longe do trabalho, mas tem distâncias inviáveis a pé. Poderia ir trabalhar de ônibus, mas levar as crianças à escola e depois voltar ao trabalho tornaria a coisa fora do comum, dentro do universo de comodismo que criamos para nós, claro. O fato é que há outros fatores em jogo: o bairro deveria ter a escola pros filhos, um problema a menos (é assim em vários lugares da Europa, matricula-se o filho na escola do bairro e deu); poderíamos ter metrô na cidade, etc. Mas, principalmente, para fazer diferença mesmo, precisaríamos dissociar a imagem de que carro é status. Quando comparo o Brasil a certos países, levando em conta a relação das pessoas com o transporte, tenho a impressão de estar comparando dois planetas diferentes.

    Beijos, aparece aí mais vezes. :-)
    Rita

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  4. Ei, vocês comentando! =D

    Deborah, em SP, fora de ambientes mais alternativos, o povo acha que a maior excentricidade do mundo não ter carro podendo ter.

    Moraleida, pois é, essa leveza. Não tinha pensado nesse ponto para o post, mas um dos motivos pelos quais meu irmão não tira habilitação é porque pra dirigir tem que prestar atenção. Incrível como pedestre nem precisa se preocupar se tal rua é contramão, se tem muito buraco e tal. A gente não precisa se planejar tanto, é mais leve mesmo. Mas, né? Radicalismo não. É só que uma parcela da população internalizou que é a única maneira de se locomover na cidade. Tão limitador.

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  5. Eu também não tenho carro. Às vezes me faz falta. Ainda mais que tenho uma filha pequena. Carregar criança em ônibus é uma droga. Não tenho por causa do dinheiro mesmo. Carro é um filho a mais. Uso muito o táxi e ainda assim gasto menos do que se tivesse carro. Eu e meu marido temos 26 anos e sem habilitação.

    Muito legal seu blog! Parabéns!

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  6. Realmente, é uma reacionária de esquerda.

    E mais: pagando IPVA, a vaga na rua já não sai mais "de graça", né querida?

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  7. Oi!

    Concordo com seu professor. Eu acho uma sacanagem gente que tem carro e fica reclamando "o governo baixou o IPI, olha no que deu!". É como você disse, não ter carro é que é privilégio. Não dá pra querer resolver o problema do trânsito fazendo um corte social em quem pode ou não ter carro.

    Eu não tenho habilitação. Minha família nunca teve carro e só quem dirige é meu irmão. A gente na maioria das vezes morou em lugares mais centrais (não exatamente nobres). Eu fico chocada de saber que tem gente que precisa pegar o carro pra ir na padaria. Meu marido já vem de uma família motorizada, mas prefere ir de ônibus pro trabalho, porque se estressa muito dirigindo e no ônibus, mesmo de pé meio espremido, consegue ver internet no celular.

    Saiu matéria ontem na Folha, sobre pessoas como vocês (eu não conto porque trabalho em casa): http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0602201123.htm (não achei sem ser pra assinante, qualquer coisa me pede que eu te mando).

    ótimo texto!

    beijos

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  8. Rita,

    Há cidades em que o transporte público é péssimo, então eu nem fiz o post pensando que essa é uma possibilidade razoável pra todo mundo, claro. A gente aprende no curso que o Brasil tem um problema sério: a urbanização chegou junto como automóvel, ao contrário da Europa, que tinha toda uma organização urbana ates mesmo de existir luz elétrica. Isso complica muito a vida da gente, porque é um círculo vicioso, a cidade "obriga" todo mundo a ter carro, e quanto mais carros menos alternativas. Mas eu passo bem longe de ser mártir de qualquer causa e de defender isso pras pessoas. O ponto é que eu acredio que muita gente poderia viver muito sem carro simplesmente se pensasse fora de caixa. E acho que jovens saudáveis, sem crianças pequenas, morando em regiões centralizadas, como somos eu e Daniel, como são Débora e Moraleida, deveriam aproveitar essa oportunidade de não estabelecer esta dependência automática. Porque, né? É principalmente do sentimento de dependência que eu tô falando.


    Sara,

    Meus pais compraram o 1º carro quando eu tinha 2 anos de idade, e imagino que não era fácil, por exemplo, ir fazer supermercado de ônibus com uma bebê. Mas, né? As pessoas fazem, e se a vida fica mais difícil, nem por isso é inviável. Com certeza usar táxi eventualmente é mais barato e mais cômodo que a grana que vai no carro. Mas tem gente que se sacrifica horrores e não abre mão. Eu não julgo, se o caitalismo tem uma coisa boa, é a possibilidade de definir nossas prioridades ao gastar nosso dinheiro. Mas definitivamente, não é minha escolha. Obrigada e volte sempre.

    Anônimo,

    Tô pra entender no quê meu post é ofensivo, você me explica? Meu marido trabalha na indústria, automobilística, não tenho moral nenhuma pra ser radical contra carro. Só tô ponderando outras possibilidades. E o IPVA que você paga é pela manutenção das vias. É pra garantir que estejam lá, inteiras, pra você rodar nelas, e não pra ocupar um espaço público por duas horas deixando seu carro lá. E sim, parávamos o carro na rua quando tínhamos um, claro, só tô dizendo que não é obrigação do Estado oferecer espaço pra isso. Mas, né? Gente que tá afim de ouvir argumento não comenta como anônimo.

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  9. Sim, na Europa o transporte publico é de muito boa qualidade, porém vale ressaltar que pra quem mora na periferia é bem mais complicado. Morando dentro de Paris não se precisa de carro de jeito nenhum! Até com bebês e crianças da-se um jeito (é verdade que as escadarias do metrô dificultam com o carrinho, mas todos os ônibus são preparados pra eles). Mas quem mora um pouquinho mais afastado tende a comprar um carro. Na casa dos meus sogros, periferia de Toulouse, passa um ônibus a cada 1h, até às 19h então, né, um carrinho é necessario. Mesmo nos suburbios de Paris que tem trem, eles chegam tão lotados e dão tanto problema que às vezes é preferivel encarar o engarrafamento.

    No Brasil minha mãe sempre teve carro, nem imagino a vida dela sem um: me levava pra mil e uma atividades, sempre sozinha. Agora, não sei se quando voltar vou comprar um, primeiro que não gosto de dirigir, segundo que acho que é mais perigoso ser assaltada, terceiro da muita despesa! Mas como vamos morar em BH, la tem tanta cidadezinha bacana em volta que não quero perder a oportunidade de viajar nos fds.

    Uma coisa é certa: minha prioridade de alojamento é a proximidade do trabalho. Detesto perder tempo em transporte, seja ele qual for!

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  10. Você descreveu tudo o que eu penso em relação a ter um carro ou não. Eu também consegui tirar carteira muito tarde, só aos 21 ela chegou aqui em casa. Lógico que eu sempre sonhei em ter meu carro, sair por aí e poder chegar em casa a hora que eu bem entender,mas, levando em conta os custos disso tudo, será que valeria a pena? Não sei.
    Eu sou como você, adooooro ver as pessoas na rua e gosto mais ainda de vê-las evoluindo. Coisa que eu não acompanharia trancafiada em um automóvel acompanhada só de uma musiquinha que às vezes nem me faria tão feliz.
    Por mais que seja necessário, me conforta saber que tem pessoas que pensam como eu... eu não preciso de um carro agora, não mesmo. Preciso sim é conhecer gente nova, ver pessoas na rua, aprender as diferenças desse mundão por aí.E, quem sabe, nessas idas e vindas de ônibus eu conheça pessoas especiais que mereçam andar no meu carro um dia. :)

    Adorei seu post!

    Beijos.

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  11. 32 anos sem habilitação.Mais uma.
    Minha família nunca teve carro. Meu pai tinha, mas ele não morava conosco, so...

    Nós crescemos num bairro super periférico, 1 h pra ir e outra pra voltar da escola, 1h30 da faculdade, em pé, ônibus LOTADO. Horrível.

    Aí qdo eu comecei a trabalhar (e ganhando uma merreca que não dava pra manter carro) pegava taxi quase todo dia, porque eu tô pra ver cidade com pior transporte público do que Salvador.

    Me mudei de lá muito por causa do transporte público (e do calor). Porque voltar pra lá depois de ter passado um tempo em Madrid, que tem transporte excelente, aumentou demais o meu grau de intolerância. Aqui eu não preciso mesmo de carro: moro no centro e gasto 15 min de ônibus pro trabalho.

    Quando as pessoas comentam que não entendem como eu consigo viajar tanto, primeira coisa que eu digo: "Olha só, tudo é uma questão de prioridades, né? Veja você que nem carro eu tenho"

    Mas tirar habilitação e comprar carro tá bem no topo da minha lista agora porque... né? Eu tô indo morar em Brasília. E nesse sentido, Brasília é muito pior do que Salvador.

    (mas ainda vou tentar morar bem pertinho do trabalho. prefiro investir meu dinheiro em passagens aéreas...hohohoho)

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  12. Toda vez que a gente comenta sobre ter ou não ter carro, vem uma discussão junto que é ter ou não ter carteira de motorista - e isso pra mim é interessante porque eu acho que todo mundo tinha que ter carteira. Simples, porque um dia ela pode ser necessária pra uma emergência, pra uma conveniência ou pra uma auto-indulgência mesmo. Claro que com o preço de uma carteira de motorista, essa coisa fica meio de lado mesmo pra quem não tem possibilidade de comprar/usar um carro com frequência.

    Mas acho que isso tem mais a ver com a própria visão que a gente aprendeu a ter do carro, mais como propriedade/patrimônio do que como meio de transporte, como se o carro fosse uma extensão da casa, um elevador horizontal e que faz ziguezague.

    Acho que é por isso que é tão frequente eu perguntar pras pessoas: "mas por que você não se muda pra perto do trabalho/escola ao invés de comprar um carro?" e receber de volta aquele olhar vazio dizendo: "e ficar sem nada de meu?"

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  13. Barbara,

    Acredita que eu não tinha visto a reportagem? Este post tava na fila já há algum tempo, o timing coincidiu. E é esse o espírito da coisa, não é ativismo, é perceber que em alguns casos o carro não é vantagem nenhuma, pelo contrário.

    Amanda,

    É, eu não vivia em Paris, então sei que há lugares em que a situação é mais complicada. Na periferia onde eu morava até que o trem funcionava bem (mas tinha muita greve) a estação era perto, tinha ônibus noturno, mas tinha gente que morava em lugares isolados. Mas o meu ponto é justamente sobre as grandes cidades. E claro, concordo com você, é legal ter um carro pra passear no final de semana. Mas ter um carro não significa locomover-se exclusivamente com ele, né?

    Moça que comentou depois da Amanda, seu nome não apareceu pra mim :(

    Mas é por aí. Carro é legal também, claro, normal querer ter carro. Mas é bacana perceber as outras possibilidades.

    Dani,

    Parece que transporte coletivo não é realmente o forte de Brasília, mas de repente você dá sorte. E concordo com você: prioridades. Eu ganho (relativamente) bem, mas passo longe de ser rica. Tem muita coisa bacana que eu não teria feito na vida se tivesse prestação + combustível + IPVA + seguro + manutenção pra pagar. Prefiro, como você, gastar em viagens. ;-)

    Moraleida,

    Concordo muito. Eu tenho habilitação. E acho que só não vale a pena pra quem tem uma restrição orçamentária importante e nenhum acesso a carro, ninguém na família, nenhuma possibilidade de alugar um dia pra fazer um passeio. Demorei pra ter porque eu tenho medo de dirigir, mas acho super útil mesmo.
    "Ter algo meu". É, já ouvi algo assim. O que dizer... Triste, né?

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  14. Oioi! Primeira vez que estou entrando no seu blog e já gostei do que li... =)
    Eu tenho carro mas só uso pra fazer trajeto casa-trabalho-casa. E mesmo assim meu carro está no conserto há 2 meses (já está pronto há 1 mês mas eu não vou buscar por preguiça) e eu nem sinto falta. Pra passear no fds eu prefiro muito mais transporte público. Vou lendo, ouvindo uma musiquinha, olhando a paisagem... e pra ir pra balada eu prefiro táxi, já que eu bebo. Logo, só uso pro trabalho, e vou te contar que nem estou sentindo falta!

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  15. Tenho feito trechos longos a pé, gosto mesmo de andar e me prepara para um dia estressante de trabalho. O mais interessante é que teve uma época que eu ia da Chácara Klabin até Higienópolis de carro, 1 hora de 40. Comecei a fazer o mesmo trecho a pé, 2 horas. De carro, R$ 25 entre combustível e estacionamento, a pé R$ 0.
    De carro, Paulista congestionada, a pé, Alamedas, ruazinhas, cafés e um túnel sob a Consolação que abriga um sebo e uma área de arte urbana.
    Tenho carro e quero me livrar dele, mas é incrível a pressão que as pessoas ao redor fazem para manter um carro. A cada comentário as pessoas te acham um miserável e agem como se quisessem me emprestar dinheiro. A cidade seria muito mais enxuta se as pessoas andassem.

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  16. Hoje em especial fiquei mais de uma hora esperando o ônibus pra ir pra faculdade, que atrasou devido ao incêndio na cidade do samba. Passaram 2 tão lotados q nem sequer pararam. Claro q foi um dia atípico, e no meu caso ñ fez tanta diferença pois fui apenas assistir a uma palestra. Mas com certeza se eu tivesse no papel da palestrante isso seria mt constrangedor. Concordo plenamente com td o q vc disse, minha família tb não tem carro, mas já passei mal momentos por isso, inclusive precisar incomodar pessoas pra ir a médicos, já que até táxi é difícil por aqui. São mts coisas a serem levadas em conta, q é difícil generalizar e dizer o que é bom ou ruim.

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  17. Fernanda,

    É esse o ponto. Se não faz falta, é porque não é assim tão importante, né?

    Bruno,

    Higienóplis à Chácara Klabin é chão, hein? Mas entre caminhar 2h00 e se arrastar 1h40 de carro, não tenho dúvidas também. A pé a gente muda o caminho, pára, toma um café, liberdade, né? E olha, eu te entendo muito. Tenho uma tremenda sorte de vir de uma família que não encara a coisa assim, mas eu sei que aqui em SP é isso que o povo entende: só não tem carro quem tá na merda, tadinho.

    Anônimo,

    Olha só, minha intenção aqui não foi dizer que o carro não é necessário que todo mundo pode viver bem e tal. Eu sei que tem lugares em que a coisa é complicada. Mas quando é simples, o povo trata de criar dificuldade, e a isso que eu me oponho.

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  18. Oi, Iara,

    é impossível morar nos suburbs americanos e não ter carro. Os condominios foram planejados pra quem tem automóvel. Não existe taxi e o metrô cobre a região metropolitana de Chicago. Até as fármacias são adaptadas pra atender o cliente que não precisa sair do carro pra pagar-pegar o remédio. No centro de Chicago reina os táxis e todos usam o sistema do metrô. A gente vê a diferença entre o pessoal mais saudável andando, exercitando no centro quando nos suburbs a gente só vê carros e nem sombra de ciclovias, por exemplo. Os suburbs não foram pensados pra quem não tem carro.

    E são SUV beberronas de gasolina. Daí o país tá assim lindo, com muita poluição e zilhões de obesos que não podem e não são estimulados a tirar o traseiro do carro e dar uma volta a pé.

    bjs

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  19. Concordo com teu texto (de ponta a ponta).

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  20. Não sei o que dizer. Ontem mesmo eu estava no ônibus e odiando a humanidade. Trânsito infernal, calor infernal. Eu demoro DUAS horas pra chegar na minha casa. O trajeto que eu fazia há 10 anos Freguesia do Ó-Lapa em 20 minutos, transformou-se em 1 hora. Eu fico muito nervosa, de modos que não sou preguiçosa. Já fiz trajetos longos a pé, só pra não pegar busão lotado ou metrô. A grande vantagem que as construtoras costumam alardear é: more perto do metrô!! EU NÃO!!! Só pego metrô se estiver com muita pressa. Meu deus, que nojo, que aperto, que calor. Sem falar naquelas barras de ferro "oleosas". Urgh! Olha. Eu não tenho carro PORQUE TENHO PAVOR DE DIRIGIR. Mas sinceramente? Eu gostaria de um carrinho com ar-condicionado, mas tenho que fazer tratamento psicólogico antes. Mudarei para a Pompéia em breve, aí o sofrimento diminuirá, 40 minutos pra chegar no trabalho, mas por enquanto estou pagando todos os meus pecados. Nossa. Reclamei muito. É que eu tô put* até agora por causa de ontem. Não sei se é impressão, mas depois do advento do bilhete único tudo "piorou". Será que antes essa multidão andava a pé pra não pagar busão? rs Tem dia que eu acordo odiando São Paulo!

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  21. Também assino em baixo do teu texto. Em Porto Alegre, não tinha carro e morava num bairro boêmio perto do centro e ia para todo lugar (todo, literalmente) caminhando. Moro em SP há dois anos e optamos por não ter carro, é um alívio! Te juro que quando pego o trem (que agora está funcionando com um trem duplo na minha linha, então, está mais vazio), com ar condicionado, novinho, e olho ele passando a mil pelos carros parados na Marginal Pinheiros, eu não entendo esse povo, cada um no seu carrinho. Concordo quando tu fala dessa "obrigação" de ter um carro. Às vezes me sinto um ET diante da reação das pessoas por não ter um. Mas isso só ocorre aqui em SP, quando morava em Porto Alegre isso era visto como normal. Acho que as pessoas aqui têm um apego muito maior ao carro do que em outras capitais...
    E finalizando, sobre a Europa: foi o único lugar onde eu e o maridón precisávamos de carro! Morávamos em uma cidade pequena e ele trabalhava numa zona industrial, não passava ônibus, então, éramos obrigados a ter um. Fora que para ir para algumas praias, por exemplo, também não tinha ônibus :/

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  22. Me identifiquei DEMAIS com este post! Minha vida é muito parecida com a de vocês, morando numa boa região de Sampa, usando bike para nos locomover e sem nuncar ter pago IPVA na vida e direcionado esse dinheiro para coisas muito mais divertidas e saudáveis como esportes

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  23. Adorei seu post. Tenho carro e acho um absurdo o que pagamos. Como trabalho em horários alternativos, acabo precisando do carro, mas durante o dia faço tudo a pé e de transporte público. Vale muito a pena. Quero compartilhar seu post, posso?

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  24. Uma beleza de post, minha linda. Eu tenho cá pra mim que o clima faz uma bela diferença (junto com o acesso e conforto do transporte público). Lugares de clima ameno me incentivam a caminhar. Comprei uma casa perto do trabalho pensando em ir a pé. Acontece que 7hs da manhã já tem temperatura de 33graus. Não dá, sorry. E não passa ônibus nem táxi nem nada, rsrsr. Resultado? Fazer um trajeto de 08 minutos de carro ou chegar ensopada, né? Bjs

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  25. Eu esqueci de dizer que teu blog tá LINDO!
    BJ
    rita

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  26. Olá Lara,

    Impressionante como seu texto é muito parecido com a defesa que eu sempre fiz sobre o assunto!!! Muito obrigado por me fazer não parecer tão estranho por ter 23 anos e a ausência completa de vontade de tirar minha CNH!!!! Tenho uma renda razoavelmente boa mas mesmo assim dirigir não me atrai, seja por fatores finaceiros, seja por vislumbrar a desnecessidade no dia-a-dia e também pelo lado de humanização que mencionaste em andar a pé e nos coletivos.

    Espero ter a sorte de arrumar uma companhia tão desprendida como tens!!!

    Muito bom o texto!!! Acabaste de arrumar um leitor fiel de seu blog.

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  27. Eu nunca tive um carro. As pessoas acham impossível, mas o fato de ter conseguido viver até hoje sem ele mostra que sim, é possível. A vida sem carro é dificultada pela péssima qualidade do transporte público brasileiro, mas mesmo assim, contrariando tudo e todos, eu acho que temos mais qualidade de vida sem carro. Procurar vaga, engarrafamento, pagar estacionamento, impostos, aguentar gente estressada e ficar trancafiada dentro do carro e de 4 paredes em casa e no trabalho, pra mim são coisas que depoem contra o carro, sem dúvida. Eu só preciso de carro pq existem lugares em Brasília que um ônibus não passa, de jeito nenhum. Mas nesse caso, sempre consigo uma carona ou pego um taxi, inclusive para ir e voltar das baladas uso o mesmo recurso.

    Estou "hospedada" na casa da minha mãe e as pessoas aqui são criaturas sob 4 rodas. Em uma semana que estou aqui já me sinto sufocada. Sinto falta de caminhar, de ar puro, de ver gente, de relaxar... Acho que abrir mão do carro é ganhar em qualidade de vida, ser menos individualista e direcionar os bastos para o que realmente importa.

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  28. Oi Iara
    Olha tem muitos bairros por aqui que nem calçada tem. A grama dá direto na pista. Os sinais pra pedestres, só em área que tem escola perto. É um sofrerrrrr... Mas seguimos sem carro. Como eu tenho filhas ainda pequenas que não dão conta tão bem de uma caminhada, sinto falta e outra coisa, as distâncias aqui são horríveis, mas já me passaram coisas impossíveis nessa vida de andar pra todo lado, primeiro a solidariedade (sempre outras mulheres me oferecem carona) e o melhor de tudo, uma senhora já parou o carro pra me pedir uma "ajuda pra gasolina dela", impagável, não?
    Fora a matemática de crianças+ bolsas+espera em parada (aqui o tempo de um ônibus pro outro é de 1/2h, perdeu tá lascado)+transporte lotado, eu concordo principalmente que andar humaniza.
    Bj

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  29. Genet, cês não tem idéia da DELÍCIA que é voltar depois de uns dias offline e ver a caixa assim cheia. =D Vamos lá:

    Mari,

    Como eu falei antes, é uma questão de viabilidade. E eu tô ligada que você tá num país que foi feito para os carros. Ouvi dizer que tem cidade que nem tem transporte público, só o ônibus escolar mesmo. Daí, complica bastante, né?

    Bruno,

    Obrigada e volte sempre. =D

    Rita,

    Olha só, quando a questão é entre levar 20min ou 2h, acho que não dá mesmo pra comparar, né? Sobre o aperto, vou te dizer que eu sou uma pessoa que reramente se incomoda além do momento em que estou lá. Quer dizer, mesmo quando pegava linhas mais lotadas, eu não penso nisso além do tempo em que estou lá. Mas como eu te disse, eu jamais enfrentei situações muito extremas, então, pra mim, funciona. Mas se fosse um consenso de que o transporte público em São Paulo funciona e as pessoas só usam carro por luxo, tinha nem razão de ser este post, né?

    Helena,

    Pelo seu comentário, acho que pegamos o mesmo trem. Né? O Nosso tem até ar condicionado? Tá bom que eu vou trocar porque ficar horas parada na Marginal. Uma vez, numa sexta-feira, eu e marido ficamos 1h sem andar 100m na Pinheiros. Oi? Prefiro ir apertada mas sair do lugar...

    Lex,

    Com a bicicleta você ainda se exercita. Tenho o maior respeito por quem ecara bicicleta em São Paulo. Confesso que eu tenho medo, mas não é uma idéia que eu descartei não. Quem sabe no futuro?

    Sarah,

    Pode compartilhar o post, sim! E como eu disse, nada contra o carro. Mas achar que carro = perna e ser dependente dele pra qualquer deslocamento é muito triste...

    Lu,

    É, imagino que em terras onde o calor é muito, mesmo 1,5km de caminhada pode ser inviável. E sei também que quanto menor a cidade, mas complicado é o transporte coletivo.

    Rita,

    Eu curti também meu lay-out. Uma coisa meio azulejo antigo, adoro.

    Mathues,

    Obrigada! É, a gente fica se sentindo meio ET com a pressão alheia, mas você não está sozinho, acredite! =D E volte sempre mesmo, viu?

    Drixz,

    Tô ligada que em Brasília tem lugares bem complicados. Mas como você mesma diz, se você na maior parte das vezes não usa carro e uma pessoa produtiva e tranquila, impossível não é, né? E se você for morar numa cidade grande na Europa, vai adorar e ficar mal-acostumada, porque funciona muito melhor mesmo.

    Rosa,

    Encostar o carro pra pedir dinheiro pra gasolina pra um pedestre? Como alguém pode ser tão cara de pau!
    E olha, se você mora num lugar hostil aos pedestres e ainda tem crianças pequenas, saiba que eu tenho muito respeito por suas dificuldades. E acho que é justamente a cultura de que todo cidadão deveria ter um carro que prejudica a vida de quem não tem, o triste é isso. O pedestre é desprovido de cidadania em alguns lugares, é essa a realidade. Não sei como muda isso, mas faço a minha parte não naturalizando esse mentalidade sem questionamentos.

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  30. Olha, francamente, eu acho que esse negócio de não se importar com trombadas, sorrir, ser humanizado pelo trem etc. são coisa de comuna maluco, daqueles que falam que água fervida é bem mais gostosa, interessante e culturalmente enriquecedora que a filtrada. Toda vez que eu pego o trem, pelo menos, eu fico horrorizado e tenho vontade de virar homem-bomba, porque só vejo a galera se chutando. Chegar em algum lugar cheiroso e arrumado é utopia, depois de duas horas espremido com gente suada.

    Dito isso, eu concordo com você em quase tudo. Essa idéia de que carro é necessidade incontestável é uma das maluquices da era moderna. Outra maluquice é esse mesmo carro sair mais barato e rápido que o transporte público, em muitos cenários. Uma terceira maluquice é a grande maioria das pessoas ter carros para serem utilizados quase que exclusivamente em cenários financeiramente desvantajosos.

    Já tive carro, moto, bicicleta e, claro, meus pés como veículos exclusivos e junto-me ao coro para confirmar que o carro foi a pior relação custo/benefício que já experimentei. Passei para a moto depois de perceber que eu podia arrastar só uns 100kg de metal em vez de uma tonelada pra onde eu fosse. Depois, com a bicicleta, só vinte. Claro que, pelo que eu experimentei, a bicicleta está longe de ser viável em São Paulo, a menos que você seja um guerrilheiro(a), por uma soma de velocidade incompatível com as dos demais veículos, a menos que você seja o Hulk, com motoristas folgados e impacientes que não pensam duas vezes antes de te empurrar pra fora da pista (de novo, a menos que você seja o Hulk. Na verdade, ser o Hulk resolve grande parte dos problemas de transporte, então fica aí uma dica). Mas voltando ao carro:

    De longe, para o meu tipo de utilização, o melhor tipo de transporte, dentro de São Paulo, foi a moto. O trecho que eu gastava duas horas e dez reais para fazer de ônibus (ainda não tinha bilhete único na época) e uma hora, dez minutos e sete reais (combustível apenas) de carro, eu passei a fazer em quarenta minutos e dois reais e cinqüenta centavos (novamente, só combustível) de moto. E já era visto como esquisito pelo pessoal, porque moto é coisa pra entregar pizza, não dá pra enfiar dentro todas as compras do mercado e é ruim de dirigir bêbado (argumento verdadeiramente apresentado). Ficar a pé, então, é visto como mais esquisito ainda.

    Mas, e aqui voltando a concordar com você, morando próximo dos meus compromissos, o dinheiro gasto em locomoção passa a ser zero e o tempo gasto diminui também sensivelmente. E, em muitos casos, nem sequer representa uma dispêndio financeiro maior. Mas exige muito tempo, porque a mesma mentalidade esquisita que costuma levar as pessoas a comprarem carros as leva também a encher a casa de tralhas. Tralhas que depois ficam difíceis de se mover pra lá e pra cá e que não vão caber em lugares pequenos, então a mudança acaba sendo trabalhosa.

    Só pra finalizar o discurso não necessariamente muito conciso ou coerente, eu já vi uma famíla com dois carros na garagem e uma casa enorme passando por problemas financeiros. Ir para um lugar menor ou vender veículos eram coisas impensáveis. E já ouvi um solteiro de vinte e X anos dizendo que com três mil reais de salário não se fazia droga nenhuma. Bom, dá pra suportar a indústria do petróleo, a indústria automobilística, a indústria fiscal, uns vários funcionários responsáveis pela limpeza e manutenção do condomínio, a administradora que os contratou e um funcionário exclusivo pra limpeza pessoal do interior do apartamento. Depois disso tudo, realmente, com o que sobra dos três mil não dá pra fazer muito, mas eu já acho que foi coisa feita até demais.

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  31. Oi, Iara!

    Nem vou falar que adoro os seus posts porque já falei várias vezes que adoro suas mensagens lá no grupo, então já tá ficando tedioso, né? (rs)

    Mas nos últimos meses conheci você e várias outras pessoas que não têm carro e, poxa, já não me sinto tão estranha! Concordo demais com a humanização da caminhada, e mais, adoro espiar as casas das pessoas, os jardins, coisas que você não faz quando está dirigindo.

    Eu tenho a sorte de trabalhar em casa, mas é fato que quase toda a rotina da gente é adaptável à ausência do carro. Muitos supermercados entregam as compras sem cobrar nada por isso. Voltar de táxi do cinema ou do barzinho, à noite, é mais seguro e cômodo do que dirigir, e somando tudo no fim do mês, não sai mais caro. A parte chata é que os táxis não aceitam cachorros, então Pitanga e Capitu não podem passear muito. (rs)

    Veja, a visão da maioria das pessoas aqui é a de valorizar o espaço público e pelo menos reconhecer que há outras possibilidades de transporte que não o individual. Mas o que me espanta de verdade é que, em outros agrupamentos sociais, o negócio do status é tão insano, que sinceramente, tenho dificuldade de entender como uma pessoa tem a coragem de dar 50 ou até 100 mil num carro. E é fato, presta atenção às propagandas da TV e do jornal, é impressionante a quantidade. Se você não tiver um pouco de juízo, você se sente um ser de outro planeta mesmo.

    Beijos!

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  32. Gustavo,

    O comentário idílico da humanização tem mais a ver com andar a pé ou no transporte não muito cheio - e nisso eu tenho uma tremenda sorte, porque costumo utilizar o trem num horário em que é possível apreciar a viagem, sem necessariamente morrer de pressa e calor. Mas, né? Me reconheço como privilegiada, claro.

    Cecília,

    Tão fofa você, me elogiando! Mas eu entendo completamente essa sensação de ET, porque ela me acompanha. Parece que quando você tem determinada renda, é obrigada a se adequar a determinados padrões de consumo pra não chocar as pessoas. Eu acho que dinheiro tem que me trazer novas possibilidades, não reduzi-las. Então, sim, o carro é uma possibilidade, mas eu escolhi a outra, que é não tê-lo. Qual a dificuldade das pessoas de entender isso?

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  33. Já ouviram falar do compartilhamento de carros?
    Aqui em São Paulo, existe uma empresa que oferece esse serviço, é muito legal esse conceito.
    Funciona da seguinte forma: Você aluga um carro e paga apenas pela hora de utilização com gasolina e seguro inclusos nos preços dos planos, e os carros ficam estacionados em vários pontos da cidade. Dessa forma, é possível fazer tudo pela internet, reservar o carro e ir até o ponto onde ele esta estacionado e depois sair dirigindo.
    E no fim das contas, é uma conceito sustentável, pois várias pessoas compartilham o mesmo carro.

    www.zazcar.com.br ( A Zazcar é a primeira empresa do Brasil de compartilhamento de carro)

    Nos EUA tem a Zipcar, no Canadá Autoshare. No mundo inteiro esse sistema funciona muito bem, pois diminui carros nas ruas e gastos no bolso na hora de compara um carro.

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  34. Lara, não sei como fui cair no seu blog, mas achei sua experiencia interessante e resolvi também postar a minha.
    Meu nome é André tenho 45 anos, moro em São Paulo, sempre tive carro desde os 18 anos e antes já dirigia também - e fiz tudo de carro.
    Atualmente tenho 2 carros, acho que 1 já é suficente mas minha esposa - por causa do rodizio - não abre mão de ter 2 - o engraçado que apesar de termos 2 carros só usamos 1 deles nos fins de semana e quando eventualmente fazemos 1 viajem. Vamos ao trabalho todos os dias de Trem/Metro - afinal minha casa fica a 300 mts da estação de trem e fazendo integração com metro ando ao todo cerca de 5 quarteirões para chegar ao trabalho. Deixei de ir trabalhar de carro não pelo custo - pagava gasolina+estacionamento mas pelo tempo e tranquilidade que ganho usando o transporte público. Adeus ao trânsito e stress de dirigir - o que eu demorava para fazer em 1:20Hs hoje com trem e metro faço em 35 minutos - estou no céu (lógico o transporte público não é nenhuma maravilha - mas é a cruel escolha que temos que fazer - vc. prefere sofrer no transito ou no transporte público?) O problema é que não dá para viver definitivamente sem ter 1 carro. Tenho 2 filhos e vc. nunca sabe quando vai pintar uma emergencia. Mercado com carro também é ótimo assim como viajens e saidas com a familia fim de semana. Algo que venho notando em São Paulo é o afastamento da política em prol dos pedestres, ciclistas, e transporte público - ruas são asfaltadas, marginais duplicadas, Novas vias criadas porém nada de ciclovias ou largas e arborizadas calçadas - trens e metro nem se fala cada vez pior. Parece que os politicos só governam para quem tem carro. Na verdade só os motoristam interessam - afinal são uma fonte inexóravel de arrecadação - alimentam a industria das multas, dos impostos, petroleira automobilistica etc, porém não se dão conta que podem construir quantas vias quiserem, alargar, duplicar, ou triplicar ruas avenidas e Marginais - isso tudo nunca vai resolver pois cada vez que houver uma sensível melhora na fluidez do transito logo mais motoristas aparecem. Hoje dirigir para mim é uma verdadeira tortura - mesmo nos fins de semana, radares infestam as vias obrigando a gente a andar "amarrado" - sinto-me "vigiado" e perseguido. Semaforos em cada esquina, camaras, Buracos sem fim, e ainda nos fins de semana o maldito transito - hoje que estou sem usar o carro diariamente posso dizer que o motorista é a bola da vez do Poder Público. No fim penso ser algo insano um motorista ter que se sujeitar a tanta regra, tanta fiscalização, falta de qualidade das ruas, tanto farol e tanto trânsito a troco de "nada" - e ainda correr o risco de ser multado por q.q coisa. Na verdade nestes ultimos 10 anos os governantes conseguiram fazer com que dirigir seja algo desgostoso, aborrecido, torturante, estressante - um nojo. Se for assim prefiro sofrer no trem, no metro, onibus ou a pé mesmo - pelo menos ainda não pago multa, não bato o carro, não preciso pagar seguro, controlar, IPVA, etc...etc...ah é o melhor...depois que deixei o carro em casa - já faz 3 anos - emagreci 5kg, não sei o motivo mas é verdade.

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