segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Dos medos...

... ou: post-terapia

Tenho pânico de duas coisas banais: dirigir e voar. O medo de dirigir foi causado por um estresse pós-traumático: em 2004 fiz uma conversão proibida por distração e me envolvi num acidente cujo saldo foi perda total dos dois veículos envolvidos, mas felizmente nenhum ferido. O medo de voar eu tenho desde 2001, quando voei pela primeira vez. Assim que o avião decolou, fiquei assustadíssima. Estava sozinha (digo, sem ninguém conhecido), olhava para os lados e tentava me tranquilizar imaginando que se todos estavam calmos, era porque as coisas funcionavam daquele jeito mesmo.

Pelo menos superficialmente consigo identificar os motivadores dos meus medos. Ao dirigir, o problema é estar no controle de algo que, se mal conduzido, pode matar (o carro no qual colidi quando fiz a tal conversão proibida transportava um pai e seu filho de uns 18 meses sem cadeirinha especial). Sinto que não dou conta dessa responsabilidade imensa e entro em pânico. Pelo andar da carruagem, vou ter que fazer terapia, ou no mínimo aquelas aulas especiais. Como não é prioridade agora, tá aqui na lista de coisas a serem resolvidas no futuro.

Com o avião, o problema é exatamente o oposto. Entrou lá, fechou portinha, cabô. Controle nenhum. Nada tá na minha mão. E se alguma coisa der errado (ok, eu sei que pra um avião cair mais de uma coisa precisa dar errado), a chance de morrer é enorme. Eu tinha uma esperança de que este medo fosse causado só pela total falta de intimidade com a coisa. Mas já voei algumas vezes nestes últimos 10 anos e não passou. Na minha ida a Brasília, fiquei muito nervosa na decolagem, mas no decorrer do vôo me tranquilizei. Na volta, tentei ao máximo relaxar. Quando estava quase conseguindo dormir, uma turbulência sacudiu o avião sofri muito pensando que tudo tinha sido tão lindo, mas queria ainda poder encontrar meu marido e voltar pra minha casa.

Daí que me caiu a ficha de algo quer pode justificar meu medo: culpa. Culpa de ser feliz pra CARÁLEO. É como se algo lá no fundo me passasse a conta de tanta felicidade, sabe? Porque eu tive um final de semana incrível e a oportunidade de encontrar pessoas muito amadas. Além da Ma*, sobre quem eu já falei aqui e sua família incrível, teve a Bia, a melhor anfitriã da terra, o César, queridão até não mais poder, a Lu, com quem já tenho uma relação de amor presencial muitíssimo consolidada, a Dani, com quem interajo na internet há tempos, a Rita, que fez um bate-e-volta só pra nos prestigiar e a Mari, que foi quem nos motivou a fazer a viagem (afinal, pra Brasília não precisa de visto, já pra Chicago...).

Depois deste final de semana lindo, achei que era pedir demais que meu time fosse campeão, até pra amenizar a dor da torcida que perdeu um ídolo cujo valor vai muito além do talento no futebol. Mas bem, ganhamos. Daí só faltava mesmo, mesmo, mesmo, pro mundo ser perfeito, desembarcar em segurança e dar aquele abração no companheiro mais bacana do mundo (sério, pelo abraço parecia que estávamos há umas duas semanas longe um do outro). E, beleza, cheguei, abraço ganho. Como pode tudo ser tão lindo?

Então é isso. Cada vez que eu estou num avião penso que nunca mais vou fazer isso comigo e vou desistir definitivamente dessa história de voar. Mas a vida me mostra que vale muito a pena enfrentar o medo. Até porque, ninguém vive pra sempre. Se para o azar das probabilidades um dia eu estiver num avião que cismar em cair, pelo menos vivi bem pra caramba.




Obrigada, SUAS LINDAS, por fazer valer a pena!

* Quando escrevi este post sobre ela em 2010, ela vivia na França. A Dani, que vivia em Angra e a Rita, que mora em Florianópólis, comentaram na época. Menos de 1 ano e meio depois, estavam todas almoçando na mesma mesa. Coisa boa.

7 comentários:

  1. Sério, Iara?!
    Ai. Eu nunca andei de avião, mas tenho fé que esse dia vai chegar. ASHUAHSUAHSUHAUSHUAHSUHAHSA Sou louca pra sentir essa sensação de "voar" e também de dirigir, mas nem meu tio, nem meu pai, se habilitaram a me ensinar os primeiros passos até eu tirar a carteira mesmo. Mas enfim, que lindo que você enfrenta seus medos, mesmo com receio e um pouco de... resistência. Não sei se essa é a palavra.
    Bom. Resta-me dizer que fiquei aqui olhando a foto e pensando: Nossa. Como eu queria estar nessa fotografia com elas. Porque, né?! São vocês as minhas "influências".

    Um beijo enormeeeeeee!

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  2. Aihn, tô tão gata nesse foto...hahahaha

    Flor, você é melhor do que eu esperava: mais elétrica, mais engraçada, mais fofa, tem a risada mais gostosa. Foi tão bom, tão bom! Que bom que você veio. Espero outras oportunidades de sermos bem felizes juntas no futuro!

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  3. menina, ninguem entende nao que carro eh arma mortifera? tirei minha carteira de motorista e ela soh enfeita minha carteira. nao tenho a menoooorr vontade de dirigir. posso matar alguem de qq forma, mas com o carro parece ser mais facil, por isso, deixo quieto. vou desaprender a dirigir, mas a certeza de que nao matarei ninguem faz com que eu releve essa possibilidade (de esquecer de como se dirige).

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  4. Ainda estou quicando de inveja com esse encontrinho. Sobre os medos: adoro voar, sentir o avião subindo, descendo, entrando numa "estrada" diferente. Turbulências me divertem. Quero dizer, nem tanto depois da queda do avião da Air France. Mas não ligo, mesmo, só sinto medinho no pouso - e como os pilotos brasileiros pousam mal, afe. Já o medo de dirigir era pânico. Até o dia que enfrentei e comprei meu carrinho. Sou muito distraída e morro de medo de errar. Mas até agora tá tudo bem e o carro virou minha "bolha" musical. Eita, nem era pra escrever tanto.

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  5. E eu fico aqui me perguntando como juntar tina, lu, luci, iara, dani...

    vou viciar nesse negócio.

    bj
    rita

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  6. Dizem que o importante, quando se trata de medos, é nunca deixar de enfrentar. Respirar fundo, pensar no que vem depois, ir lá e fazer o que tem que ser feito. Seja dirigir, voar ou ser feliz.

    P.S.: A gente conversou, meu medo de voar é igualzinho ao seu. Eu inclusive descrevo nos mesmos termos: o que dói é a falta de controle, é estar a sei lá quantos mil pés de altura, nas mãos de alguém que pode ter dormido mal ou estar meio distraído. Mas, no meu caso, o medo só mostrou as garrinhas depois que saí da casa da minha mãe e vim pro Rio. Acho que estar solta na vida piorou o medo de cair...

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  7. Glorinha,

    Com a sua idade eu ainda não tinha voado. Aliás, acho super bonitinho quando você fala das coisas que ainda não viveu. Acredite: o intervalo entre o os 20 e os 30 anos costuma ser mais agitado que os anos anteriores. Ah! E tomara que você curta voar! ;-)

    Dani,

    "Tá", gata? Discordo. Você é linda! E só posso retribuir os elogios. Adorei a sua leveza e o seu sorriso. Torcendo pelas novas oportunidades.

    Lu,

    Acho que o dia em que dirigir for muito importante pra tocar minha vida, vou tentar superar o trauma. Porque, tal qual a maioria dos aviões não cai, a imensa maioria das pessoas nunca vai se envolver num acidente fatal. Mesmo as lesadinhas como nós.

    Tina,

    Então, o medo de dirigir veio depois que eu já dirigia de fato, daí complica. Sobre voar, acredita que o pouso é o momento em que fico mais tranquila? Completamente irracional, já que é o momento em que ocorre a maior parte dos acidentes, mas o alívio de voltar pra terra é enorme!

    Rita,

    Também vou viciar. Mas acho que entendi que a vida vai providenciar outro encontro sem a gente se planejar muito, como foi com esse. Uma hora as circunstâncias vão contribuir de novo e a gente só vai precisar fazer uma forcinha.

    Deborah,

    Olha, eu juro que tento, mesmo. Mas já tive crise de pânico ao volante, então nem sempre arriscar é seguro. Só que eu não vim a esse mundo pra ficar me colocando limites intransponíveis. O momento de superar este medo virá também com certeza. É importante também a gente identificar este timing. E, como eu já disse, não tá atrasando minha vida, então beleza!

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